Estudo

Torta de babaçu melhora a qualidade da carne de caprinos

Projeto de pesquisa foi desenvolvido em parceria pela Embrapa Cocais, Univasf e o IFMA; produto tem alto teor de fibra

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
(conab / torta de babaçu)

Nos últimos anos, houve um aumento no interesse dos consumidores por alimentos que apresentem características nutricionais desejáveis e forneçam benefícios à saúde humana. Nos alimentos derivados de ruminantes, modificar o metabolismo animal e perfil microbiano por meio da manipulação da dieta é uma maneira eficaz de melhorar a qualidade de produtos como leite e carne. Devido à composição químico-bromatológica da torta de babaçu (subproduto restante da extração do óleo de babaçu), que tem alto teor de fibra, esse produto é utilizado em dietas para ruminantes.

Projeto de pesquisa desenvolvido em parceria entre a Embrapa Cocais, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) avaliou o desempenho, a qualidade e o perfil de ácidos graxos da carne de cabritos, em confinamento, alimentados com níveis de torta de babaçu na dieta (0, 6, 12 e 18% com base na matéria seca). O estudo fez parte da dissertação de mestrado de Thamys Polynne Ramos Oliveira pelo Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Univasf e foi desenvolvido com recursos financeiros do Fundo Mundial para o Ambiente (GEF) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), programa este que realiza ações com a Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ) na região do Médio Mearim pelo projeto da Embrapa denominado Bem Diverso.

Objetivo

O objetivo foi formular rações balanceadas contendo coprodutos agroindustriais de babaçu para pequenos ruminantes (caprinos) visando à melhoria da renda e qualidade de vida dos agentes envolvidos na cadeia produtiva do babaçu. Além disso, o estudo incentiva a cadeia de consumo de carne caprina no Estado por meio de uma dieta à base de um produto regional abundante, reduzindo os custos da ração.

O pesquisador Joaquim Costa, da área de produção animal da Embrapa Cocais Joaquim Costa, coordenador da pesquisa, explica como surgiu a iniciativa que, para ele se destaca por ser realizada no Maranhão com um coproduto do babaçu.

“Houve demanda pela comunidade da cooperativa, localizada na Região do Médio Mearim para utilização dos coprodutos oriundos da produção do óleo do coco babaçu em dietas para animais domésticos e buscamos parceria para realização da pesquisa. Produtos como a torta de babaçu já vêm sendo utilizados na alimentação desses animais, no entanto, de forma empírica. A torta normalmente é utilizada de forma in natura e sem a introdução de outros ingredientes apropriados para balanceamento de uma dieta equilibrada nutricionalmente. Há pesquisas desenvolvidas nessa área, porém, foram realizadas por instituições de outros estados e, na maioria delas, os coprodutos do babaçu foram adquiridos fora. No caso desse projeto, os coprodutos foram adquiridos na Região do Médio Mearim. A ideia é que com pesquisas subsidiando a utilização desse subproduto da palmeira do babaçu possamos ter um valor agregado ao coproduto”.

A pesquisa foi realizada no IFMA, Campus Maracanã (São Luís/MA). Foram utilizados 28 cabritos machos, castrados, sem padrão racial definido. A inclusão da torta de babaçu na dieta aumentou a quantidade de ácidos insaturados e diminuiu a quantidade de ácidos graxos saturados, apresentando diferença para a relação ácidos graxos monoinsaturados: ácidos graxos saturados. Foi concluído que a torta de babaçu, devido à suas características nutricionais, pode ser incluída na dieta de cabritos, melhorando o desempenho produtivo, a qualidade e o perfil de ácidos graxos da carne.

O professor Cutrim Junior, responsável pela pesquisa no IFMA, explica a relevância desse trabalho. “O grande trunfo dessa pesquisa é o impacto que ela pode ter em uma comunidade que usa a torta de babaçu de forma rústica e que agora poderá usá-la de forma mais direcionada, a partir da inclusão de uma dieta balanceada e testada. Outro fator é a possibilidade de venda desse ingrediente para compor a ração e trazer maior rentabilidade para as cooperativas que trabalham com o babaçu. Esperamos que haja mais agregação de valor à torta e, consequentemente, mais recursos para a cooperativa”, avaliou o professor.

Potencial

Segundo o professor Rafael Torres de Souza Rodrigues, da Univasf, existe um grande potencial de uso da torta de babaçu na dieta de ruminantes, considerando os níveis de inclusão estudados. “Não houve redução no ganho de peso e no peso de abate dos cabritos alimentados com 18% de torta e foi obtido melhor perfil de ácidos graxos na carne para a saúde humana e um maior conteúdo de gordura intramuscular, o que é positivamente associada ao sabor e a suculência da carne. A partir desses resultados, pode-se dizer que os criadores que utilizarem torta de babaçu na dieta dos animais podem produzir uma carne de melhor qualidade, agregando valor ao produto”, destaca.

Bem Diverso - é uma iniciativa conduzida em rede nacional pela Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para manejo e uso sustentável da biodiversidade e de sistemas agroflorestais (SAFs). Trabalhando em seis territórios e com diversas plantas e produtos extrativos, o projeto visa assegurar os modos de vida das comunidades tradicionais e agricultores familiares, gerando renda e melhorando a qualidade de vida. No Maranhão, o Território do Médio Mearim, na região dos Cocais, é o espaço onde se desenvolve as ações do projeto Bem Diverso. O Território compreende 16 municípios, onde mais de 40% da população vive na área rural e tem como fonte complementar de renda o extrativismo do babaçu, espécie definida como prioritária pelo Bem Diverso. Mais informações sobre o Bem Diverso em http://bemdiverso.org.br/.

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