Consequência do isolamento

A luta para não ficar mais ansioso com o isolamento e a pandemia

Indefinições quanto à permanência da humanidade e outras dúvidas acerca da configuração mundial colocam este perfil de público em xeque e em alerta; suporte é necessário nos casos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

[e-s001]São Luís - O país vive há mais de três meses um período, já exaustivamente dito, histórico. São mais de 100 dias de dores, de fortes emoções e, principalmente, de incertezas sobre o que será da vida e como será comportamento das pessoas, após a pandemia do coronavírus.

As sequelas das mais de 60 mil mortes, contabilizadas pelo Ministério da Saúde (MS) até o início deste mês de julho, e os mais de 2 mil óbitos no Maranhão no mesmo período, são evidenciadas nas estruturas das famílias atingidas pelas perdas. Mas, mesmo para quem não teve um ente ou um amigo que faleceu em decorrência da doença ou quem não vive diariamente o drama da Covid-19, costuma apresentar sinais de descontrole emocional.

Se para os mais estáveis emocionalmente, passar pela pandemia já é um drama, enfrentá-la com uma bagagem anterior de instabilidade torna o enfrentamento uma verdadeira epopeia. O Estado identificou pessoas que estão sofrendo caladas, tomadas pela angústia e dor causadas pela tragédia epidemiológica e outras que decidiram falar sobre o que as incomoda.

Os efeitos psicológicos para quem já apresenta fragilidades nos aspectos emocionais estão ligados a termos como ansiedade e depressão. Apontados de forma estereotipada na sociedade como as “doenças dos séculos”, ambas atingem percentuais consideráveis da população no território nacional.

Um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena. Entre março e abril, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%, enquanto para os quadros de ansiedade, o índice foi de 8,7% para 14,9%.

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Nunca é tarde para ansiosos e impulsivos procurarem ajuda

Em São Luís, O Estado conversou com pessoas com essas características. Em alguns casos, os atingidos não querem expor a identidade, com receio da possível repercussão negativa de sua condição. Eles temem, de forma coerente, o retorno de uma sociedade que ainda não está preparada infelizmente para lidar com determinadas “diferenças” de comportamento.

Enquanto uns preferem a cautela, outro juntaram toda a sua coragem e se prontificaram a contar suas histórias. Especialistas afirmam que procurar um psicólogo para dar suporte não “é coisa de louco” e é um ato necessário até mesmo para quem acha que não sofre do mal da ansiedade.

[e-s001] Contar sua história para quem quiser ouvir
Os primeiros efeitos de ansiedade e depressão passaram a surgir ainda no período da adolescência. No exercício da função profissional e anos mais tarde, a jornalista e pedagoga Nívia Lins decidiu contar como passa pela pandemia, tendo uma bagagem anterior de predisposição a comportamentos ansiosos. Ela teve um mérito raro para quem tem a disposição de ser ansioso: admitiu o problema. E mais, decidiu contar a sua história.

A pressão pelo êxito profissional e possíveis problemas de ordem pessoal explicitaram os primeiros sinais de impaciência exagerada e outras consequências. “Na adolescência, comecei a sentir os efeitos da depressão e ansiedade. Apatia, frustações, insônia, dificuldade de concentração. Foi um período muito difícil”, disse.

Após os primeiros sinais, a jornalista procurou ajuda. “Desde os primeiros sinais, procurei ajuda psicológica”, afirmou. Falar do problema é, ao mesmo tempo sinônimo de coragem da jornalista, um ato que rememora as lembranças negativas de sua vida.

Por isso, falar sobre o tema ainda é um certo tabu para ela. Para evitar que os problemas retornem, a hoje orientadora das questões ligadas à ansiedade e possível depressão cria estratégias, especialmente para lidar com as questões em meio à pandemia. “Atualmente, adoto métodos para lidar com a ansiedade e a depressão como, por exemplo, treinar a respiração e tentar evitar situações de estresse”, afirmou.

Projeto contra os males do século
Enfrentar a depressão e a ansiedade é o foco do projeto intitulado “Papo de Domingo”, cujas lives abordam temas ligados à elevação dos índices de produtividade atacando questões ligadas ao comportamento.

Em parceria, o projeto já promoveu duas lives no fim de junho, com sucesso. “A ideia surgiu quando assisti no Instagram de um amigo um IGTV dele contando suas sensações, em um dia de muita ansiedade”, disse Nívia Lins.

O uso das redes de forma inteligente serviu para que os responsáveis pela iniciativa mensurassem a própria audiência e percebessem o quanto outras pessoas enfrentam os mesmos conflitos em São Luís e em outras cidades. “Naquele momento de compartilhamento, percebi que poderíamos ampliar nossa rede de apoio e ajudar outras pessoas que se identificassem com nossas experiências e quisessem também dividir conosco suas histórias. Já estamos indo para a terceira edição e temos percebido o interesse e a identificação de muitas pessoas sobre as abordagens”, afirmou.

Falar sobre o problema é um passo importante para resolvê-lo. Porém, entendê-lo é fundamental para solucioná-lo. “Existe sempre a possibilidade de que haja a evolução da ansiedade para a depressão. Em 24% dos casos, a ansiedade evolui para depressão, enquanto que inversamente, o percentual se constitui em 2% em que a depressão vai evoluir para um quadro ansioso”, conclui a psicóloga Norma Bittencourt.

NÚMEROS

4,2% a 8% foi o aumento do percentual de pessoas com depressão desde o início da pandemia

8,7% a 14,9% foi o aumento no percentual de pessoas ansiosas desde o início da pandemia

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