Teatro

Trilogia da solidão em teatro online

Ator, dramaturgo e diretor maranhense Dionisio Neto e Cia. Satélite, de São Paulo, apresentam em agosto três montagens para o teatro digital

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
O ator Dionisio Neto
O ator Dionisio Neto (dionisio neto)

SÃO LUÍS- Com a inédita Trilogia da Solidão Online, a Cia. Satélite, de São Paulo, apresenta, ao vivo na internet, três monólogos dirigidos pelo ator, diretor e dramaturgo maranhense Dionisio Neto. As montagens - “Carta ao pai”, “Os sofrimentos do jovem Werther” e “O belo (e a fera)” - têm como tema em comum a solidão humana. Os personagens tentam se comunicar com os seus interlocutores para que o diálogo se estabeleça.

Especialmente dirigidas para o teatro digital (linguagem híbrida do teatro, cinema e internet), as peças são apresentadas ao vivo em locações, em três estilos distintos: o expressionismo (“Carta ao pai”), o realismo (“Os sofrimentos do jovem Werther”) e o surrealismo (“O belo (e a fera)”) as peças propõe uma comunicação com o público a partir do teatro através da tela dos computadores, tvs e celulares. “Com esta trilogia inédita e atual, a Companhia Satélite adapta-se aos novos tempos sem perder seu DNA e apresenta duas peças clássicas e uma contemporânea especialmente escrita para o teatro digital”, diz Dionisio Neto.

As exibições de “O Belo (e a fera)” ocorrem de 5 a 26 de agosto, sempre quartas, às 21hs; “Os sofrimentos do jovem Werther”, de 6 a 28 de agosto, às quintas e sextas, às 21hs; e “Carta ao pai” de 8 a 30 de agosto, aos sábados às 21h, e domingos, às 19hs. Todos os espetáculos terão, ainda sessões exclusivas reservadas à Prefeitura de São Paulo. As demais terão ingressos à venda a preços populares no site www.sympla.com.br/companhiasatelite. As transmissões serão nos canais digitais da companhia.

Encenação digital

Dionisio Neto explica que o teatro digital é um produto audiovisual híbrido de teatro, cinema, tv e internet. “Para a Trilogia da Solidão Online optei por fazer três planos-sequência. Partimos do teatro para criar uma obra de mãos dadas com ele. O teatro, tradicionalmente falando é apresentado em palcos, ao vivo, com plateia presente fisicamente. Cada espectador tem um plano geral a sua frente e seus olhos são suas câmeras. Não há interface entre o emissor e o receptor, salvo quando há a incorporação dos recursos audiovisuais em cena. Há muitos recursos tecnológicos e plataformas surgindo para, cada vez, mais integrar as artes. Não creio que o teatro digital substituirá o teatro tradicional, que é insubstituível. Trata-se de uma nova linguagem que está tomando forma aos poucos. Nas peças clássicas da trilogia eu adaptei as linguagens. Em ‘O belo (e a fera)’, a peça foi criada originalmente para este formato”, declara Dionisio.

“O teatro e a tecnologia sempre estiveram de mãos dadas. Agora, mais do que nunca, devido à atual realidade imposta pela pandemia, as transmissões online de espetáculos são uma excelente opção para manter nossa arte em viva. Sabe-se que a interação do ao vivo com o online farão cada vez mais parte da nossa realidade”, completa Dionisio Neto.

Peças

“O belo (e a fera)” é um solo teatral inédito inspirado na obra de Jean Cocteau, criado especialmente para o teatro digital, escrito e dirigido por Dionisio Neto que atuou em trabalhos como “Carandiru”, “A Favorita”, “ A dona do pedaço”, entre outros. Escrito especialmente para a atriz Giovanna Velasco no papel da atriz e cantora Ella, sufocada por um relacionamento tóxico com seu marido, traz elementos realistas e surrealistas em sua encenação. A peça navega pelos tons de sentimentos e emoções desta personagem, fala do fim de um relacionamento tóxico, de resiliência, libertação e superação. O surrealismo pincela a trama com cenas aleatórias improvisadas com imagens projetadas que mudam a cada espetáculo.

A trama se passa quando, ao voltar de um show, a cantora e atriz Ella espera seu marido Maurice em seu quarto. Rodeada por delírios surrealistas, como em um pesadelo, ela tenta desesperadamente comunicar-se com ele, que mantém-se calado no pouco tempo em que fica com ela. Ela, só com sua gripe, destruída emocional e fisicamente, toma uma decisão que mudará seu destino para sempre.

Já “Os sofrimentos do jovem Werther” marca a terceira incursão do maranhense pela direção de um clássico da literatura universal. Após os sucessos de “A casa de Bernarda Alba” (2004), de F.G. Lorca e “Carta ao pai” (2017), de F. Kafka, Dionisio Neto dirige o texto pilar do romantismo alemão, adaptado para o teatro, em uma roupagem contemporânea.

Por se tratar de um sentimento universal – o amor, neste caso rejeitado, que move o protagonista em meio a suas esperanças frustradas, angústias, em contraste com o ardente desejo extremamente romântico pela inatingível Carlota. Em uma analogia com artistas modernos e contemporâneos (Ian Curtis, Cazuza, Amy Winehouse, Chris Cornell, Kurt Cobain, Jimmy Hendrix, Jim Morrison, Jean Michel Basquiat, Chorão, entre outros), que tiveram suas vidas interrompidas no auge da juventude, assim como Werther, o espetáculo mergulha nas profundezas escuras da alma atormentada do pintor, paralisado pela idealização da amada, comprometida com o advogado Alberto.

Para extravasar sua dor, o artista escreve cartas do seu melhor amigo – Willem, contando suas desventuras e percalços amargurados pelos labirintos mais recônditos de sua existência. Antagonicamente, a exuberante natureza que o cerca, visto que se isolou em meio ao campo para pintar, sem conseguir, contrasta com sua dor desesperadora e insuportável. Imerso em drogas e desilusão, Werther, com seu coração dilacerado, aconselhado indiretamente pelo seu maior inimigo, Alberto, resolve por um trágico fim à sua vida, bem como os artistas que nos inspiraram a navegar pelos mares sombrios da alma humana.

O texto clássico do romantismo alemão, cheio de razão e emoção, destila poesia e beleza aos nossos olhos e ouvidos. Sofremos e amamos juntos com ele. Sua vida espelha a nossa, e a catarse expurga o mal de nossas vidas. “Personagem pilar do romantismo alemão, nosso protagonista morre de amor. Extremamente atual do começo ao fim, o espetáculo expõe um tema caro à nossa sociedade contemporânea: o suicídio – a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Com sensibilidade extrema, o ator Adriano Arbol encarna tanto o pintor Werther, quanto sua amada Carlota e seu rival Alberto, com mudanças físicas e vocais na construção das suas personagens”, observa Dionisio Neto, que segue o método de Stanislawsky para a construção das personagens, buscando o realismo máximo, guiando o ator à vivência profunda das ações propostas pelo autor.

Em cartaz desde 2016, “Carta ao Pai” teve grande sucesso de público e crítica. Em uma obra de auto expressão, Dionisio apresenta sua visão do clássico kafkiano, escrito durante 10 dias em que o autor tcheco ficou internado em um quarto da pensão Studl, sanatório de Kierling, nos arredores de Viena, entre 10 e 20 de novembro de 1919 (em 2019 a carta completará 100 anos, configurando uma efeméride com comemoração mundial). A carta jamais chegou a ser lida pelo seu pai Hermann Kafka.

Adaptado de várias traduções, dirigido e produzido pelo próprio autor, o espetáculo traz Dionisio interpretando o pai Hermman Kafka e seu filho Franz, ao estilo do ator americano Spalding Grey - atrás de uma mesa, iluminado por velas diferenciando-os através das diferentes tonalidades da sua voz. Com gestual e maquiagem inspirados no expressionismo alemão, vestido em um terno preto, o ator limpou o máximo de artifícios teatrais para compor o espetáculo.

Nesta temporada, há utilização de recursos técnicos como o som constante de uma tempestade de gelo, fumaça, apenas uma mesa, uma cadeira, um castiçal judaico de sete velas (Menorah), um copo com água, uma Torah, uma maçã, uma caneta, um ator, os papéis da carta e a potência da literatura kafkiana. Um fio vermelho sobre a mesa, inspirado na Cabala paira sobre o ator. Pouquíssimos gestos buscam o essencial e o que há de teatral no clássico texto de Kafka. Esta é a segunda vez que o ator interpreta o texto. A primeira versão estreou em 2009 no Sesc Santana. Desta há apenas a fidelidade à carta.

Companhia

A Companhia Satélite foi fundada em 1995 pelo ator, dramaturgo e diretor Dionisio Neto com a Trilogia do Rebento (“Perpétua”, “Opus Profundum”, “Desembestai!”). Apresentou-se nos principais festivais de teatro do Brasil (Festival de Curitiba, Semana do Teatro do Maranhão, entre outros). Internacionalmente apresentou-se no BluePrint Series Festival de Nova Iorque (USA) e no FITEI (Porto-Portugal). Ganhou diversos prêmios (Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, Jornada Sesc de Teatro, entre outros). Além dos textos de Dionisio Neto, a companhia monta clássicos (“A Casa de Bernarda Alba”, “Carta ao Pai”, “Claro Enigma”, entre outros) e autores contemporâneos (“Desamor” e “Seios”, de Walcyr Carrasco, entre outros).

Saiba Mais

“O Belo (e a fera)”

Texto e direção: Dionisio Neto

Atriz: Giovanna Velasco

Data: de 5 a 26 de agosto – quartas às 21h

Ingressos: R$ 20,00 (são disponibilizados 20 ingressos gratuitos)

Onde

No www.sympla.com.br/companhiasatelite (Classificação indicativa 16 anos)

Os sofrimentos do jovem Werther

De: Johann Wofgang von Goethe

direção: Dionisio Neto

Ator: Adriano Arbol

Data: de 6 a 28 de agosto – quintas e sextas às 21h

Ingressos

R$ 20,00 (são disponibilizados 20 ingressos gratuitos)

Onde

No www.sympla.com.br/companhiasatelite (Classificação indicativa: 18 anos)

Carta ao pai

De: Franz Kafka

Ator: Dionisio Neto

Data: de 8 a 30 de agosto – sábados às 21h e domingos às 19h

Ingressos

R$ 20,00 (são disponibilizados 20 ingressos gratuitos

Onde

No www.sympla.com.br/companhiasatelite (Classificação indicativa Livre)

Ingressos no Sympla – www.sympla.com.br/companhiasatelite

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