Fenômeno

Meteorologia minimiza nuvem de poeira, mas prevê ventanias em SL

Ventos fortes se devem à influência das marés solar e lunar, que têm seu ápice com a sizígia; fenômeno oriundo da África repercute no Maranhão

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Maré de sizígia atinge região da Ponta d'Areia, sempre acompanhada por ventos fortes
Maré de sizígia atinge região da Ponta d'Areia, sempre acompanhada por ventos fortes (maré são luís)

SÃO LUÍS - O período chuvoso já causou diversos transtornos em São Luís desde janeiro, como alagamentos, desmoronamentos de prédios e destruição de vidraça de supermercado. No interior maranhense, onde várias pessoas ficaram desalojadas e desabrigadas, municípios decretaram Situação de Emergência em decorrência desses prejuízos. Mas, de acordo com o Laboratório de Meteorologia (Labmet), do Núcleo Geoambiental da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), com o início da estação seca no estado, os ventos serão mais fortes.

Segundo o meteorologista Márcio Eloi, do Núcleo Geoambiental da Uema, julho é considerado o mês de transição da estação chuvosa para a estação seca, o que gera a tendência de aumento da velocidade dos ventos, originados pelas diferenças de pressão e de temperatura que existem na atmosfera, ou seja, deslocamentos de massas de ar, fundamentais na dinâmica terrestre. Por este motivo, é natural que ocorram essas rajadas em São Luís durante esse período.

“Julho, agosto, setembro, outubro e novembro são meses marcados por grande intensidade dos ventos. Em setembro e outubro, as rajadas atingem uma magnitude máxima, do ponto de vista climatológico”, explicou Márcio Eloi. De acordo com ele, as velocidades altas dos ventos podem ser explicadas pela entrada na estação seca. Na transição, ou seja, em julho, o volume de chuvas diminui. Após o período chuvoso, ocorrem algumas mudanças meteorológicas, como o aumento da temperatura e redução da umidade do ar.

“O vento fica mais intenso. Na estação seca, climatologicamente falando, os picos desses ventos ocorrem em setembro e outubro, principalmente, em outubro. Mas a estação seca propriamente dita começa em agosto”, esclareceu o meteorologista. Apesar do alerta, a população ludovicense parece estar mais preocupada com a “Nuvem de Poeira Godzilla”, que se forma no Deserto do Saara, no continente africano, e atravessa o Oceano Atlântico, por influência dos ventos alísios, em direção às Américas.

Essa massa de ar muito seco contém material altamente prejudicial à saúde humana, dentre os quais silício e mercúrio. Pode conter, ainda, vírus, bactérias, fungos, ácaros patogênicos, estafilococos e poluentes orgânicos, segundo o pesquisador Eugenio Mojena, doutor em Ciências Físicas.

Ventos e marés

Com a temporada dos ventos intensos, devido à entrada da estação seca, é comum o avanço da água do mar em direção às áreas urbanas dos bairros localizados na região metropolitana de São Luís, principalmente nos que estão situados às margens das praias. Nessa época, as ondas podem alcançar uma altura de até 7,2 metros e podem invadir várias casas e ruas. Os ventos alíseos do nordeste influenciam na ocorrência desse fenômeno, conhecido como maré de sizígia.

Nessa época, é grande a influência das marés, que podem ser solar e lunar. Esta última é mais intensa nas marés de sizígia, que ocorrem nas luas Nova e Cheia. Em virtude desses fenômenos nesse período do ano, alguns cuidados precisam ser tomados tanto por banhistas como pelos navegantes. Conforme a Marinha, as pessoas devem verificar bem o horário das marés e não colocar os carros na faixa de areia, pois o veículo pode ser arrastado.

As pessoas também podem observar a ocorrência de ventos fortes e planejar a travessia utilizando o aplicativo Boletim ao Mar, que tem nas plataformas Android e IOS, que traz produtos meteorológicos da Marinha desenvolvidos pela diretoria de Hidrografia e Navegação.

Ventania na cidade

Apesar de a temporada de ventos intensos ser típica da estação seca, como explicaram os meteorologistas da Uema, esse fenômeno já causou estragos na capital maranhense na época chuvosa. No dia 8 de junho, por exemplo, caiu uma forte chuva em São Luís, com registros de ventanias em alguns bairros. No Turu, um supermercado sofreu danos ao ter sua estrutura de vidro destruída em uma parte, logo na entrada. O fenômeno causou alagamentos em vários pontos da Grande Ilha.

No Turu, a ventania que acompanhou o temporal derrubou a parte da estrutura de vidro e arrastou os carrinhos de um supermercado. Naquele bairro, telhas de residências “voaram”, fato registrado em vídeo por moradores. E, ainda, placas de outdoor foram arrancadas de seus locais, igualmente por causa da ventania.

Período chuvoso

No Maranhão, o período chuvoso começa, oficialmente, em fevereiro. No entanto, janeiro é considerado um momento importante para o padrão de distribuição de chuvas no estado, conforme o Núcleo Geoambiental da Uema. É durante essa época que ocorre a lenta transição da estação seca para a estação chuvosa no setor Centro-Norte do território, processo que se inicia em dezembro de cada ano. A Zona de Convergência Intertropical, gradativamente, se desloca do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul.

Porém, este ano, o período chuvoso foi iniciado mais cedo no Maranhão, isto é, em janeiro. Nessa época, o risco de deslizamento de terra aumenta, como em locais com presença de voçorocas ou encostas. Na Salinas do Sacavém, em São Luís, esse fenômeno é mais evidente. Apesar do problema, algumas pessoas ainda constroem casas em cima ou embaixo dessas zonas de perigo. Isso foi verificado, também no bairro Bom Jesus, igualmente na capital.

Nuvem de poeira

Enquanto os ventos fortes ainda são esperados no Maranhão, a “Nuvem de Poeira Godzilla”, que atravessou o Oceano Atlântico, já atingiu Cuba e afetou a qualidade do ar nos Estados Unidos da América (EUA), durante a quarta-feira, 24. Impulsionada por ventos fortes, essa gigantesca cortina de poeira veio do Deserto do Saara, no continente africano. Imagens de satélites mostram uma nuvem marrom que vai da África até o Caribe cobrindo os tradicionais azul e branco vistos por esses equipamentos.

De acordo com especialistas em clima, esse fenômeno acontece todos os anos, mas parece ter se intensificado em 2020. Essa massa de ar muito seco e contendo poeira do deserto africano causa estragos por onde passa. Por este motivo, a recomendação das autoridades é que as pessoas usem máscaras e evitem atividades nas ruas, como caminhadas e corridas, em virtude da alta concentração de partículas no ar. Como a “Nuvem Godzilla” atravessou o Atlântico, navios foram advertidos sobre a baixa visibilidade durante as travessias.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) prevê que a coluna de poeira do Saara continuará se movendo rumo ao oeste pelo Mar do Caribe, alcançando áreas do norte da América do Sul, América Central e da Costa do Golfo dos Estados Unidos nos próximos dias. Segundo os meteorologistas, essa massa de ar seco repleta de poeira do deserto se forma no Saara durante o final da primavera, no verão e no começo do outono no Hemisfério Norte.

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