Editorial

Cenário de incertezas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

A maioria dos médicos brasileiros entende que o pior da pandemia está por vir, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM). Essa posição de 84,5% dos profissionais de saúde é preocupante no momento em que os governos estaduais estão liberando o funcionamento de diversas atividades comerciais que reúnem um grande número de pessoas.

As pessoas precisam manter-se com todas as medidas relacionadas ao distanciamento social e de higienização, como lavar as mãos com bastante frequência, uso do álcool, gel e uso de máscaras. Não é porque iniciou-se a flexibilização que o problema deixou de existir, muito pelo contrário: todos os cuidados e precauções devem ser levados muito a sério nesse momento.

A pesquisa é considerada muito importante, uma vez que mostra a opinião do médico que tem atuado na linha de frente no combate ao coronavírus. Além disso foi uma pesquisa que mostra um cenário amplo. O levantamento ocorreu com 2.808 profissionais das redes pública e privada de 24 unidades federativas do Brasil entre os dias 15 e 25 de maio. Do total de participantes, 93% trabalham no estado de São Paulo. As respostas foram enviadas por meio da plataforma online Survey Monkey.

A maioria dos médicos (96,6%) considera provável que faltem profissionais de saúde para cuidar de pacientes com coronavírus. Entre os que estão na linha de frente, 46% relataram que já há escassez de profissionais onde atuam. Para eles, o melhor caminho é manter as normas de isolamento social, mesmo com as perdas financeiras. Do total de entrevistados, 75,3% entendem que a medida é "boa" ou "importante", enquanto 85,2% relataram queda de receitas em decorrência da pandemia.

Segundo a percepção de 63% dos entrevistados, há subnotificação explícita de casos e óbitos por Covid-19 em relação aos números divulgados diariamente pelo poder público. Esse problema pode ter a ver com a baixa testagem da populção. De acordo com 39,4% dos médicos da linha de frente, só há testes para os pacientes com sintomas graves, enquanto 9,1% relatam não existir exames disponíveis onde trabalham.

A pesquisa sinaliza também falta de segurança para quem está no combate à pandemia: 58,5% (considerada também a equipe multidisplinar) dizem ter presenciado ou sabido de casos de violência relacionada à pandemia e 64% dos médicos ainda não tinham sido testados para Covid-19. A situação causa efeitos psicológicos majoritariamente negativos nos médicos.

Segundo a pesquisa, 79,3% se sentem apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos ou revoltados. Apenas 20,7% estão otimistas (5,3%) ou tranquilos (15,4%). Apenas 22,3% dos médicos que atuam no combate à pandemia se consideram plenamente capacitados para atender enfermos em qualquer fase da doença.

A busca por novidades científicas sobre a Covid-19 tem diferentes fontes entre os médicos da linha de frente: 38,5% recebem informações atualizadas dos hospitais, 38% têm acesso via associações médicas e 61,5% pesquisam diretamente na literatura. Ministério da Saúde (31,5%) e as secretarias estaduais (17,5%) e municipais.

Para os médicos, o Ministério da Saúde despencou após a saída de Luiz Henrique Mandetta. Em pesquisa anterior da APM, o então chefe da pasta tinha grande aprovação e apenas 5% de reprovação (ruim/péssimo). Atualmente, o Ministério da Saúde, comandado pelo general Eduardo Pazuello, teve atuação classificada como "ruim" ou "péssima" por 43,1% dos entrevistados, o que corresponde a um aumento superior a 800% nas críticas em relação à pesquisa anterior.



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