Documentário

Filme sobre prisão de Caetano Veloso é selecionado para o Festival de Veneza

Produzido por Paula Lavigne, em coprodução com VideoFilmes, filme dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil participa de primeiro festival presencial desde o início da pandemia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Cena de "Narciso em Férias"
Cena de "Narciso em Férias" (cena do filme caetano)

RIO DE JANEIRO- O documentário “Narciso em Férias” (“Narcissus off Duty”), sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, foi selecionado para o 77º Festival de Veneza, que acontece de 2 a 12 de setembro, na Itália, o primeiro festival em formato presencial desde o início da pandemia de covid-19. O filme participa da seção oficial Out of Competition. Escrito e dirigido por Renato Terra (“Uma Noite em 67”) e Ricardo Calil (“Cine Marrocos”), o filme é uma realização Uns Produções, produzido por Paula Lavigne, e coproduzido pela VideoFilmes, de Walter Salles e João Moreira Salles.

No longa, Caetano Veloso relembra sua prisão na Ditadura Militar, quando ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana no dia 27 de dezembro de 1968, 14 dias depois de decretado o AI-5. Sem receber explicações do regime, foram levados ao Rio de Janeiro, deixados em duas solitárias por uma semana e depois transferidos para celas. A censura prévia impediu os jornais de divulgarem suas prisões. Cinquenta e dois anos depois, Caetano relata o período mais duro de sua vida e reflete sobre os 54 dias que passou encarcerado.

“A beleza deste filme está na maneira como Caetano Veloso, o artista em questão, hoje com 77 anos, é capaz de nos levar de volta àquela cela e nos fazer partilhar da impotência do rapaz preso. A simplicidade da encenação - um homem sentado de pernas cruzadas diante de uma parede de concreto, nada mais - dá voz ao essencial, uma escolha ao mesmo tempo estética e moral. Diante da violência, qualquer excesso seria injustificado. Este é um filme sobre o Brasil de antes e talvez de amanhã. Os fantasmas continuam entre nós”, analisa o coprodutor João Moreira Salles.

"Estrear o filme em Veneza é um sonho. Duas pessoas tiveram papel fundamental nesse processo: João Moreira Salles e Paula Lavigne. Conheci o João há 12 anos e, por causa dele, convivi com Eduardo Coutinho. Cada decisão que tomei no projeto veio desse aprendizado com João e Coutinho. A Paula teve a iniciativa do filme e, desde o convite, apoiou todas as decisões que tomei, confiou, me deu confiança. 'Narciso em Férias' respeita e amplifica cada palavra, memória, gesto, silêncio de Caetano. Agora, queremos mostrar isso para o mundo", afirma o diretor e roteirista Renato Terra.

"Estamos felizes e honrados de iniciar a trajetória do filme pelo Festival de Veneza, que é ao mesmo tempo o primeiro festival de cinema do mundo e o primeiro que será presencial no mundo pós-pandemia. É um evento histórico que pode apontar como será o cinema nessa nova realidade. Para nós, faz todo sentido que a estreia seja lá. 'Narciso em Férias' é um filme que fala do passado do Brasil, por meio das memórias de Caetano Veloso sobre sua prisão na ditadura, mas também tem muito a dizer sobre o presente do país", explica o diretor e roteirista Ricardo Calil.

O título "Narciso em Férias", que também dá nome ao capítulo sobre a prisão de Caetano em seu livro "Verdade Tropical", foi tirado do romance “Este Lado do Paraíso”, do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald. Ele se refere ao fato de Caetano ter passado quase dois meses sem se olhar no espelho. Foi na prisão que o compositor recebeu de sua então esposa Dedé um exemplar da revista Manchete, com fotos inéditas da Terra vista do espaço, o que inspirou a composição da música "Terra" dez anos depois. Na cadeia, compôs "Irene", lembrando a risada de sua irmã mais nova.

Dos dias na solitária, Caetano lembra: "Eu tinha que comer ali no chão mesmo. Isso durou uma semana, mas pareceu uma eternidade. Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido. Me lembro muito de uma frase que o Rogério Duarte me disse logo que eu fui solto: 'Quando a gente é preso, é preso para sempre'. Acho que é assim mesmo", afirma Caetano no documentário.

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