Artigo

Ciência a serviço da vida

Natalino Salgado Filho, Reitor da UFMA, titular da Academia Nacional de Medicina, de Letras do MA e da AMM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Tive a alegria de participar, no último dia 18 de junho, de um simpósio virtual realizado pela Academia Nacional de Medicina, em homenagem aos 120 anos da Fundação Oswaldo Cruz. O evento teve o incentivo do presidente da Academia, Rubens Belfort Jr, e a condução do coordenador do simpósio e das Relações Internacionais da Fundação, Paulo Buss, além da participação de diversos acadêmicos, integrantes de órgãos ligados à ciência, reitores e pesquisadores. Destaco, ainda, a participação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, primeira mulher a ocupar a presidência daquela instituição. Nas falas e manifestações, diversas reflexões importantes foram expostas sobre essa que é a única instituição do mundo com multidisciplinaridade científica, abarcando ações plurais, com foco no desenvolvimento médico, sanitário e, sobretudo, humano.

As duas décadas, acrescidas ao centenário da Fundação Oswaldo Cruz, desafiam quaisquer palavras de merecido reconhecimento. Orgulho nacional, a instituição tem marcado a história do povo brasileiro nas mais diferentes faixas etárias e, principalmente, tem atendido ao chamado da coragem, em épocas de crise e desafios. Sempre olho para a Fiocruz como uma instituição que paira entre passado e futuro, de forma privilegiada. A instituição é, não só guardiã de memórias relevantes, mas também profeta de inovações. Essa imagem institucional me remete à metáfora de Jano, figura mitológica a quem foi dado por Saturno o dom de enxergar, ao mesmo tempo, passado e futuro. Sua estátua o reproduz como alguém que tem nas mãos uma chave e uma vareta, simbologia daquele que abre portas e aponta caminhos.

Os tempos denominados pandêmicos são propícios para que se confirme a resistência dos bravos. Sabe-se que a Fundação Oswaldo Cruz nasceu em meio a outra grave crise sanitária que se abateu sobre a humanidade. Nos idos de 1900, a peste bubônica ceifava vidas com ferocidade semelhante à Covid-19 e coube a Oswaldo Cruz, jovem médico, o papel de Dom Quixote, numa cruzada pela adoção de um protocolo de enfrentamento sanitário. No lugar dos imaginários moinhos de vento da literatura de Cervantes, Cruz deparou-se com os reais moinhos de revoltas e resistências de toda sorte. Mas os visionários são, por natureza, indesistíveis.

As histórias da Academia Nacional de Medicina e da Fundação Osvaldo Cruz se interligaram de diversas formas: primeiro, quando do ingresso de Oswaldo Cruz, na ANM e, depois, pela presença, nos quadros da ANM, de diversos integrantes da Fiocruz.

Neste 2020, a instituição continua dando mostras de sua grandeza: em menos de dois meses, construiu, em Manguinhos, uma gigantesca unidade hospitalar destinada a pacientes graves contaminados pela Covid-19 que, diferente de outros hospitais de campanha, ficará como um legado para o SUS e para a sociedade brasileira. Diante dessa grande história institucional, achei oportuno citar os conhecidos versos da Canção do Tamoio do poeta maranhense Gonçalves Dias que, em sábio conselho, proclama: "No passo da morte/ Triunfa, conquista/ Mais alto brasão. (...) Viver é lutar. Se o duro combate/Os fracos abate/ Aos fortes, aos bravos/Só pode exaltar”.

Em Manguinhos, arcabouços físicos sustentam e promovem a expansão da ciência, da tecnologia e da inovação. Ali, mentes privilegiadas assumem compromissos diários com a erradicação de desigualdades sociais, com o fortalecimento do SUS e com a pesquisa séria e dedicada. Tendo como berço uma crise sanitária, a Fiocruz cresceu, engrandeceu. Às voltas com o cenário semelhante ao seu nascedouro, esta centenária instituição vê seu nome ultrapassar fronteiras, a ponto de merecer da Organização Mundial de Saúde o epíteto de laboratório de referência das Américas, no enfrentamento à praga da Covid-19, uma ratificação de seu já conhecido papel de promotora de saúde e qualidade de vida em seus mais diversos aspectos.

Em meio aos tempos tenebrosos, temos o regozijo de ver a forte e brava Fiocruz resistindo às lutas e batalhas, enquanto alça voos mais altos nos céus do orgulho nacional, pela valorização da ciência. A Fiocruz, assim como Jano, é nosso repositório não só de história sanitária e científica, mas também a precursora de uma profícua produção tecnológica, neste novo amanhã que já começa hoje.


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