Editorial

Não era uma "gripezinha"

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Ao testar positivo para a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro se tornou um dos principais assuntos do noticiário nacional desde terça-feira (7). Até mesmo a imprensa internacional repercutiu a informação considerando o histórico de declarações negacionistas sobre o coronavírus, que, para ele, não passava de uma “gripezinha”. Em seu estilo, Bolsonaro disse que está sendo medicado com hidroxicloroquina - droga que vem defendendo como tratamento para a Covid-19 e que não há comprovação científica da sua eficácia para a doença.

Para muitos, não foi surpresa a contaminação do presidente pela Covid-19. Afinal, há meses ele desafia a doença, sem isolamento social e sem usar máscara em eventos públicos, ocasiões em que ele abraçava e beijava seus apoiadores e tirava selfies. A verdade é que Bolsonaro sempre minimizou a pandemia.

Nos últimos dias, o presidente participou de uma live com outras seis pessoas, foi a um encontro com empresários e esteve em um almoço em Brasília. Durante esses compromissos, que foram alguns dos diversos que teve recentemente, ele não respeitou o distanciamento social, medidas recomendadas por autoridades médicas para evitar a propagação do novo coronavírus.

O presidente utilizou as redes sociais ontem para fazer um balanço da gestão da crise da pandemia do novo coronavírus pelo governo federal. Bolsonaro disse que agiu em defesa das vidas e empregos ‘sem propagar o pânico’ e, mais uma vez, voltou a defender o uso da hidroxicloroquina. E filosofou: “O combate ao vírus não poderia ter um efeito colateral pior que o próprio vírus".

Para o infectologista Roberto Focaccia, o presidente da República contraiu o novo coronavírus como consequência das atitudes que tem adotado desde o início da pandemia. Ele considera que o próprio anúncio de Bolsonaro sobre a doença foi irresponsável, ao colocar em risco os repórteres que estavam ali perto, principalmente após retirar a máscara para falar com a imprensa.

Em e tratando de contaminação pela Covid-19, uma pesquisa revela que 21,5% dos médicos dizem acreditar que o número de mortes provocadas pelo novo coronavírus é maior do que as estatísticas oficiais nacionais. Para 45,4%, o volume de casos é superior ao informado pelo Ministério da Saúde. A desconfiança é um pouco menor em relação aos dados das secretarias estaduais de saúde: 18,5% veem subnotificação dos óbitos e 37% da quantidade de casos.

Quase 2 mil médicos de 23 estados do país foram ouvidos na pesquisa. Entre os que participaram, 60% estão atendendo em hospitais ou prontos-socorros que recebem pacientes com Covid-19. Desses, 38,5% atuam em serviços públicos, 33% em privados e 28,5% em ambos.

Entre os que atendem pacientes com o novo coronavírus, 58,4% disseram que não observaram nenhuma morte causada pela doença. Para 29,1% desses profissionais que estão na linha de frente do combate à pandemia, os números de mortes divulgados pelos órgãos oficiais estão corretos. Um percentual um pouco menor (24,6%) também avalia que os números de casos estão próximos da realidade. Há ainda 15% que não conseguem ter uma opinião formada a respeito das estatísticas.

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