Artigo

Cada macaco no seu galho

Lino Raposo Moreira, PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, declarou no sábado, dia 11/07/2020, que “o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável”. Foi um Deus nos acuda. A declaração provocou mais alvoroço no governo e entre os militares, do que, juntas, todas as manifestações na Esplanada dos Ministério pedindo o fechamento do Congresso e do STF, organizadas pelo gabinete do ódio, instalado no terceiro andar do palácio do Planalto, numa sala ao lado da do presidente, e comandado, o gabinete, por Carlos Bolsonaro, o famoso 02. Aí se produzem crimes em escala industrial. Como a numeração adotada pelo próprio pai sugere, 02 é o segundo de três filhos do presidente. O 01 e o 03 estão se havendo com a Justiça, por acusações de cometimento de vários crimes também.

De qual genocídio Gilmar Mendes fala? Do genocídio contra os índios? Afinal Bolsonaro vetou artigos da Lei 14.021, cuja aprovação no Congresso foi alcançada com o fim de dar proteção a eles durante a pandemia do corona vírus. Os vetos eliminaram medidas a serem aplicadas obrigatoriamente, como o acesso das aldeias a água potável, materiais de higiene, leitos hospitalares e respiradores mecânicos. Se tais cortes não tiveram a intenção de ameaçar a vida desses seres humanos, então será permitido igualmente borrifar-se, de avião, venenos letais sobre as aldeias. No entanto, difícil será encontrar no Brasil grupos populacionais mais necessitados de proteção especial.

Quando se fala de proteção aos indígenas, lembro de uma passagem do livro “Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão”, de 1818, de Raimundo José de Sousa Gaioso. Diz o autor: “Não podendo, pois, contar-se com meios brandos [a fim de expulsá-los de suas terras], parece que se deveria recorrer aos meios violentos: mas as leis se lhe opõem”. É a mesma visão do governo Bolsonaro, velha de mais de duzentos anos. Como não é possível matar todos a tiro, melhor matá-los a covid 19. É mais barato.

Mas não é esse o genocídio referido por Gilmar. Ele fala da gestão da pandemia pelo governo federal; ou da falta de gestão. O ministério da Saúde, meses há, não tem um ministro. Um general é o interino, após a demissão conturbada dos dois anteriores. Pazuelo - esse o nome dele - levou para o órgão um pelotão, uma companhia, um batalhão ou sei lá o quê, com o fim de administrar o órgão. Nenhum componente dessa tropa, ou quase nenhum, tem formação elementar de administração em saúde pública. A consequência mais saliente dessa situação bizarra pode-se ver na aplicação de apenas 29% dos recursos orçamentários do ministério para este ano. Mas atenção. Em toda a administração federal há mais de 30.000 militares da ativa e da reserva batendo cabeças, não por incompetência propriamente, mas por inexperiência. Desse arranjo, resultam vidas perdidas na prática. Elas não o seriam se servidores experientes, ou aposentados, fossem chamados a trabalhar. Se não é genocídio, anda perto.

Gilmar disse: “o Exército está se associando a esse genocídio”. Ele não acusou, repito, não acusou o Exército de ser genocida. Observou apenas a presença excessiva de militares na administração federal, levando as abundantes más ações do governo a mancharem a imagem da Força Armadas. Ele está afirmando não valer a pena elas se contaminarem com um governo como esse, que é indiscutível vírus administrativo.

É melhor cada macaco ficar no seu galho.

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