Meio Ambiente

Natureza em perigo acende alerta no estado do Maranhão

No Dia Mundial do Meio Ambiente, poluição das águas e do ar, queimadas, descarte irregular de lixo e falta de saneamento básico ganham evidência

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

São Luís - Nesta sexta-feira, 5, está sendo comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, criado por ocasião da Conferência de Estocolmo, sob a promoção da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972. Apesar dos muitos eventos no planeta, ainda falta conscientização social e política sobre a preservação da natureza em todos os sentidos. No Maranhão, as praias e rios continuam sendo poluídos. Além disso, os focos de queimadas já ultrapassam os 530 este ano, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Como verificou o Jornal O Estado, a degradação ao meio ambiente continua ocorrendo na região metropolitana de São Luís em grandes proporções. Falta consciência e responsabilidade da população com relação ao próprio habitat. O Rio Anil, por exemplo, permanece sendo maltratado da forma mais cruel possível. Nas proximidades da “Ponte do Caratatiua”, no Ipase, a situação causa revolta. A água perdeu a tonalidade natural devido à presença de camadas de lixo.

Quando a maré vaza, muita sujeira é levada em direção a outros locais da ilha. No rio, pessoas jogam de tudo, incluindo garrafas de refrigerante, restos de comida, pratos velhos, pedaços de roupas, copos de vidro, madeira, terra, fezes humanas e de animais, e capacetes de motocicleta. Sacos de lixo ficam presos entre as árvores às margens e no meio do Rio Anil. Outros resíduos entram nas palafitas ou ficam enterrados no mangue.

Queimadas nas florestas

No que tange às queimadas, segundo o Inpe, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCIT), em 2020, de 1º de janeiro ao último dia 3 de junho, foram registrados 531 de incêndios florestais no Maranhão. É um número considerado pequeno, quando comparado do Mato Grosso, primeiro do ranking, com 5.020 pontos de queimadas. Porém, a quantidade pode ser percebido como elevado com relação ao Amapá, último da lista nacional, com apenas 4 focos.

Em junho, em três dias, já foram quase 20 focos acumulados de incêndios florestais no estado, como mostram as imagens de satélite. Nos últimos cinco dias, o Inpe registrou 19 pontos de queimadas no Maranhão. Uma das áreas mais afetadas é a Amazônia Legal, que engloba a totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do território maranhense, conforme o órgão do governo federal.

A Amazônia Legal é uma área de 5.217.423 km², que corresponde a 61% do território brasileiro. Além de abrigar todo o bioma Amazônia brasileiro, ainda contém 20% do Cerrado e parte do Pantanal mato-grossense. O Inpe diz que os efeitos desses incêndios são muitos, como a destruição da fauna e da flora, o empobrecimento do solo e a redução da penetração de água no subsolo. Regionalmente, as queimadas causam poluição atmosférica e alteram ou destroem o ecossistema, modificam a composição química da atmosfera e até mesmo do clima no planeta.

Além de devastar a vegetação, as queimadas são um perigo para a saúde, pois a fumaça contém muitos elementos tóxicos. Os compostos químicos são inalados e alcançam o sistema respiratório. O monóxido de carbono (CO), por exemplo, atinge o sangue, onde se liga à hemoglobina, o que impede o transporte de oxigênio para células e tecidos do corpo. De acordo com pesquisadores, tudo isso desencadeia um processo inflamatório sistêmico, com efeitos deletérios sobre o coração e o pulmão.

Esses problemas considerados mais leves causados pela inalação da fumaça das queimadas são dor e ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, rouquidão e lacrimejamento e vermelhidão nos olhos.

Praias poluídas

As agressões à natureza não se resumem apenas à flora. No litoral maranhense, a poluição também é evidente. Os constantes relatórios da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) mostram que está sendo muito difícil manter as praias monitoradas da região metropolitana de São Luís próprias para banho. O período chuvoso, de certa forma, influenciou na contaminação da água.

Os técnicos do Laboratório de Análises Ambientais (LAA) coletam amostras de 21 pontos distribuídos nas praias da Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau, Olho d’Água, Praia do Meio e Araçagi. Os resultados das análises geram reflexões sobre a contribuição humana para a agressão ao meio ambiente. Não é raro observarmos amontados de lixo na faixa de areia. Os resíduos são jogados por pessoas que utilizam o local para lazer, sem nenhum respeito pela natureza.

A presença de bactérias fecais na água salgada é um perigo para os banhistas. Isso deixa as pessoas expostas a diversos micro-organismos patogênicos, como vírus, bactérias, fungos e protozoários, com risco de contraírem doenças como gastroenterite, hepatite A, cólera e febre tifoide. Dentre os sintomas, o contaminado pode evacuar (geralmente, de forma líquida) de forma descontrolada, sentir enjoos e ser atacada por febre.

Desequilíbrios no ecossistema

Em entrevista concedida ao Jornal O Estado, a bióloga Naiara Valle explicou que existem vários tipos de poluição, mas aqueles que afetam o ambiente comum a nível global são os que mais causam problemas. Presidente do Instituto Ecos de Gaia, ela comentou que a contaminação dos oceanos por plásticos, em especial as micropartículas, ocasionam uma série de desequilíbrios no ecossistema marinho, afetando organismos que as próprias pessoas consomem.

“As concentrações de CO² a níveis nunca antes alcançados têm promovido alterações severas, que podem impor uma mudança climática definitiva no planeta. Nesse contexto, eventos críticos têm se tornado mais frequentes, colocando em risco a vida de diversas pessoas e espécies. Por este motivo, considero as poluições marinha e atmosférica como as mais graves, pois dependem de um esforço global comum de mesmo sentido”, enfatizou a bióloga.

Revisão dos padrões

Como a bióloga destacou, as pessoas devem começar a rever seus padrões de consumo, pois, afinal de contas, ter ou adquirir em grande volume tem um preço além do monetário. De acordo com a entrevistada, existe um custo intrínseco dos serviços ambientais em cada item consumido. “Este custo é arcado pelo Natureza. Devemos ser mais responsáveis com toda a cadeia de produção que compreende os insumos (matéria-prima) até o descarte daquilo que não nos serve mais. Esta é a melhor forma de contribuir com o meio ambiente. Mas não é a única”, observou a presidente do Instituto Ecos de Gaia.

Ela disse que todas as pessoas que puderem devem se engajar para que as políticas de conservação sejam implementadas de tal modo que os serviços ambientais prestados pelos ecossistemas continuem favorecendo a existência do homem e demais espécies. Ainda segundo a bióloga, as campanhas feitas pelas autoridades com relação à preservação ambiental, além de pontuais, embora válidas, não são consistentes. “Ao Poder Público compete cuidar da coisa pública e fazer com que os cidadãos cumpram com seu papel através da fiscalização das leis. Nesse sentido, ainda não conseguimos ser eficientes: falta educação continuada assim como fiscalização efetiva. A ausência do poder público favorece o crime ambiental e afasta o senso de pertencimento coletivo sobre o meio ambiente”, salientou Naiara Valle.

Portanto, neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a bióloga Naiara Valle frisou que é urgente que a sociedade reveja os rumos de sua Economia, que tem sido exploratória de pessoas e recursos para benefício de poucos. “Precisamos reconhecer a importância do meio ambiente para o pleno funcionamento das atividades humanas, bem como manutenção da vida em seu sentido mais amplo enquanto temos oportunidade de escolher a direção que podemos seguir. Cada dia ficamos mais distantes desta autonomia. O que nos reserva o futuro, dizem os estudos, deveria nos inspirar a agir agora”, ressaltou ela.

Criação da data

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído durante a Conferência das Nações Unidas sobre o assunto. O evento aconteceu no ano de 1972, em Estocolmo, capital da Suécia, na Península Escandinava, na Europa setentrional. A data tem como objetivo principal despertar, nas pessoas, a atenção para os problemas ambientais, em vários níveis, passando por questões sanitárias, como esgotos a céu aberto, a questões mais abrangentes, como a poluição dos oceanos.

Conhecido como Conferência de Estocolmo, o evento foi fundamental para uma mudança de percepção sobre o tratamento que o ser humano concede à natureza. Em todo o mundo, houve engajamento de movimentos e entidades para a preservação do meio ambiente, com implantação de políticas ambientais nos vários países, incluindo o Brasil.

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