São Marçal

Com cancelamento de festas nas ruas, grupos criam alternativas de louvação

Boi da Maioba, por exemplo, realizará uma carreata, nesta terça-feira (30), como alternativa para não deixar o Dia de São Marçal passar em branco

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Faixa na Avenida São Marçal avisa que festejo só no próximo ano
Faixa na Avenida São Marçal avisa que festejo só no próximo ano (São Marçal)

São Luís - A tradicional Festa de São Marçal, que ocorre todos os anos na avenida que leva o nome do santo, no bairro João Paulo, em São Luís, seria realizada nessa terça-feira (30), quando se comemora o Dia Nacional do Bumba Meu Boi e o Dia Municipal do Boieiro. O local ficaria lotado, com mais de 300 mil pessoas visitando a região, para acompanhar o desfile dos grupos de sotaque de matraca. No entanto, devido à pandemia da Covid-19, o festejo foi cancelado. Apesar disso, algumas agremiações encontraram alternativas para se apresentar, respeitando o distanciamento social e as medidas sanitárias.

O Boi da Maioba, por exemplo, fará uma carreata pelas ruas de São Luís, como uma forma de louvar São Marçal, já que o festejo foi suspenso. A concentração acontecerá na Praça Maria Aragão, na região central da cidade, como informou José Inaldo Ferreira, presidente da agremiação, que, recentemente, fez uma live solidária, intitulada “Vai tocar, vai tremer”, que foi patrocinada pelo Grupo Mirante e pela Saúde Hospitalar. Toda a arrecadação foi revertida para a comunidade boieira em situação de vulnerabilidade social.

Conforme José Inaldo, a carreata percorrerá a Praia Grande, o Anel Viário, a Avenida das Cajazeiras, a Avenida Kennedy e a Avenida São Marçal, passando pelos bairros João Paulo e Filipinho. “É a Maioba com seu batalhão pesado. Fazendo a alegria do povo. Brincando boi para todos os santos. Somos grandes, porque somos feito de amor. Somos fortes, porque temos o povo ao nosso lado. Viva a Maioba!!! Viva São Marçal”, diz o trecho da nota informativa sobre essa romaria.

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Comemoração por título
O encontro que ocorreu no fim do ano passado parece ter sido uma adivinhação de que o festejo seria cancelado em 2020. Os grupos se reuniram em dezembro para comemorar o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, dado pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda da Unesco. O evento aconteceu na Praça João Lisboa, região central de São Luís. Bois de vários sotaques se apresentaram a várias pessoas, incluindo turistas. O evento foi encerrado com um cortejo pela Rua Grande até o Complexo da Deodoro.

Os brincantes chegaram aos poucos à praça. Grupos como Boi da Maioba, Boi de São Simão, Boi de Maracanã e Boi da Fé em Deus fizeram suas apresentações ao grande público. Vaqueiros, índias e caboclos de pena dançaram ao ritmo do bumba meu boi. O encontro de sons contagiou as pessoas. No meio da multidão, estavam Mãe Catirina e Pai Francisco, cujo drama sobreviveu ao período histórico e até hoje é lembrado nas rodas de conversa.

Cancelamento do festejo
O tradicional festejo foi cancelado por causa da pandemia do novo coronavírus, que alterou a rotina de outros setores da vida cotidiana, como educação, saúde e lazer. A festa é organizada pelo Instituto São Marçal e pelo Grupo Ação Voluntária. Durante o encontro, mais de 50 batalhões de bumba meu boi se apresentam na Avenida São Marçal, que fica repleta de pessoas, incluindo turistas, que sempre vêm ao Maranhão nessa época do ano para vibrar ao som das toadas. Documentários são produzidos sobre o evento em vários países. Na cidade de Porto, em Portugal, existe, também, a Avenida São Marçal.

Em 2013, o desfile foi exibido em mais de 120 países. Para o evento, banheiros químicos são disponibilizados para os brincantes e o público. Além de dois palanques, sendo um para idosos e pessoas com necessidades especiais, e outro para autoridades, a imprensa e a equipe de locução. Como este ano não haverá festejo, o Instituto São Marçal e o Grupo Ação Voluntária instalaram uma grande faixa na Avenida São Marçal, nas proximidades da Igreja São Judas Tadeu, avisando sobre o cancelamento.

O primeiro
O primeiro encontro de batalhões no bairro do João Paulo aconteceu em 29 de junho de 1928, quando os grupos Sítio do Apicum e Boi do Lugar dos Índios (em São José de Ribamar) se reuniram em um espaço onde hoje está situada a Praça Ivar Saldanha. Alguns estudiosos garantem que o Boi da Maioba também estava presente naquela reunião, que teria ocorrido a pedido do comerciante José Pacífico de Moraes. Este desejava, conforme historiadores, reproduzir um evento realizado desde 1924 na antiga localidade Vila do Anil, em São Luís, introduzindo-o no João Paulo.

Contudo, apenas em meados de 1985, a festa tomou o formato que é prestigiado na atualidade. Em homenagem ao santo, a Prefeitura da capital maranhense sancionou a lei que alterou o nome da Avenida João Pessoa para Avenida São Marçal.

Fiscalização na avenida
Apesar do cancelamento do festejo em honra a São Marçal, há rumores de que algumas pessoas estariam planejando se reunir hoje no João Paulo, para celebrar a data. Sobre isso, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) esclareceu que, em cumprimento às recomendações do atual decreto do Governo do Estado, a Polícia Militar, como sempre, fará seu papel constitucional conforme orientação do Comando Geral. O objetivo é evitar quaisquer ações que possam infringir a legislação, cujas sanções são previstas no artigo 268 do Código Penal Brasileiro (CPB).

Esse artigo se refere às infrações de determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. A pena é detenção, de um mês a um ano, além de multa. “Denúncias sobre aglomerações podem ser realizadas pelos contatos oficiais: (98) 99970-0608, (98) 98356-0374 e (98) 99162-8274. Eventuais ocorrências criminais devem ser encaminhadas à Polícia Civil”, assinalou a SSP/MA.

SAIBA MAIS

Patrimônio Cultural
O tradicional Encontro de Grupos de Bumba meu boi de Matracas ou Festa de São Marçal não é apenas um evento local, uma vez que a cultura maranhense ganhou o mundo com um importante título internacional. Isso porque o Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Essa conquista ocorreu por unanimidade e com louvor pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda da Unesco, reunido em Bogotá, na Colômbia, no dia 11 de dezembro do ano passado.

Em 2011, o Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão havia recebido o reconhecimento nacional e, um ano depois, na solenidade de titulação realizada em São Luís, o Comitê Gestor da Salvaguarda do Bumba meu boi entregou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural Nacional (Iphan) o documento solicitando a inscrição na Lista Representativa da Unesco.

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