Artigo

Sonhar é preciso

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Engenheiro agrônomo e viajante, já visitou 143 países

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

No final das tardes, onde quer que esteja, e sempre que posso, paro tudo para contemplar o entardecer, e fotografá-lo, pois acho uma das mais belas coisas da vida. Hora de meditar, agradecer a Deus pela vida, por poder enxergar a beleza de sua criação, lembrar de tantos que não têm o privilégio de enxergar. Uma coisa simples, momentos únicos, despercebido por muitos.

Sentar em um café em Hong Kong, em Nova Deli, Paris, ou Ushuaia, Patagônia argentina, vê o Sol se recolher para dar lugar ao platinado da Lua que surge tímida e fraca diante do esplendor e intensidade do astro rei, é divino. Em Kathmandu, no Nepal, próximo a uma montanha, nosso guia terminou o passeio em um bar, e ali pude contemplar um entardecer sereno; em Dubai, depois de um passeio espetacular, paramos em uma tenda no meio do deserto, calor de 44 graus, e um sol vermelho intenso à nossa frente a se pôr.

Nestes dias de quarentena, ficar recluso por mais de 60 dias, enclausurado no apartamento, me atrevi a fazer uma caminhada na praça, que fica em frente ao condomínio onde moro. É só atravessar a rua e estou na praça. Contínua à praça há uma outra, que nossos administradores resolveram ornamentar com um foguete colorido, anexo a um parquinho infantil. Ao passar na praça do foguete, tirei uma foto, com o Sol, ao fundo, se pondo, em amarelo e laranja. Uma bonita foto, que postei nas redes sociais, dizendo: “Se essa quarentena durar mais um pouco, sou capaz de pegar esse foguete e sair para bem longe;”, foi o suficiente para meus amigos se manifestarem em gracejos e piadas.

Raimundo Gama, colega dos bancos escolares do Colégio Batista, médico e empresário, residente em São Paulo, perguntou “como estás te sentindo, em abstinência por estar tanto tempo sem viajar?”; Luiz Alfredo, meu colega engenheiro agrônomo, me sugeriu “levar na bagagem o jacaré da Lacoste”, que apareceu em uma enxurrada, neste inverno, nos arredores da praça do foguete, viralizou e virou meme nas redes sociais, sendo citado pela chique Clarice Milhomem, a impagável nova-rica da comédia Pão com Ovo.

Nonata Araujo, irmã da inesquecível Paula Frassinete, que comunga comigo desejo permanente por viagens, disse: “Não duvido nada que não estejas com a mala pronta e qualquer hora subas nesse foguete”.

Teresa Cantanhede, querida prima, que de tudo rir, mandou “vai e não demora no espaço, porquê lá não deve ser bom, não tem os amigos para conversar”.

Mas, o melhor veio de Heloísa Helena, minha companheira de jornada, “Quando e qual a hora do embarque?”, acho, que louca para umas férias conjugais, após tanto tempo trancafiados no mesmo local. Quantas mulheres não estão loucas para mandar seus maridos para o espaço? Li em um jornal, que na Irlanda, uma jovem bem sucedida colocou em um site de relacionamentos, “preciso de um marido”, ela recebeu uma enxurradas de cartas de outras mulheres, dizendo: “Pode ficar com o meu”. Nós, maridos, estamos em baixa.

Após andar por 143 países, em todos os continentes da terra, e com passagens compradas, pagas, e mais de uma vez adiadas, por causa do coronavírus, a pergunta que mais tenho ouvido é: “Como estás aguentando ficar em casa, por tanto tempo?

Até aqui tudo bem, tenho aproveitado bem o tempo em reclusão; digo que o único ser que viaja livremente pelo mundo é o coronavírus: sem pagar passagem, não precisar de passaporte, desconhecer alfândegas e imigrações, não respeitar nada e ninguém. Ele nos ensinou uma lição importante, o mundo não é do nosso jeito, as coisas não funcionam como queremos ou planejamos, tudo muda de uma hora para outra. Portanto, agora é se adaptar ao novo normal.

Escrevo essa crônica para aliviar um pouco a tensão desses dias pesados e tóxicos que estamos vivendo e vivenciando, com o crescente e assustador número de mortes no Brasil, causadas pela Covid-19. Vejo na TV, que ontem ultrapassamos 30 mil mortes em pouco tempo, e o número de óbitos só aumenta. Todos perdidos diante dessa pandemia.

Como diria Dijé, outra personagem de Pão com Ovo, “Te aguenta, piqueno, tu não é astronauta, sossega o facho”, #ficaemcasa.

Como o meu desejo de viajar não é passageiro, viajo nem que seja na maionese.


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