Covid-19

70 dias após primeiro óbito no Maranhão, liberação é ameaça

Movidos pela flexibilização do isolamento social, população volta às ruas e se aglomera em ambientes públicos e privados, como praias e até bares

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Praia do Meio, na região metropolitana, lotada de banhistas alheios ao risco no fim de semana
Praia do Meio, na região metropolitana, lotada de banhistas alheios ao risco no fim de semana (praia do meio lotada)

SÃO LUÍS - Para muitas pessoas, a pandemia do novo coronavírus já acabou, e não há mais com o que se preocupar. Em vários locais da região metropolitana de São Luís, grupos são vistos ingerindo bebida alcoólica em lugares públicos, sem máscaras de proteção e compartilhando copos. O afrouxamento das medidas de prevenção, com a abertura gradual do comércio, pode estar contribuindo para essa situação. O fato é que 70 dias após a primeira morte pela Covid-19 no Maranhão, o número de casos confirmados ainda cresce.

Como as denúncias indicam, as festas dentro dos bairros aumentaram após o afrouxamento das medidas de contenção. Em várias comunidades, grupos estão fazendo “confraternização” na porta de casa ou no meio da rua. A bebedeira começa de manhã e termina só à noite. Na manhã dessa segunda-feira, 8, pessoas que chegaram ao Complexo Canhoteiro, em frente ao Ginásio Georgiana Pflueger (Ginásio Castelinho), em São Luís, para fazer caminhada, encontraram várias garrafas de cervejas em cima de equipamentos de calistenia.

Ao lado dos equipamentos, havia muito lixo, também. Um vigilante que trabalha no local disse que vários homens se reuniram ali e passaram a madrugada bebendo cerveja. Todos, segundo ele, estavam sem máscaras de proteção. Em outro ponto, na Praia do Meio, muita sujeira foi encontrada na faixa de areia. Dentre os resíduos, havia muitas garrafas de bebida alcoólica. Além do desrespeito ao isolamento social, as pessoas que agem dessa maneira ainda colaboram para a poluição ambiental, uma vez que a água do mar carrega esses materiais e causa impactos devastadores na fauna marinha.

Nas calçadas de residências, as denúncias também indicam presença de aglomerações. Nas feiras e mercados, o fluxo de pessoas parece ter aumentado. A Rua Grande, por sua vez, já está adquirindo o movimento anterior à pandemia do novo coronavírus. Nas ruas e avenidas, o trânsito se intensificou. O tráfego de veículos é interrompido pelos engarrafamentos, como está ocorrendo nas avenidas São Marçal, Getúlio Vargas, Lourenço Vieira da Silva, Daniel de La Touche e Jerônimo de Albuquerque.

No bairro João Paulo, no Bairro de Fátima, na Cidade Operária e no Conjunto Maiobão (Paço do Lumiar), a sensação é a de que todos os comércios estão abertos, apesar da limitação imposta pelo decreto do Governo do Estado que flexibilizou a abertura progressiva das atividades econômicas no estado.

Fim de semana

Como está evidente no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (SES), o número de óbitos decorrentes da Covid-19 era de 1.132 na sexta-feira, 5. No sábado, 6, houve o registro de outras 38 mortes. No domingo, 7, igualmente de mais 38. No entanto, segundo apurado pelo Jornal O Estado, muitos casos seriam referentes a dias anteriores, o que aumentou a quantidade no fim de semana no relatório divulgado pelo órgão estadual diariamente.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde informou em nota, o Maranhão é um dos estados da federação a realizar a investigação das mortes decorrentes do novo coronavírus. "A medida em que o Laboratório Central de Saúde Pública divulga o resultado das amostras, os casos confirmados para Covid-19 são inseridos nos boletins epidemiológicos, de acordo com a data da efetiva ocorrência do óbito", enfatizou o órgão estadual.

"Deste modo, conforme boletim divulgado no domingo, o estado registrou nos dias 6 e 7 de junho, respectivamente, cinco e quatro óbitos por Covid-19. Contudo, é necessário observar que, embora o número de óbitos divulgados diariamente seja cumulativo, os resultados das amostras estão inseridos no boletim segundo o dia do óbito, no gráfico de ‘evolução de óbitos por data’, com casos do dia e de datas anteriores", prosseguiu a SES.

As primeiras mortes

No dia 29 de março, aconteceu a primeira morte pelo novo coronavírus no Maranhão, como foi amplamente divulgado pelo Jornal O Estado. A notícia pegou muita gente de surpresa. A vítima tinha histórico de hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta, que se enquadra no denominado grupo de risco, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O óbito ocorreu nove dias após a comprovação do primeiro caso da Covid-19 no estado, fato registrado em 20 de março.

A primeira morte teve como vítima um homem, que tinha 49 anos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Ele chegou com graves sinais de insuficiência respiratória na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade Operária, em São Luís. Como o quadro clínico dele estava crítico, as equipes médicas nada puderam fazer para aliviar os sintomas. Então, o paciente morreu lá mesmo.

No dia 4 de abril, houve a segunda morte no estado. A vítima era uma idosa de 89 anos, que já estava internada em hospital particular. Ela sofria de problemas de saúde, como cardiopatia e câncer de mama. Naquele dia, o Maranhão registrava 96 casos positivos da Covid-19. O terceiro óbito aconteceu dois dias depois. Era um homem de 70 anos, que estava internado há três dias na UTI do Hospital Doutor Carlos Macieira, em São Luís. Ele era hipertenso, obeso e diabético.

Flexibilização do comércio

Após o período do lockdown, que foi marcado pelo rodízio de carros, começou, por meio de diretrizes, uma abertura gradual do comércio no Maranhão, que teve início no dia 25 de maio, conforme o Decreto nº 35.831, do dia 20 daquele mês. Poderão funcionar, além dos serviços essenciais, os estabelecimentos comerciais de pequeno porte, onde somente trabalhavam, antes da pandemia, e continuarão a trabalhar, exclusivamente o proprietário e seu grupo familiar. Medidas sanitárias devem ser adotadas nesses locais, para evitar a propagação do novo coronavírus.

Conforme o decreto, esses grupos familiares incluem cônjuges, companheiros, pais, irmãos, filhos ou enteados. Esses comércios, assim como todos os demais englobados nas medidas de distanciamento social, não estão funcionando desde o dia 21 de março, quando o Governo do Estado anunciou esse fechamento pelo período de 15 dias, mas o prazo foi prorrogado em outros atos administrativos, uma vez que os casos confirmados da Covid-19 apenas aceleravam no estado.

Pelo decreto, os restaurantes, lanchonetes, depósito de bebidas, bares e similares poderão comercializar seus respectivos produtos, por meio do serviço de entrega (delivery) ou de retirada no próprio estabelecimento (drive thru e take away). É vedada, no entanto, a disponibilização de áreas para consumo dentro do local. Já o funcionamento de supermercados, quitandas, mercados e congêneres deve observar as regras sanitárias, como a limitação do ingresso de pessoas, para que não ultrapasse a metade de sua habitual capacidade física.

Além disso, o estabelecimento cuidará para que apenas uma pessoa, por família, adentre, ao mesmo tempo, no local, com exceção de quem necessite de auxílio. Os consumidores só poderão entrar se estiverem de máscaras no rosto e devem higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel.

Sanções para descumprimento

Como maneira de fiscalizar, o decreto prevê sanções administrativas com relação ao descumprimento das ações elencadas no ato. Sem prejuízo da punição penal, legalmente estabelecida, podem ser aplicadas advertências, multas ou interdição parcial/total do estabelecimento comercial. Essas medidas serão feitas pelo secretário de Saúde do Maranhão, ou por quem delegar competência, na forma do artigo 14 da Lei Federal nº 6.437, de 20 de agosto de 1977.

A Polícia Militar foi autorizada a lavrar Termos Circunstanciados de Ocorrências (TCO), que serão encaminhados ao Poder Judiciário.

Avanço do coronavírus

A Covid-19 surgiu na China, no continente asiático, no final do ano passado. De lá, a doença se alastrou para os demais países. Os sintomas do coronavírus são, principalmente, respiratórios, semelhantes a um resfriado. A enfermidade também pode causar infecção do trato respiratório inferior, como as pneumonias. No entanto, o SARS-CoV-2 ainda precisa de mais estudos e investigações para caracterizar melhor os sinais. Os principais conhecidos até o momento são: febre, coriza, tosse seca e dificuldade para respirar.

Por isso, é importante o isolamento social, uma vez que impede a concentração de pessoas em um ambiente público ou privado. Medidas de distanciamento, como o lockdown, são eficazes para desacelerar a curva de contágio. Apesar dos avanços nas pesquisas, até o momento, não existe uma medicação específica para o vírus. O tratamento é feito com base nos sintomas de cada paciente. De acordo com infectologistas, existe a cura espontânea, mas ainda não há um tratamento medicamentoso definido.

Nesse contato, há drogas que provavelmente funcionam, como a hidroxicloroquina, mas sem confirmação científica. Por este motivo, são utilizados medicamentos para dor e febre (antitérmicos e analgésicos). Sendo assim, o Ministério da Saúde recomenda repouso e consumo de bastante água, além de algumas medidas adotadas para aliviar os sintomas, em casos leves e moderados da Covid-19. Quando a situação se agrava, a internação é necessária para impedir complicações mais sérias.

No Maranhão, conforme o boletim da SES, já são mais de 48 mil contaminados pela Covid-19. Dentre os novos casos confirmados, 128 ocorreram na Grande Ilha, 93 em Imperatriz e 723 nas demais regiões do estado.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.