Eleições 2020

"Campo apoiado pelo Palácio não é esquerda", diz Arcangeli

Pré-candidato do PSTU diz que siglas ligadas ao Governo Dino, que se definem como defensoras dos trabalhadores, estão atreladas ao "sistema capitalista"

Thiago Bastos/ Da editoria de Política

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Arcangeli diz que PSTU não terá tempo de televisão nas eleições deste ano; partido focará nas redes socais
Arcangeli diz que PSTU não terá tempo de televisão nas eleições deste ano; partido focará nas redes socais (Saulo Arangeli)


O pré-candidato a prefeito de São Luís, Saulo Arcangeli (PSTU), em entrevista à O Estado, disse que os partidos componentes atualmente da base de apoio do Governo do Maranhão, como PDT e PCdoB, por exemplo, estão atrelados mais aos interesses capitalistas e menos aos ideais da esquerda preconizadora da chamada igualdade social.
Para Arcangeli, existem “pré-candidaturas” ligadas ao Palácio dos Leões geradas por desentendimentos internos e que não foram criadas apenas com o intuito de desestabilizar um ou outro nome. O pré-candidato evitou falar no termo “consórcio”, criado para se referir ao suposto grupo palaciano.
Arcangeli teceu críticas ao PT e à gestão do partido comandado nacionalmente pelo ex-presidente Lula, disse ser contrário ao financiamento público das siglas, expôs diferenças atuais com o PSOL, afirmou que o PSTU não está aberto a alianças e falou sobre suas propostas, em especial, na saúde.


O senhor era militante do PT e, no entanto, a impressão que passa é que o senhor quer evitar qualquer nova ligação com o partido. Esta visão é correta? Se sim, quais razões?
O PT atual nada tem de parecido com projeto classista e socialista de sua fundação, no início dos anos 80, que trazia a necessidade de construir um partido da classe trabalhadora, com a defesa intransigente dos explorados e oprimidos, combatendo a corrupção e gerando uma mudança social permanente e profunda. Mas quando assume o poder, a partir de uma aliança com partidos de direita burgueses e grandes empresários, priorizou governar para esses aliados, apesar de alguns programas e políticas compensatórias que melhoraram, de forma transitória, a vida da população. O PSTU nasceu a partir do rompimento de uma corrente interna do PT (Convergência Socialista), em 1994, e tem denunciado a degeneração do PT e sua conciliação com a burguesia que levou, a partir de suas alianças, ao fortalecimento da direita, inclusive contribuiu bastante com o surgimento de uma alternativa de ultradireita, como Bolsonaro.


Há alguns anos se fala no "racha" da esquerda no âmbito do Maranhão. Esta diluição de projetos de campos políticos semelhantes é positiva para partidos como PSTU e PSOL, por exemplo?
Primeiramente, precisamos pontuar sobre o que é esquerda. Hoje temos o governo de Flávio Dino que une do PCdoB ao Republicanos (partido dos filhos de Bolsonaro) e DEM (partido de Rodrigo Maia), organizações de direita que atacam sistematicamente os trabalhadores, como fizeram agora no Congresso com projetos e MPs de retirada de direitos encaminhadas por Bolsonaro (MP 936, MP 927 e PLC 39). São vários pré-candidatos à prefeitura desse amplo campo apoiado pelo Palácio do Leões que, ao nosso ver, não tem nada de esquerda. Já o PSOL, infelizmente, hoje tem uma posição muito próxima do PT, PSB, PDT e do próprio PCdoB nacionalmente, na defesa de reformas no sistema capitalista, e, localmente, não faz oposição ao governo estadual e acaba consentindo com essa aliança estadual de centro-direita que envolve 15 partidos das mais diversas matizes ideológicas. Por isso, não temos semelhanças com esses partidos. Defendemos a tomada do poder político pelos trabalhadores, governar através dos conselhos populares que irão definir a aplicação do orçamento estatal e ter como estratégia a luta por uma sociedade igualitária e socialista, onde não exista miséria para o nosso povo, nem exploração e opressão.

Em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, aflorou no campo ideológico a chamada "polarização política". A esquerda, neste contexto, faz bem o papel de campo oposto?
Temos uma grande polarização política no mundo e, no Brasil, não é diferente. Podemos constatar isso na eleição de presidentes de ultradireita como Trump (EUA) e Bolsonaro (Brasil), além do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Mas, novamente, voltamos ao debate da esquerda autêntica. Uma grande parte da dita esquerda, tem feito um discurso contra o governo federal, mas tem feito políticas próximas em seus estados e dentro do Congresso Nacional. Por exemplo, o Governador Flávio Dino foi o primeiro a implementar o aumento da alíquota da previdência para os servidores públicos, sem nenhum estudo técnico que baseasse esse aumento, conforme define a própria reforma da previdência. O prefeito Edivaldo Holanda Júnior acaba de enviar 0% de reajuste para os servidores públicos e manda um projeto de aumento da alíquota da previdência para 14%, sem nenhum estudo técnico que avalize essa majoração. No Congresso, em meio da pandemia, Bolsonaro consegue aprovar ataques aos trabalhadores, com apoio do PT, PCdoB, PSB e PSOL. Então fica fácil se dizer de oposição no discurso e apoiar nacionalmente esses ataques aos trabalhadores e aplicar em seus estados essas mesmas políticas. Para o PSTU, esses partidos precisam sair de cima de muro e parar de pensar apenas nas eleições de 2020 e 2022.


O PSTU defende ainda a ideia de diminuição social entre as classes? Se sim, como isso é possível ocorrer?
O PSTU é um partido da classe trabalhadora. Acreditamos que somente os trabalhadores, ao assumir o poder, podem governar para si próprios, pois são a maioria da população e que geram a riqueza, e não os patrões que expropriam toda esta riqueza, explorando cada vez mais os que trabalham. Em São Luís, temos, dentre as capitais, os piores indicadores sociais de saúde, educação, trabalho, moradia, saneamento básico, dentre outros. Precisamos mudar esta realidade, mas aplicando os recursos da forma que forem definidos nos Conselhos Populares. Não podemos continuar garantindo os investimentos públicos nas áreas “nobres” da cidade de São Luís, deixando a maioria dos bairros da periferia sem serviços e equipamentos públicos. Precisamos combater e denunciar o que fez o prefeito Edivaldo Holanda Júnior(PDT), ao encaminhar à Câmara Municipal de São Luís, não respeitando os anseios da população, uma proposta de revisão do Plano Diretor que retira 41% da zona rural para transformar em zona urbana e industrial (ampliando a poluição em nossa cidade e buscando retirar milhares de famílias que moram e produzem na zona rural), busca reduzir a capacidade de retirada de água subterrânea, reduzir as áreas de dunas e de proteção permanente, dentre outras aberrações.
Um dos pré-candidatos na majoritária ludovicense defende a criação de um "consórcio" para derrubar a candidatura dele este ano. O senhor entende que existe, de fato, este "consórcio"?
Não digo que é para derrubar a pré-candidatura de A ou de B. Mas existem, sim, várias pré-candidaturas ligadas ao governo do estado, mesmo que elas tenham surgido de desentendimentos internos deste amplo grupo que dá sustentação ao governo de Flávio Dino. Se formos ver esses pré-candidatos, são deputados estaduais e federais ligados ao governo estadual e ex-secretários estaduais.


O pré-candidato Franklin Douglas, do PSOL, já fez algumas críticas ao PSTU. O partido, por outro lado, também já rebateu o pré-candidato em artigos desde o início do ano. Porque tem sido cada vez mais abalada a relação entre PSTU e Franklin?
Não personalizamos em figuras, mas na atuação do partido. Como disse, o PSOL deu uma grande guinada no último período, se aproximando, inclusive, de partidos do centro. Votou, no Congresso, ataques aos trabalhadores, como a MP 936 que reduz em até 70% dos salários dos trabalhadores em meio à pandemia do coronavírus e aumenta jornada dos trabalhadores bancários. Em São Luís, militantes do PSOL tem feito a defesa da construção de um porto privado na comunidade do Cajueiro em detrimento das centenas de famílias que moram e trabalham há décadas na região.
Como o senhor observa a atual divisão de cotas públicas para o uso dos partidos políticos?
Um verdadeiro absurdo. Primeiro deveríamos acabar com o fundo partidário que é um dos principais responsáveis pelo fisiologismo político e corrupção interna dos partidos. E o fundo público é um mar de dinheiro (R$ 2 bilhões), dividido de forma desproporcional, para manter quem está no poder e continuar usufruindo de recursos públicos, atacando os trabalhadores. Esses recursos deveriam ser destinados este ano para o combate à pandemia do coronavírus e disponibilizado um valor mínimo, não esse absurdo de dinheiro público, de forma igualitária entre os partidos, para a garantia do processo eleitoral. Nós do PSTU garantimos a nossa independência financeira através de cotas de nossos militantes. Não aceitamos dinheiro de empresários e banqueiros, pois temos a compreensão de que o partido precisa manter sua independência e autonomia para se manter firme, sem amarras, na defesa dos trabalhadores e do povo pobre.


Em 2020, as eleições terão uma configuração nova e exigirá modificações na abordagem dos candidatos aos eleitores. Na sua visão, isso privilegia ainda mais as legendas que contam com uma estrutura mais robusta?
As eleições sempre beneficiarão quem tem o poder econômico, principalmente pela disponibilização desse alto valor do fundo público e a manutenção do fundo partidário, que somos contra. São estruturas imensas montadas com o intuito de poderem aparecer nos vários veículos de comunicação, buscando iludir os eleitores e estimulando a corrupção eleitoral. Nós, este ano, não teremos tempo de TV, prejudicando ainda mais a nossa aparição e a divulgação de nosso programa. A grande imprensa também tem a tendência de cobrir, principalmente no período oficial de campanha, as candidaturas que são apoiadas pelos que estão no poder ou que tem mandatos eletivos. Sempre temos muita dificuldade de participar de debates, principalmente na TV. Mas vamos investir nas várias redes sociais e buscar, mesmo que limitado pela pandemia, fazer contatos e expor nosso programa para a população de São Luís, principalmente da periferia de nossa cidade. l

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