Cultura local

Cacuriá: uma tradição do São João do Maranhão

Manifestação reúne duplas que dançam ao som de músicas marcadas pelas caixas do Divino e encanta pelo colorido e coreografias; um dos grupos mais conhecidos, o Cacuriá de Dona Teté faz live neste sábado, para homenagear a fundadora

Carla Melo/De O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Com movimentos sensuais, os pares dançam com passos marcados, com muito rebolado do quadril, improviso e muita interação com o público
Com movimentos sensuais, os pares dançam com passos marcados, com muito rebolado do quadril, improviso e muita interação com o público (Cacuriá)

SÃO LUÍS- Uma das danças que marcam o São João do Maranhão é o cacuriá. A manifestação cultural que mescla músicas de duplo sentido e coreografias sensuais encanta ainda pela batida cadenciada marcada pelas caixas, instrumentos musicais de percussão originalmente usadas na festa do Divino Espírito Santo. A festa religiosa é apontada por pesquisadores como a origem da dança, também conhecida como bambaê de caixa, que é realizada após a derrubada do mastro.

O mastro (uma espécie de vara enfeitada que ostenta a bandeira do Divino Espírito Santo) é uma das simbologias da festa e é erguido no começo e derrubado no fim dos festejos religiosos. Após a chamada derrubada do mastro, as caixeiras e os festeiros, aproveitam para se divertirem tocando e dançando o carimbó de caixas, ou ainda o baile de caixas, de forma sensual. Segundo pesquisadores, a dança foi desenvolvida na segunda metade do século XX, no interior do Maranhão.

Um dos grupos mais conhecidos é o Cacuriá de Dona Teté, já falecida, mas que é apontada por muitos como sendo uma das responsáveis por introduzir a dança nas festividades juninas de São Luís. Almerinda Santos, a dona Teté, era caixeira, lavadeira, rezadeira e coreira de tambor de crioula, montou o grupo de cacuriá com o apoio do grupo cultural Laborarte, em 1986. A ela é atribuída a introdução de novos instrumentos musicais além das caixas para enriquecer os traços do gênero.

A cantora Rosa Reis, que atualmente comanda o Cacuriá de Dona Teté, explica a importância da fundadora para a cultura do Maranhão. “Dona Teté, se estivesse viva, estaria fazendo 97 anos neste sábado, dia 27. Ela era uma mulher irreverente e carismática que foi ter reconhecimento a partir dos 60 anos quando começou o grupo de cacuriá. Mas antes disso, já tinha uma história de muito tempo sendo, por isto mesmo, uma figura muito importante na cultura do Maranhão”, diz Rosa Reis.

Elementos

A dança do cacuriá ocorre em roda, o cordão. Com movimentos sensuais, os pares dançam com passos marcados, com muito rebolado do quadril, improviso e muita interação com o público. A dança ocorre em pares e separado. É coreografada e cada passo da dupla transmite a manifestação da cultura, crenças e costumes do povo. O rebolado e requebrado do corpo, o contato corporal com o parceiro da dança, o riso e o olhar entre os dançantes e espectadores tornam essa dança provocante e excitante.

Para dar ritmo à dança, as caixeiras cantam as toadas que falam sobre natureza, crenças, brincadeiras antigas e anseios da população. Tudo acompanhada pelas caixas e outros instrumentos como banjo, violão, clarinete e flauta. O cacuriá é considerado uma mistura de marcha, valsa e samba. A parte vocal é composta por versos improvisados respondidos por um coro de brincantes.

Live

Para celebrar o aniversário de dona Teté, o grupo fará uma live neste sábado (27). A apresentação virtual pode ser assistida no link: https://www.youtube.com/channel/UCVEjpmun8KMbEN-zZKtcR4A.

Rosa Reis explica que, por conta do isolamento social, apenas um casal fará participação na live. “A Luana e o André estão em contato desde o início da pandemia, além disto, e também vamos colocar no repertório músicas que não exijam tanto contato físico. Teremos um roteiro bem elaborado para levar alegria para a casa das pessoas”, comenta a cantora que também é caixeira.

A live terá presença da pernambucana Lia de Itamaracá que falará sobre as experiências com dona Teté. O pesquisador popular Itaércio Rocha, que mora em Curitiba e que já fez cacuriá no Rio de Janeiro e em Curitiba e dona Rosa, caixeira régia do Divino, também farão participação na live.

Relembre aqui uma apresentação de Dona Teté e Rosa Reis

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