Contaminação

Estudo detecta elevados níveis de mercúrio em peixes no Amapá

Todos os peixes analisados na pesquisa apresentaram níveis detectáveis de mercúrio e 28,7% excederam o limiar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para consumo humano

Com informações da Fiocruz

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
(Amapá)

Amapá - Um estudo realizado pelo Instituto Fiocruz no Amapá sugere que os hábitos alimentares das populações locais, que incluem a preferência por peixes carnívoros, está agravando a contaminação por mercúrio, que usado na mineração artesanal de ouro em pequena escala. Todos os peixes analisados na pesquisa apresentaram níveis detectáveis de mercúrio e 28,7% excederam o limiar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para consumo humano.

Quatro das sete espécies com as maiores concentrações de mercúrio estão entre as mais consumidas na região. O nível mais alto foi detectado no Boulengerella cuvieri (pirapucu), seguido por Cichla monoculus (tucunaré) e por Hoplias aimara (traírão) - todos peixes carnívoras. Como predadores, os peixes carnívoros bioacumulam grandes quantidades de mercúrio ao longo de seu ciclo de vida.

Realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), do WWF-Brasil, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa) e do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), o estudo foi publicado na Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública. Os resultados sugerem que a preferência local por espécies de peixes carnívoros apresenta um sério risco à saúde.

Este é o primeiro estudo com recomendações claras para reduzir a exposição ao mercúrio através do consumo de peixe no Estado do Amapá. A proposta dos pesquisadores é que o consumo das espécies de peixes carnívoros não exceda 200 gramas por semana, com atenção especial ao consumo de mandubé, pirapucu, tucunaré e trairão, que devem ser ingeridos uma vez por mês.

“O estudo traz dados contundentes sobre o nível de destruição que o garimpo do ouro está promovendo na Amazônia. Já tínhamos noção do quanto o garimpo destrói a floresta. Agora, temos mais evidências do quanto ele também destrói a saúde das pessoas que vivem na floresta. Consumidores de ouro em todo o mundo precisam entender que estão adquirindo um metal que está ameaçando a vida de pessoas inocentes. O poder público precisa urgentemente assumir sua responsabilidade de garantir segurança alimentar para as populações locais, que tradicionalmente dependem dos peixes como principal fonte de proteína", afirma Marcelo Oliveira, especialista de Conservação do WWF-Brasil.

A mineração artesanal de ouro em pequena escala (ASGM, na sigla em inglês), geralmente organizada em redes ilegais e conduzida por garimpeiros e atravessadores, é a principal fonte de emissões, contaminação e consumo de mercúrio na América Latina e no Caribe. No norte da Amazônia brasileira, a ASGM contaminou o meio ambiente e as pessoas ao longo do século passado.

Riscos toxicológicos à saúde

estudo, que teve como objetivo avaliar os potenciais riscos toxicológicos à saúde causados pelo consumo de peixes contaminados por mercúrio, foi realizado em cinco regiões do Estado do Amapá, incluindo algumas das bacias hidrográficas mais biodiversas e economicamente significativas da região, sempre em áreas protegidas e conservadas, incluindo a maior reserva natural do Brasil (Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque). Foram escolhidos rios que faziam fronteira com áreas protegidas devido à maior ocorrência de depósitos minerais e maior número de locais de ASGM.

Esses locais foram identificados com base em mapas de desmatamento de mineração de ouro, revisões de literatura, presença de comunidades locais, influência de marés costeiras ou águas interiores, logística de amostragem, distância a áreas protegidas e entrevistas com gerentes de áreas protegidas e locais com conhecimento da história regional da mineração de ouro.

Foram amostrados 428 peixes de 18 locais nos sistemas aquáticos terrestres e costeiros entre agosto de 2017 e maio de 2018. Os peixes foram capturados por pescadores locais contratados para apoiar o projeto de pesquisa. De acordo com os pescadores locais, cada espécie de peixe foi capturada usando equipamentos específicos. Cada amostra foi identificada ao nível da espécie e um mínimo de 70 g de tecido muscular (livre de pele) foi extraído da região dorsal do corpo do peixe. Todas as ferramentas de dissecção foram esterilizadas antes da amostragem para evitar contaminação.

As amostras foram armazenadas em caixas de gelo e congeladas para transporte ao laboratório. O estudo foi realizado de acordo com a regulamentação brasileira (IN 03/2014), sob a licença SISBIO 58296-1. A concentração de mercúrio nos peixes coletados excedeu o limite de segurança em 77,6% dos carnívoros, 20% dos onívoros e 2,4% dos herbívoros.

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