Outros tempos

Pais-mestres: docência transformada, em tempos de pandemia

Com a suspensão das atividades presenciais nas instituições de ensino, mamães e papais passam a ter papel ainda mais destacado na formação escolar dos filhos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

[e-s001]São Luís - Com as aulas suspensas nas redes pública e privada do Maranhão há praticamente três meses (o primeiro Decreto nº 35.677, de 21 de março de 2020), educadores e pedagogos explicitam a mudança no papel de cada membro familiar na construção do histórico escolar dos jovens, em especial, do ensino infantil. Devido às necessárias medidas de isolamento social, que proibiram a promoção de atividades presenciais pelas instituições, para minimizar a perda no calendário acadêmico, escolas propuseram uma participação ainda mais ativa de pais ou responsáveis legais pelos jovens na orientação das lições de sala de aula.

O que deveria ser uma simples tarefa se transformou em um grande desafio aos pais destas crianças, já que, por razões óbvias, excetuando aqueles adultos que registram capacitação em campo educacional (seja lecionando ou no apoio pedagógico), os mais velhos precisam literalmente representar o papel de professores, sem nenhuma experiência anterior.

Esta conjectura, avalizada pela situação atípica causada pelo coronavírus, que gera a necessidade de manutenção no ambiente doméstico pelo máximo de tempo possível, é uma novidade para pais e educadores, que ainda avaliam os ganhos na formação escolar e desvantagens, com a permanência, em excesso, em casa (sem o complemento da rotina na instituição de ensino).

Enquanto esta análise não é finalizada, os pais precisam “arregaçar as mangas”, reorganizar rotinas pessoais e dos filhos, para conciliarem as atividades profissionais (para os que conseguem manter as rotinas de trabalho no chamado “home office”) com as tarefas escolares. Algumas escolas incentivam esta prática, estabelecendo - por plataformas contratadas pelas instituições de empresas terceirizadas especializadas em produção tecnológica - as tarefas, como se as crianças estivessem na própria sala de aula.

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Histórico das escolas na pandemia
Antes de relatar sobre a nova estruturação das rotinas domiciliares para os pais ou responsáveis com crianças, é importante relembrar o cronograma dos fatos que geraram este cenário inédito nas últimas décadas no Maranhão e em outras partes do mundo. Com o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 no estado, o governo estadual decidiu suspender inicialmente por 15 dias as atividades nos estabelecimentos de ensino.

Com a elevação dos casos, o poder público decidiu atualizar esta medida com novos decretos. O mais recente parecer e ainda válido da gestão administrativa quanto ao tema estabelece que as aulas permanecerão suspensas no estado, em escolas públicas e privadas, até o próximo dia 1º.

Neste intervalo, algumas escolas ofereceram gratuitamente acesso dos alunos a ferramentas digitais formatadas com o selo dos professores e outros profissionais ligados aos empreendimentos. Mesmo com a oferta, diante do aumento da responsabilidade óbvia dada aos pais ou responsáveis pela impossibilidade de presença dos professores, alguns pedidos de abatimento de valores das mensalidades chegaram às direções.

O assunto virou tema de debate no parlamento. Deputados estaduais apreciaram no mês passado matéria que garantiam o benefício de desconto dos valores das mensalidades, enquanto durar o período da pandemia. A pressão popular foi válida e os parlamentares garantiram à aprovação do tema, sancionado pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), no dia 14 do mês passado.

Além das escolas particulares, unidades públicas – em especial – da rede estadual disponibilizam nas últimas semanas (como garantia de permanência da atividade curricular) – aulas online de forma gratuita que podem ser acessadas via celular ou computador. A Secretaria Estadual de Educação (Seduc), por exemplo, montou estrutura de estúdio para a gravação das aulas, acompanhadas em todo o estado por estudantes interessados.

Alunos mais autônomos conseguem acompanhar as atividades mais progressivamente. Já os alunos que integram a faixa etária entre 3 e 8 anos de idade (de construção do histórico da formação escolar) necessitam da ajuda de terceiros ao lado. Nesta hora, o sustento dos pais é fundamental.

[e-s001]Escola “dentro de casa”: autônoma pela manhã e professora à tarde
De segunda à sexta-feira, desde que o acesso dos estudantes às escolas tornou-se restrito, a jornalista Jaqueline Moucherek precisou adotar modificações em sua rotina, para incluir a assistência aos seus três filhos (Manuella, de 9 anos; Gabriel, de 8 anos e Tiago, de 4 anos) quanto às tarefas escolares. Pela manhã, agenda livre aos pequenos, sob à gerência do marido, Marco Antônio, de 56 anos, enquanto a profissional resolve as pendências “home-office”.

À tarde, o que deveria ser o período de descanso torna-se a segunda parte da agenda “profissional”. Os filhos vestem a farda da escola e se dirigem aos computadores, para a resolução dos deveres encaminhados pela unidade escolar via online. “Na parte da tarde temos uma rotina puxada para cumprir os horários de aula com os três filhos, em três séries diferentes. Isso quer dizer, conteúdos diferentes, materiais diferentes e professores diferentes. É um desafio”, afirmou a jornalista.

Para manter o realismo e representar minimamente a rotina escolar com a caseira, durante a janela de tarefas (por volta das 15h), há o intervalo para o lanche. Depois, retorno às atividades. Devido ao método montessoriano da escola ao qual estão matriculados, a influência da mãe nos filhos é fiscalizatória, porém, sem maiores pressões. “Queremos que eles contem sempre conosco, porém não os queremos dependentes, mas sim com um senso de responsabilidade das suas atividades”, afirmou Moucherek. Ela disse ainda que a atenção ao filho mais novo, devido à idade, é maior.

No caso do filho mais novo e dos demais irmãos, a ideia dos pais é dar independência. “Eles mesmos verificam os horários e já sabem como se preparar para iniciar a tarde de estudos. Dessa forma, eu e meu marido queremos criar a prática de apenas corrigir as atividades que eles fazem e auxiliar quando sentirem dificuldades, mas tudo ainda é uma construção”, disse a jornalista.

Pais em sintonia com os professores
Especialistas apontam que, apesar de maior autonomia no ensino básico diário dos próprios filhos, é fundamental que os pais ou responsáveis mantenham contato direto com os professores. A orientação acerca de qual metodologia a ser usada (se maior ou menor atenção) no trato de lições, especialmente às ligadas aos conteúdos mais técnicos, que envolvam lições relativas a números é importante para que a praticidade (ensinar os filhos em casa) não se torne um pesadelo.

Além disso, os pais precisam manter a forma de ensino em sintonia com os docentes, para que não haja uma súbita mudança na rotina de estudo dos filhos com a volta das atividades. A maior parte das escolas do estado defende a ideia de manter o cronograma de aulas a partir do período em que as medidas sanitárias de restrição social começaram a valer. Com mais conteúdo, a tendência é de aulas mais dinâmicas e rápidas, para cumprir com a agenda de aulas previstas desde janeiro deste ano.

Ensino em casa e homescholing: iguais na essência e diferentes na finalidade
A partir da democratização do chamado “ensino em casa”, com a consolidação das medidas de isolamento social e proibição das crianças e adolescentes nas escolas, vários pais passaram a discutir se este método não se assemelhava ao chamado homescholing, termo usado para descrever os pais que, por conta própria e independentemente da pandemia, preferem cuidar pessoalmente da educação das crianças, sem qualquer influência escolar.

No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases Educacionais (LDB) – considerada a Carta Magna da Educação – obriga a matrícula, por pais ou responsáveis, das crianças em escolas a partir dos quatro anos de idade. Grande parte dos adultos segue a tendência de encaminhamento dos filhos neste ambiente. Porém, há as exceções.

No entanto, educadores entendem que a configuração da chamada escola doméstica (ainda que tenha características de homescholing) é diferente da formação exclusiva em casa. Na condução à distância das aulas, há o suporte dos professores e demais membros da escola que, se atentos, podem contribuir com correções no aprendizado.

SAIBA MAIS

Aulas em casa com pais ou responsáveis

Vantagens
Aproxima filhos dos seus pais ou responsáveis legais
Cria rotinas, até então, inéditas no ambiente doméstico
Personaliza a formação do aluno
Propicia um ambiente ainda mais confortável à criança, já que ela está em sua própria casa

Desvantagens
Distancia os jovens dos professores e outros educadores
Pode criar maiores distrações
Retira da criança a rotina dentro da escola
Inibe a convivência com os demais colegas da turma

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