Artigo

Aceitação

Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro, Juíza de Direito

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Chris Swanson, delegado no interior do estado de Michigan, Estados Unidos, é um nome que deve ser lembrado com relação aos protestos pela morte absurda de George Floyd, negro, morto por um policial e que, mais uma vez, trouxe à baila o racismo naquele país.

E deve ser lembrado pela palavra “aceitação”, e não racismo.

O xerife Chris Swanson, chamado para controlar um protesto em sua cidade, referente ao movimento contra a morte de George Floyd, se apresentou para o diálogo e simplesmente perguntou o que podia fazer por eles. Em resposta, a multidão disse que era apoiar o movimento, no que ele prontamente se colocou à frente da marcha e passou a comandar os protestos. Ele pacificou os ânimos e com essa conduta não deixou que as coisas descambassem para a violência, como tem acontecido.

No momento político que o Brasil atravessa, não bastasse a pandemia, penso que o exemplo de Chris Swanson deve ser emulado em praça pública, deve servir de exemplo para todos que discutem em redes sociais, que vão às ruas protestar por alguma ou qualquer coisa e, o mais importante, deve ser algo a ser incorporado na cultura deste país, que vive em eterno Fla-Flu, entre posições de esquerda e de direta, nas franjas dos extremos.

Há pessoas, e temos de aceitar, que acreditam que o Estado deve resolver tudo para o indivíduo, do nascimento até a morte, e são rotuladas de progressistas ou de esquerda; e há pessoas, e também temos de aceitar, que acreditam que o Estado deve se preocupar em oferecer o básico para os cidadãos - saúde, educação e segurança - e deixar as forças do mercado gerarem emprego, renda e riqueza, e que são rotuladas de liberais ou de direita.

Os rotulados de progressistas chamam os demais de nazistas, fascistas e tutti quanti; e os liberais chamam os opostos de comunistas e socialistas. E o pior, em regra, quando se pergunta o que significa cada um desses fatos históricos, em termos conceituais, eles não sabem o que cada ideologia defendia e, se sabem, “esquecem” os resultados traumáticos que todas produziram.

E mais: como bons fascistas, nazistas, comunistas e socialistas, cada um quer impor seu ponto de vista na base do porrete. São os extremos, mas que são minoria, tenho certeza.

Como todo extremo, eles não percebem que são iguais, mas com sinais trocados. E por que são iguais? Porque elegem um idolo, de cada espectro; porque querem fazer revolução, destruindo as instituições existentes; porque não aceitam o pensamento contrário; e porque se valem de fake, como argumento, e só leem, assistem ou escutam os pensamentos convergentes.

E o pior disso tudo, todos estupram a palavra democracia em cada ato, pois que todos se dizem defensores da democracia, mas não percebem que as “suas democracias” não são plurais, só valem para o seu grupo, para quem concorda com as suas ideias. E o que vimos em São Paulo, e outras cidades, no domingo comprovam que a democracia que ambos defendem é a do porrete.

Será que Chris Swanson concordaria com essas formas de manifestação? Como um bom democrata, que é sempre conciliador e não revolucionário, ele aceitou a opção dos demais, teve empatia ao se colocar, indiretamente, contra a conduta de um colega de farda, e liderou um protesto pacífico.

É isso que espero, ou muitos esperam, de todas as autoridades deste país: uma conduta “a la Chris Swanson”, já que o comportamento coletivo, como a psicologia já comprovou, não tem muita racionalidade.

E-mail: sonia.amaral@globo.com

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