Da ideia surgiu a obra

Quase cinco décadas: a expansão a partir da Barragem do Bacanga

Plano de desenvolvimento urbano elaborado pelo poder público na década de 1950 foi executado de forma paulatina nos anos subsequentes; Barragem esteve entre as intervenções

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Como mostra a imagem, a maré subia e levava boa parte do trabalho já feito na Barragem do Bacanga
Como mostra a imagem, a maré subia e levava boa parte do trabalho já feito na Barragem do Bacanga

SÃO LUÍS - Atualmente, a capital maranhense possui grande concentração populacional no eixo intitulado de “Itaqui-Bacanga”. Com aproximadamente um quarto do total de habitantes da cidade, essa parte do território de São Luís teve ocupação impulsionada por dois fatores: além do fatídico incêndio nas palafitas do Goiabal, às margens do Rio Bacanga, que levou à “migração” de pessoas para a outra margem do rio, gerando o surgimento de localidades como o Anjo da Guarda, por exemplo, a construção da Barragem do Bacanga – datada de 1973 – também teve grande importância neste processo.

No entanto, para entender a sua história e consolidação do projeto, é importante se debruçar acerca do contexto da cidade na ocasião. Para isso, é preciso fazer uma viagem no tempo. O Estado dedicará estas próximas páginas a contar detalhes e bastidores da construção da barragem que fora fundamental para o crescimento da cidade e, nos dias de hoje, ainda é utilizada como fonte de renda.

crescimento a partir da barragem

Na década de 1950, São Luís apresentava adensamento populacional (grandes concentrações) em determinadas áreas. O estrangulamento, em especial, das regiões dos eixos da zona central da cidade preocupava as autoridades locais, que elaboravam planos para desenvolvimento do território ludovicense para os anos subsequentes.

Foi neste contexto que o poder público elaborou o Plano de Expansão da Cidade de São Luís. Idealizado principalmente por Ruy Ribeiro de Mesquita, à época diretor do Departamento de Estradas de Rodagens do Estado do Maranhão (DER), o conjunto de medidas previa uma série de obras vultuosas de grande impacto para a cidade.

Durante a elaboração do plano, chegou-se à conclusão de que era necessário ampliar a cobertura da cidade para os setores abrangentes do Rio Anil (com desaguamento no mar) e do Rio Bacanga. No Plano, foi programada a construção de pontes, em especial, a do Caratatiua (construída em meados de 1968), e a Ponte José Sarney (do São Francisco), esta última inaugurada em 1970 e que completou 50 anos, conforme citou reportagem especial de O Estado publicada em fevereiro deste ano.

Além destas estruturas, também estava previsto o erguimento de uma ponte sobre o Rio Bacanga. O fato foi registrado inclusive nos jornais da época. Publicação do Jornal do Maranhão, possivelmente datada de 1967, cita artigo que ressaltava a importância da construção de uma ponte nesta região.

De acordo com o texto, “uma ponte sobre o Bacanga será de grande utilidade para a capital e para todo o noroeste do Maranhão” já que, segundo a opinião, a “cidade encontraria terreno apto para crescimento indefinido”. Ainda segundo o artigo, “a ponte sobre o Rio Bacanga não somente ligaria à metrópole ao seu almejado porto [em referência ao Porto do Itaqui]”, como seria um acesso de escoamento da produção e chegada de produtos por via rodoviária à capital.

Obra, bem no início, avança rumo à região do Itaqui-Bacanga, promovendo união
Obra, bem no início, avança rumo à região do Itaqui-Bacanga, promovendo união

dilema entre ponte e barragem

O plano de gestão do então governador do Maranhão, José Sarney, incluía o acesso ao Porto do Itaqui. A estrutura de desaguamento da produção para outras cidades era vista como prioridade pela gestão pública. Por isso, José Sarney chamou o então engenheiro rodoviário, Vicente Fialho, e o secretário de Obras da ocasião, Haroldo Tavares.

Em reunião, os três definiram as diretrizes da obra, que promoveria – além do crescimento urbano – a criação de uma represa que possibilitaria as condições para a formação de manguezais, contribuindo no ecossistema da Ilha. A O Estado, Vicente Fialho relembra como se deu a confirmação da obra. “A obra foi iniciada utilizando paliçadas [cercas fincadas na terra] de madeira apoiando o avanço progressivo sobre o braço do Bacanga”, disse.

Ele também revelou que, à época, defendia a construção de uma ponte no lugar da Barragem do Bacanga. “Como engenheiro rodoviário, defendi uma ponte e Haroldo [Tavares], uma barragem. Sarney, após um bom tempo pensando, decidiu por uma barragem”, afirmou.

Após a definição, em meados de 1967, foi lançado o edital. O Estado teve acesso ao documento de publicação, datado de 12 de setembro de 1967 e publicado nos jornais do período. De acordo com a Comissão Executiva da Barragem do Bacanga, do DER, seria “elaborada a primeira Concorrência Pública, sob o nº 011/67, para a construção da Travessia Rodoviária do Rio Bacanga”. Os interessados, ainda de acordo com o documento, poderiam obter melhores informações na Secretaria de Viação de Obras Públicas, na Rua Cândido Mendes, nº 427.

Ainda de acordo com Vicente Fialho, uma empresa venceu a concorrência pública e, imediatamente, começou os trabalhos. “Eu acompanhei tudo de perto. Os operários trabalhavam durante o dia e pela manhã as paliçadas surgiam boiando nas águas do Bacanga e a terra colocada havia sido levada pela maré”, descreve.

“Fechamento definitivo”

Mesmo com a memória efervescente, aos 82 anos, Vicente Fialho (que acompanhou boa parte dos trabalhos na Barragem do Bacanga) confessa que alguns detalhes foram perdidos no tempo. “Não me lembro exatamente o dia, mas estou certo de que houve uma grande reunião de pessoas, inclusive várias autoridades capitaneadas pelo então governador José Sarney no exato momento do fechamento definitivo”, disse em referência à ocasião em que as duas partes de terra (Itaqui-Bacanga e região central) foram unidas pelo que seria a barragem

Vicente se refere ao momento em que o primeiro trator alcançou o lado da cidade de São Luís, após a conclusão do período mais importante de aterramento do trabalho. Após alguns atrasos a partir de então, a obra foi entregue totalmente concluída em 1973.

Mesmo sem a finalização, a Barragem do Bacanga – mesmo no período noturno – já era uma das atrações da cidade. Registro de Pergentino Holanda, em sua coluna, de 26 de abril de 1971 no Jornal do Maranhão cita a beleza da obra com a iluminação. Segundo PH, “todos elogiam a iluminação da Barragem do Bacanga” que, de acordo com o próprio, “a luz refletida na água proporcionava aos que visitavam o local um belíssimo espetáculo”.

O estímulo à ocupação

Em 26 de maio de 1970, o então secretário de Viação e Obras Públicas, Haroldo Tavares, tornou público edital que abria inscrições para aquisição de terras na região Itaqui-Bacanga. Segundo o documento, as áreas estariam destinadas “exclusivamente à instalação de indústria e comércio”.

No entanto, a ocupação por cidadãos se deu mais de forma desordenada e a Barragem em si, a partir de 1973 – com a inauguração da Avenida Médici (conhecida atualmente mais por Avenida dos Africanos) - possibilitou o surgimento de bairros conhecidos no entorno, como Areinha e Coroado. Às margens da barragem, ainda estão pessoas que dependem do que vivem de fonte do rio a partir do fluxo de suas comportas.

Nos arredores dos bairros que já existiam e se consolidaram, como Madre Deus, ou que ganharam importância, como Sá Viana, é possível conhecer histórias de quem ajudou a construir a barragem e a aterrar o trecho.

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