Memória

Novo site conta a vida, a história e a obra de Vladimir Herzog

Acervo Vladimir Herzog dá acesso a vídeos, fotos e textos sobre o jornalista e docente da USP, morto em 1975

Maria Laura López/Jornal da USP

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Site conta a história de Vladmir Herzog
Site conta a história de Vladmir Herzog (HERZOG)

SÃO PAULO- Filho, judeu, imigrante, marido, pai, jornalista, professor e vítima da ditadura militar. Embora seja mais lembrado pelo último acontecimento — seu assassinato no porão do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura, em 25 de outubro de 1975 —, Vladimir Herzog (1937-1975) foi muito mais do que isso. É o que mostra o site Acervo Vladimir Herzog, lançado em junho passado pelo Instituto Vladimir Herzog, de São Paulo, que reúne um extenso acervo de vídeos, fotos e textos sobre o jornalista, que atuou também como professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

De acordo com o coordenador de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, Lucas Paolo Vilalta, mais de 20 acervos contribuíram com o projeto. “Queríamos contar o trabalho e a produção do Vlado. Então, além do acervo oferecido pela família, nós contatamos o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Visão e vários outros lugares com arquivos sobre ele”, afirma Vilalta. O resultado desse projeto iniciado há três anos é o site Acervo Vladimir Herzog, que com um menu simples permite que se navegue por uma linha do tempo, por uma biografia ou diretamente pela coleção de documentos, filmes e matérias, divididas nas diversas áreas de atuação de Herzog.

“Se você pensar do ponto de vista de concepção e idealização do projeto, ele existe desde a criação do instituto e vem responder a uma lacuna histórica que só lembra o Vlado pelo seu assassinato”, conta Vilalta. Criado em junho de 2009, o instituto sempre prezou pela memória da vida de Herzog e todos os arquivos reunidos no novo site seguem essa mesma linha de preservação da sua história. “Ele foi um intelectual, um jornalista, circulava entre os principais meios de discussão de teatro e cinema. Tem uma série de trabalhos que dão a ele um papel central nas produções da época”, acrescenta o coordenador.

No entanto, esse projeto só se tornaria mais concreto em 2018, quando o Instituto Vladimir Herzog fez uma parceria com o Instituto Itaú Cultural. Isso permitiu a contratação de uma equipe de pesquisadores que saiu em busca dos registros de toda a produção intelectual de Herzog. “Primeiro a gente fez a exposição Ocupação Vladimir Herzog, no Itaú Cultural, no ano passado, que teve quase 100 mil visitantes”, conta Vilalta. Depois do sucesso do evento, o caminho para a construção do site se tornou ainda mais claro.

Além de preservar a memória de Herzog, o acervo também tem o objetivo de se colocar como espaço de pesquisa. “Para algumas discussões atuais e até para conhecer a história do País, o acervo é muito rico, justamente porque o Vlado era uma das pessoas que estavam pensando os problemas do Brasil naquele contexto, dos quais alguns se mantêm até hoje”, diz Vilalta. Segundo o coordenador, existe a intenção de criar um espaço físico para mostrar o acervo ao público, porque, como ele diz, é através da interação com as pessoas que um acervo ganha vida, se multiplica e repercute. “A ideia é formar um museu de memória que conte a trajetória do Herzog e do próprio instituto e, nesse diálogo, conte também outros aspectos da história brasileira.”

Esse processo de relembrar e recontar se faz ainda mais importante quando se olha para a conjuntura brasileira atual, segundo Vilalta. “A gente não fez uma memória adequada da época da ditadura. Isso nos leva a não ter prestado contas com o nosso passado autoritário, gerando um conjunto de fatores que possibilitou a eleição de um governo reacionário, ainda que não sob um regime autoritário”, diz. De acordo com ele, tudo isso é reflexo da ausência de uma memória e de uma justiça de transição adequadas. “Parte desse processo tem a ver com contar histórias que não costumam ser contadas, e o acervo faz parte de uma missão institucional muito forte de preservar a memória do Vlado em vida”, conta o coordenador.

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