Covid-19

Governo federal entrega kits incompletos para teste de Covid-19

O Ministério diz já ter iniciado a compra de 15 milhões de unidades do reagente em falta e culpa a escassez global de insumos como entrave

Agência Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
(Teste Covid-19)

Após mais de quatro meses de pandemia no País e sucessivas promessas do Ministério da Saúde de realizar testagem em massa para conter a covid-19, o Brasil só atingiu 20% da capacidade de exames prevista para o período de pico. Além de distribuir menos testes do que o projetado, o governo Jair Bolsonaro também tem feito entregas de kits incompletos, sem um dos reagentes essenciais para processar as amostras, segundo secretarias de saúde afirmam ao Estadão. O Ministério diz já ter iniciado a compra de 15 milhões de unidades do reagente em falta e culpa a escassez global de insumos como entrave para a ampliação do diagnóstico.

Em maio, o então secretário de vigilância em saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, declarou que a meta era realizar 70 mil exames de RT-PCR por dia nos laboratórios públicos do País durante o período “mais crítico da doença” que, segundo ele próprio, deveria acontecer em junho. Embora a projeção de mais casos tenha se confirmado, a rede de laboratórios públicos centrais (Lacens) fechou o mês passado com média de apenas 14,5 mil testes diários -- ou 20,8% do previsto, segundo dados do último boletim epidemiológico do ministério.

Considerado padrão-ouro para diagnóstico da covid, o teste PCR é capaz de detectar precocemente o vírus e tem alta taxa de precisão. Especialistas em saúde defendem que sua utilização é fundamental para identificar as pessoas infectadas, diminuindo assim o risco de propagação da doença.

“O teste sorológico, como o teste rápido, só identifica se há presença de anticorpos, ou seja, se aquela pessoa já teve contato com o vírus. É como olhar para trás”, explica Priscila Franklin Martins, diretora executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). “Já o RT-PCR é indicado para a fase aguda da doença, porque consegue identificar quando a pessoa é contaminante. Assim, é possível isolar os casos positivos e mapear com quem houve contato, como familiares e amigos.”

Em pelo menos três oportunidades, o Ministério da Saúde anunciou que ampliaria esse tipo de testagem para conter a pandemia. No último anúncio, no início de maio, a previsão era realizar 24,2 milhões de testes PCR neste ano. Até agora, contudo, a pasta diz ter distribuído 4,4 milhões de reações do tipo aos Estados, mas somente 1,2 milhão de exames foi efetivamente feito no País, o equivalente a 4,9%.

O principal entrave para ampliar a testagem é a falta de um insumo usado na primeira etapa do processamento da amostra. Nela, os laboratórios usam reagentes para extrair o RNA do vírus. Sem fabricação em escala industrial no Brasil, a maior parte desse material é importada.

Segundo os Estados, o ministério tem enviado somente as reações usadas nas etapas seguintes da análise. Após a extração, é preciso realizar a transcrição do RNA em DNA (2ª fase) e a amplificação do material genético obtido (3ª fase) para, então, verificar se é compatível com o do coronavírus.

Diretor-geral do Lacen da Paraíba, Bergson Vasconcelos relata que o laboratório tem 84 mil reações de amplificação de DNA, enviadas pelo governo federal, mas somente 3 mil de extração. “Quanto ao insumo de amplificação, que é o que aparece nas plataformas oficiais do ministério como reações distribuídas, estamos tranquilos. Mas o kit de amplificação sem o kit de extração de RNA não serve de nada.”

Segundo afirma, o laboratório poderia processar mil amostras por dia, mas faz de 450 a 600 por causa da falta do reagente. “Os Lacens de todo o País foram estruturados e treinados nos últimos meses e hoje temos condições de dar essa resposta à pandemia, mas precisamos dos insumos.”

A diretora do Lacen de Rondônia, Cicileia Correia da Silva, conta que o ministério não envia insumos de extração para o Estado desde abril. “Como havia uma programação original do envio, alguns Estados não fizeram processos próprios de aquisição”, relata. “Iniciamos tentativas de compra aqui, mas é difícil encontrar fornecedor para pronta-entrega. Efetivamos uma compra há 15 dias com a promessa de 25 mil insumos de extração, mas até agora só recebemos mil.”

Segundo Cicileia, mesmo com pessoal capacitado e kits de amplificação sobrando, o Lacen-RO precisou enviar, na semana passada, 1,4 mil amostras para serem analisadas da Fiocruz por falta de insumos de extração em Rondônia.

Goiás também diz estar recebendo poucos insumos de extração. “Estamos com 67 mil reagentes de amplificação e só 4,8 mil de extração, mas chega uma média de 500 novos exames para análise todos os dias no laboratório. Se não houver reposição, podemos ficar desabastecidos em alguns dias”, destaca Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde de Goiás.

No Paraná, o governo local diz que só recebeu 78,5 mil das 716,4 mil reações que o ministério informa ter distribuído ao Estado -- e todas seriam de amplificação. “Não recebemos reagentes para fazer a extração de RNA. Não havia disponível para compra, este é o maior problema dos laboratórios do Brasil.”

Já o Tocantins relata que chegou a pegar emprestado 2,5 mil kits de extração de Lacens de Goiás e do Maranhão. “Importante ressaltar que mesmo após o Ministério da Saúde suspender abruptamente o fornecimento de kits de extração, (...) o Lacen não suspendeu a realização dos testes”, diz boletim epidemiológico do Estado.

Maranhão e São Paulo confirmam o problema e afirmam que só não estão em situação semelhante porque fizeram aquisições próprias. “Em abril, São Paulo chegou a ter uma fila de exames e montamos uma plataforma de laboratórios. Compramos 1 milhão de kits tanto de amplificação quanto de extração e não dependemos mais dos kits do ministério”, diz Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã e responsável pela rede de testagem em São Paulo. Hoje, a capacidade do Estado é de 8 mil processamentos por dia.

A Secretaria da Saúde do Maranhão relata que, com investimentos próprios, conseguiu chegar a uma capacidade diária de análise de 1,5 mil amostras. Uma das últimas compras feitas foi a de 10 mil insumos de extração. “O Ministério da Saúde tem informado dificuldade com a compra de kits de extração para reabastecimento dos laboratórios de todo o País.”

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.