Saúde

Dia do Homem: atenção e consciência nos cuidados com a saúde masculina

Para muitos homens, a saúde não é vista como algo prioritário; O Estado explica porque os cuidados devem ser tomados desde cedo

Kethlen Mata/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

[e-s001]São Luís - Nesta quarta-feira, 15 de junho, é comemorado o Dia do Homem. A data passou a ser celebrada em 1999, em Trinidad e Tobago, pelo médico Jerome Teelucksingh, que com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), criou a data com o intuito de conscientizar as pessoas sobre os cuidados da saúde. Uma pesquisa da revista SAÚDE, a área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril e o Instituto Lado a Lado pela Vida, com o apoio da farmacêutica Astellas, apontou que quase 40% dos homens até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal, e quase metade dos homens do estudo estavam acima do peso e grande parte apresenta problemas como hipertensão (39%).

Muitos homens se lembram de ir ao médico, apenas durante o novembro azul – mês de luta contra o câncer de próstata e conscientização sobre a saúde masculina, porém, os cuidados devem ser feitos durante todo o ano, para evitar doenças e problemas que podem ser resolvidos antecipadamente, evitando algo mais grave no futuro. “Em relação à mortalidade, no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a diferença entre homens e mulheres é significativamente maior entre 15 e 39 anos de idade, sendo que, no ano de 2010, a chance de homens de 22 anos morrerem era 4,5 vezes maior do que mulheres da mesma idade, com as causas externas sendo apontadas como as principais causas de morte entre os homens brasileiros nessa faixa etária”, explica Rosana Castello Branco, médica da família.

Formação histórica
Rosana Castello Branco, esclarece que a formação masculina foi conduzida por um processo histórico através da cultura patriarcal desde os primórdios da humanidade. “Se estabelecia uma hierarquia entre homens e mulheres. É visto que o homem, desde os primórdios, apresentava uma supremacia, percebendo-se como ser invulnerável, o qual foi ensinado a não chorar e a reprimir suas emoções, colocando a masculinidade como sinônimo de virilidade”. “Baseando-se em argumentos fortemente consistentes ao longo dos anos, a população masculina percebe o cuidado à saúde como algo que não é peculiar à masculinidade, ignorando a importância da prevenção de doenças”, completa. Dessa maneira, muitos homens se tornam alheios aos serviços de saúde, suscita sentimentos de intimidação e distanciamento, fazendo com que haja o desconhecimento acerca das inúmeras possibilidades fornecidas pela Saúde pública.

O jovem Pedro Costa, de 23 anos, conta que nunca deixou de ir ao médico por vergonha ou qualquer outra coisa que o impedisse de cuidar da sua saúde. “Isso está muito aliado à minha criação e ao reflexo da figura masculina e paterna que sempre tive em casa – que não era apelativa ao lado viril, mas sim igualitário”, diz. “Tenho vários primos, tios, que não se cuidam muito, e realmente não se importam com a saúde. Só procuram quando estão velhos, isto é, não trabalham na prevenção, mas sim na cura quando já estão mal”, reforçou.

Prevenção
Atualmente a política de assistência à saúde do homem na ótica dos usuários é vista apenas como a prevenção do câncer de próstata, no entanto, as doenças que mais atingem uma alta taxa de mortalidade nessa população, são doenças cardiovasculares, acidentes automobilísticos, violência e as neoplasias (próstata, pênis, pulmão, estômago em sua maior incidência). “Importante orientar que a oferta dos serviços, na rede pública devido uma necessidade de adequação às demandas de maior vulnerabilidade à saúde do homem se estendeu as doenças crônicas como hipertensão, diabetes, dislipidemias, programa do combate ao fumo, educação no trânsito, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, programa de combate à álcool e drogas ,promoção à saúde (como orientações nutricionais, prática adequada de exercício físico), além de programas destinados à saúde mental”, ressalta a médica da família.

Pedro Costa, trabalha como promotor e condutor de Marketing, e admite que a preocupação com a saúde também está ligada ao trabalho. “Me preocupo em ter cuidados diários, como exercícios físicos, manter uma alimentação adequada, beber água. É algo que prezo bastante, pois, odeio ficar doente, e nem posso”, afirma. O vendedor de automóveis, Marcelo Freitas, de 56 anos, afirma fazer seu check-up anualmente. “Faço uma bateria de exames, ou seja, diabetes, próstata, abdômen, tireoide e coração, todos que sejam necessários para eu ter uma saúde boa. Importante é ter saúde, independentemente da idade”, frisa Marcelo Freitas.

SAIBA MAIS

Saúde do homem Trans

Uma população que ainda é bastante negligenciada é a de homens transexuais, pois, o processo de ir até um hospital pode ser bastante difícil para alguns, seja por olhares, ou problemas com o próprio sistema de saúde que não atende suas necessidades. No Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), existe um ambulatório de Sexualidade, destinado para atender essa comunidade, seja psicologicamente, biologicamente, ou ainda, prestando serviço assistencial. O psiquiatra João Arnaud, faz parte do programa e explica como acontece o acompanhamento. “Os homens trans, são acompanhados no Serviço de forma interdisciplinar, avaliando a parte psíquica, passam com regularidade por mim, realizam seguimento em psicoterapia, e participam de atividade de Grupo terapêutico. Do ponto de vista hormonal, a Endocrinologista os assiste, bem como a Sexóloga – que no nosso serviço é uma Ginecologista – que colhe preventivo de rotina, realiza mamografia e etc.”, afirma João Arnaud.

Antônio Bandeiras, professor de teatro, conta que não costuma ir muito ao médico. “Rotineiramente eu não vou ao médico, mas faço parte do ambulatório de sexualidade. Acabo procurando assistência médica, através dele", diz. Ele relata que nunca teve dificuldade com os médicos do programa da sexualidade do HU-UFMA, somente em outros hospitais que não possuem esse acompanhamento especializado. "Com a questão dos pronomes, que eles sempre têm dificuldade”, conclui.

Personagem da notícia

[e-s001]Arthur Leonard, 21 anos, desenhista e técnico em informática

Arthur Leonard, de 21 anos, é técnico de informática e desenhista, ele relata sua experiência com a saúde sendo um homem trans. “Começando pela terapia hormonal que é oferecida gratuitamente pelo Ambulatório Lilian Flores, mas que não tem nada de acessível. Não temos acesso à informação alguma, não sabemos os horários ou dias de funcionamento para esse tipo de atendimento. Eu fiquei sabendo que lá tinha isso porque uma pessoa que por sorte conseguiu ser atendida me contou. Tentei ir lá por 4 semanas seguidas, mas não consegui atendimento, sempre uma nova desculpa, ou a psicóloga responsável não estava, ou no dia não ia ter mais nada porque havia sido cancelado, entre outras coisas. Isso me fez até pensar em começar o tratamento por conta própria o que poderia colocar minha saúde em risco. Os hormônios são fortes demais, porém o que fazer quando eu não consigo um atendimento básico que eu tenho direito? É bem difícil conseguir algo sendo uma pessoa trans, mas eu sigo tentando. No geral, eu detesto ir à hospitais ou consultas, nem sei qual a última vez que fui ao ginecologista simplesmente por medo de sofrer transfobia ou simplesmente para evitar. Eu acabo não cuidando de mim da forma correta, porque sinto que nem todo profissional da área da saúde vai me receber com respeito como deve ser, isso me deixa inseguro e eu acabo não procurando atendimentos básicos como esse”.

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