Artigo

De volta para o futuro

Marcelo Coutinho, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Na análise política, há uma fórmula fácil de dizer que o futuro repetirá o passado. Hoje mesmo, há uma avaliação cada vez mais corrente de que 2022 repetirá 2018. Isto é, teríamos novamente no segundo turno, de um lado, Bolsonaro, e de outro, algum candidato apoiado por Lula, na velha tradição direita versus esquerda, disputando o centro político, a partir da moderação do discurso extremado em versões de paz e amor, para, enfim, alcançar o chamado “eleitor mediano”, aquele que mais representa o espírito majoritário do eleitorado.

Há, sim, motivos para se pensar que as próximas eleições presidenciais serão como as últimas, já que tanto Lula quanto Bolsonaro mantêm cerca de 20% das preferências eleitorais mais fixas, o que seria suficiente para colocá-los frente a frente de novo no segundo turno. Bolsonaro não é um “pato manco”, como se diz na gíria importada daqueles presidentes mortos eleitoralmente. Assim como Lula em 2005, após o mensalão, Bolsonaro não pode ser subestimado agora, mesmo com toda a crise que o abate.

No entanto, diferentemente de 2005, hoje a economia está destruída. Lula surfou a onda do crescimento mundial, propiciado pelo boom das commodities, o que possibilitou recuperar-se dos escândalos com políticas de expansão econômica, como o PAC, e a ampliação do bolsa família. Era um momento de muito emprego, investimentos, de dinheiro farto e barato, com o Real valorizado. A moeda brasileira valia mais que o dobro do que vale hoje frente ao dólar. Foi naquele momento que começaram a chamar o Brasil de emergente, nova potência. E Lula foi, assim, reeleito em 2006, apesar da euforia da oposição um ano antes.

Agora, o quadro é outro. Vivemos uma depressão econômica combinada com uma profunda perda de credibilidade internacional. Mesmo que a economia volte a crescer nos próximos dois anos, tal recuperação não será nem de longe parecida com a era das commodities, seja porque a pandemia ainda assombra o planeta, seja porque as contas do governo se encontram numa situação muito mais preocupante. Estamos mais próximos de um colapso fiscal do que de um milagre econômico.

Encerramos uma nova década perdida, e estamos distantes de um novo ciclo mais robusto de crescimento. O desemprego avassalador tem feições agora permanentes. Os milagres econômicos como os de 1975 e 2005 acontecem na nossa história de 30 em 30 anos, ou mais, obedecendo a lógica da globalização, hoje sem o vigor de outrora. Se o futuro vier mesmo a repetir o passado, o Brasil tem tudo na nova década para ser como nos anos 1990, de reformas estruturais e crescimento baixo. É possível até que tenhamos um democrata em Washington.

Além da economia prejudicada, as mortes geradas pela pandemia de 2020 não são nada abstratas. A rejeição a Bolsonaro já era alta em 2018. Mas agora cresceu demais, e o presidente perdeu o discurso que o elegeu. Em um novo enfrentamento apertado com o PT, o resultado poderia ser outro. A questão é o que vai acontecer com o centro democrático. Os candidatos tucanos têm dificuldade em se encontrar. Os governadores também não saem bem dessa crise. Mas há um nome diferente que pode fazer de 2022 uma nova história.

O ex-ministro Moro conta com cerca de 20% de apoio sólido na sociedade. E pode ser beneficiado pelo cenário político. Enquanto Bolsonaro e o PT dividem o eleitorado dos programas assistenciais, o ex-juiz pode crescer muito nas classes médias. Após tanta instabilidade nos últimos governos, o país vai precisar de um equilíbrio e seriedade que empolgue. Para emergir como opção concreta, Moro precisará fazer política com letra maiúscula. Aquela política que surpreende e anima, possibilitando um novo futuro.


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