Artigo

Sem esmorecer

Coriolano Xavier, Membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e professor da ESPM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Duas grandes notícias no agro, fecharam o mês de maio. A primeira é a estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário em 2020, com base nos levantamentos de safra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um ótimo sinal, considerando que vivemos o ano da pandemia e por conta dela já se prevê queda de 5% do PIB brasileiro e recuo de 3% do PIB mundial.

A agricultura será a locomotiva desse bom desempenho, em particular a soja em grãos, com a colheita já encerrada e um crescimento calculado em 6,7%. Outros destaques, segundo as projeções do IPEA para este ano, serão o café em grão, com evolução de 15,5%, a laranja com 4,4% e o arroz em casca com 3,5% de aumento. Para o algodão se prevê queda (2,0%), mas no consolidado geral das lavouras o avanço será de 3,1% em 2020.

A produção animal chega mais tímida nas projeções do IPEA, com um PIB evoluindo 1,5% em 2020. A produção de suínos deverá ir muito bem no ano, com crescimento de 5,0% - em grande parte resultado de saltos nas exportações para a China, como consequência da forte quebra na produção chinesa dessa carne, em decorrência da peste suína africana. Bom para a nossa suinocultura, que viu o valor da carne suína subir 7,5% no primeiro trimestre.

O setor de aves também deverá fechar o ano bem, com aumento de 2,5%. Idem para ovos, com elevação de 3,5%, e para leite, com 2,2% de expansão. Na contramão dessa tendência a carne bovina começou o ano com queda de 1,8% no primeiro trimestre e, nas projeções do IPEA para 2020, deverá ficar com modesto avanço de 0,3%. Entre as carnes, a bovina tende a ser a mais pressionada pela queda de renda causada pela crise econômica da pandemia.

A segunda grande notícia vem da Embrapa Agroenergia e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que juntos desenvolveram um mix de enzimas (Coquetel Enzimático CMX) que transforma a celulose do bagaço de cana em glicose para produção de biocombustível. Uma inovação que poderá dar novo impulso à produção de etanol celulósico, o chamado “etanol de 2ª geração”.

É alto o potencial de impacto da descoberta dos pesquisadores das duas instituições, pois ela substitui enzimas que hoje são importadas por preços elevados, inibindo a força competitiva desse novo etanol. Com o inovador coquetel enzimático brasileiro, o custo desses insumos pode ser reduzido ao patamar de 30% do seu custo atual no exterior, preservando riqueza aqui dentro do país e aumentando a competitividade na produção do novo tipo de combustível.

Como se vê, duas ótimas notícias, ou melhor, dois fatos estratégicos de alcance estendido no agro brasileiro, em época na qual escasseiam notícias boas e iniciativas assertivas como dos pesquisadores das enzimas e dos produtores rurais, fazendo a sua safra de ciência e de alimentos em meio à tempestade econômica da pandemia. Para eles, é só manter a bússola: tecnologia para crescer, gestão para vencer.


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