Entrevista/Zeca Baleiro

"Nos anos 1980 comecei a ouvir uma música mais moderna de Portugal e me encantei"

Maranhense Zeca Baleiro reúne composições de artistas portugueses em "Canções d''Além-mar", disco, lançado este mês

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Zeca Baleiro se inspirou em Portugal
Zeca Baleiro se inspirou em Portugal (Zeca Baleiro)

SÃO LUÍS- Nos primeiros dias deste mês, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro lançou nas plataformas digitais seu álbum "Canções d´Além-mar", o 14º de estúdio. Trata-se da concretização de um projeto que evidencia de forma melódica e poética o caso de amor entre o artista brasileiro e a música feita em Portugal.

Com 11 faixas, o disco tem como carro-chefe o single "Às Vezes o Amor", uma canção de Sérgio Godinho, lançada ainda em janeiro. A canção de Godinho se une a outras de nomes como Pedro Abrunhosa, Fausto, Zeca Afonso, Rui Veloso e Carlos Tê, Jorge Palma, António Variações, Ornatos Violeta, Vitorino, João Gil e João Monge e José Cid num trabalho que traz também a colaboração de músicos brasileiros e portugueses, além da orquestra de cordas St. Petersburg Studio Orchestra.

De Portugal, participam do álbum os músicos Manuel Paulo Felgueiras (piano em "Balada de Outono"), Pedro Joia (violão em "Razão de Ser (E Valer a Pena)") e Nathanael Sousa (acordeon em "Menina, Estás à Janela"). “Canções d'Além-mar" é um lançamento da Saravá Discos, com distribuição digital da ONErpm. A arte do álbum tem a assinatura do artista plástico Elifas Andreato. Abaixo, em entrevista exclusiva a O Estado, o artista fala sobre este novo trabalho.

Você pensava neste álbum há um tempo. Como foi o processo de planejamento e de concretização deste projeto?

Desde 2005, quando lancei uma música portuguesa (“Frágil”, de Jorge Palma) como faixa-bônus da edição local de “Baladas do Asfalto e outros blues”, que alimento esse desejo. De lá pra cá, ouvi muitos discos até chegar nessas 11 canções finais.

Você é maranhense e São Luís tem uma forte influência portuguesa tanto na arquitetura quanto na presença de famílias de origem daquele país … isto, de alguma forma, o influencia?

Não conscientemente. De um modo “subterrâneo”, talvez (rs). Quando fui a Portugal pela primeira vez, senti muita familiaridade com tudo - a música, a fala, a comida, os hábitos... Esse, digamos, “temperamento” português já era de algum modo conhecido por mim.

Descreva sobre sua relação com a música portuguesa, seus primeiros contatos, laços atuais e fale também sobre as singularidades e diferenças que percebes entre a música feita aqui e a de lá.

Havia uns discos de fado na casa dos meus pais, como havia de tangos, boleros e chorinhos. Morei por um tempo com minha mãe na casa de três tias viúvas, as tias Ericeira, bem portuguesinhas, na Rua dos Remédios (ou Rio Branco), quase esquina com a rua da Viração. Uma delas, a tia Verônica, era muito musical, ouvia de tudo, incluindo música portuguesa antiga. Mas foi nos anos 1980 que comecei a ouvir uma música mais moderna de Portugal e me encantei, quando fui presenteado pelas amigas Laurinda e Salete, também de família portuguesa, com um k7 com músicas de Fausto, Vitorino e Zeca Afonso. Há um lirismo que penso ser comum aos dois países, até porque nossas cantigas de roda, trovas, marchas, quadras, tudo isso tem origem portuguesa ou ibérica. Mas o universo melódico e harmônico da música portuguesa é muito específico, tem uma estranheza também, talvez porque eles não tenham um "vocabulário harmônico" comum como nós temos, que advém de Caymmi, Ary Barroso e da bossa nova. Não sei dizer, estou só especulando. Mas me atraem muito as soluções criativas que os compositores mais contemporâneos acharam pra criar suas canções.

Fale sobre a escolha do repertório.

Foi difícil e sofrida. Ouvi muitos discos e muitas canções nos últimos dez anos até me resolver por esse repertório. Naturalmente faltaram nomes, sempre faltariam. E o álbum não contempla a cena mais atual, de 2010 pra cá, mas isso pode ser matéria pra um próximo volume, quem sabe rs.

O álbum foi lançado recentemente. Já é possível fazer uma avaliação de como o público recebeu o novo trabalho?

Tenho tido um bom termômetro pelas redes sociais. Muita gente - de lá e de cá - escreve dando suas impressões, está sendo curioso acompanhar. Tenho feito lives caseiras no meu instagram para divulgar o álbum, sempre com participações de alguns compositores d’além-mar. Já participaram Pedro Abrunhosa e João Gil, e no dia 27 participa o Sergio Godinho.

Quais os planos para o álbum diante deste cenário de pandemia?

Antes da pandemia, a ideia era lançá-lo em cd e vinil, e eu tinha planos de ir a Portugal fazer o trabalho de divulgação pessoalmente. Com esse quadro, resolvemos lançar por ora apenas nas plataformas digitais. Ele foi lançado também nas plataformas europeias e africanas, e assim que for possível, irei até lá para fazer o show do álbum.

O que você tem achado destas ferramentas como lives e shows em drive-ins que artistas têm lançado mão como forma de continuar o trabalho diante do distanciamento social?

São saídas que estão sendo achadas para manter vivas as atividades artísticas. Todas são válidas e interessantes, embora nenhuma substitua a alegria e a vibração de um show de verdade.

Além do novo disco, quais seus projetos atuais e futuros?

Estou criando trilhas para dois filmes nacionais e compondo bastante. Tem um álbum de sambas no prelo também, quase pronto, faltam só vozes e vocais. A quarentena fez com que eu me reaproximasse de alguns parceiros queridos como Chico César, Fausto Nilo, Zélia Duncan, Wado, Joãozinho Ribeiro, e conquistasse outros novos, como Vinícius Cantuária e Flávio Venturini.


Faixas - "Canções d´Além-mar"

Às Vezes o Amor (Sérgio Godinho)

Tu não Sabes (Pedro Abrunhosa)

Ali Está a Cidade (Fausto)

Capitão Romance (Ornatos Violeta: Compositores: Alexandre Nuno Ribeiro Prata / Elisio Paulo Pinto Donas De Oliveira / Manuel Gomes Coelho Pinho Da Cruz / Miguel Vicente Esteves Cardoso / Pedro Vieira Da Cunha Santos)

Balada de Outono (José Afonso)

Canção de Engate (António Variações)

Razão de Ser (E Valer a Pena) (João Gil e João Monge)

Todo o Tempo do Mundo (Rui Veloso e Carlos Tê)

Menina, Estás à Janela (Vitorino)

Bairro do Amor (Jorge Palma)

É no Silêncio das Coisas (José Cid)

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