Análise

Mundo pós-pandemia intensificará internet 5.0 e educação a distância

Segundo o professor Allan Kardec, da UFMA, a pandemia da Covid-19 está acelerando, para dois anos, o que, de qualquer maneira, iria acontecer em uma década; Maranhão tem perspectivas de crescimento

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Segundo o professor Allan Kardec, o Maranhão poderá crescer a partir das novas necessidades pós-pandemia
Segundo o professor Allan Kardec, o Maranhão poderá crescer a partir das novas necessidades pós-pandemia (Allan Kardec)

São Luís - Há mais de 200 anos, Antoine Laurent Lavoisier disse que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Essa mudança nos ambientes pode gerar medo ou expectativa, dependendo de como se apresenta ou como é projetada. A pandemia da Covid-19 causou uma modificação nos hábitos e na rotina. Mas, um dia, vai passar. Quando isso acontecer, a internet 5.0, a educação a distância e a logística relacionada ao transporte de produtos serão intensificados, como analisaram os professores Allan Kardec Duailibe Barros Filho e Ronaldo Gomes Carmona, no artigo “O mundo pós-Covid: rupturas e continuidades”.

De acordo com o professor Allan Kardec, do Departamento de Engenharia Elétrica, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em entrevista concedida ao Jornal O Estado, a pandemia do novo coronavírus está acelerando, para os próximos dois anos, o que, de qualquer maneira, aconteceria, mas em uma década. Ele destacou que isso está se configurando naquilo que é conhecido como Revolução Industrial 4.0, considerada a quarta fase da industrialização, que, novamente, transformará, fundamentalmente, a forma como nós vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.

“Eu chamaria a atenção para a internet 5.0. Como muita gente está se comunicando pela internet, esta deve ter uma aceleração extraordinária. Por causa da conta da necessidade, a internet avançará além do que já nos comunicamos”, frisou o docente. Segundo Allan Kardec, não dá para sabermos a velocidade com a qual isso acontecerá, mas ocorrerá nos próximos dois anos, em virtude da pandemia do novo coronavírus, que acelerou, mas o quadro é explicado por movimentos que já estão sendo registrados.

Transferência de eixos
Como analisou o professor da UFMA, um desses movimentos é a transferência do eixo geopolítico dos EUA para a China. O país asiático está evidentemente mais forte e com mais estrutura. “Ela está lançando a nova Rota da Seda. Isso tem interesse para o Maranhão, que é por onde a Vale exporta tudo o que vem do Norte do Brasil. O Maranhão vai ter um papel importante nesse ‘novo mundo’, não somente por Alcântara, mas porque o porto vai necessitar ter saída para aquilo que será a nova Ferrovia Norte-Sul”, comentou Allan Kardec.

Como observou Allan Kardec, o território maranhense precisará de logística, devido à ferrovia e às rodovias, por onde escoa a soja. Nesse “novo mundo”, o estado tem que estar preparado, segundo o docente. “Ou o Maranhão conduz o ônibus ou viajará como passageiro. Inevitavelmente, essas coisas vão acontecer. A pandemia vai passar. Quando passar, as pessoas não deixarão de comer. A China depende de soja e vai precisar de ferro, para reconstruir tudo”, pontuou o professor.

De acordo com ele, essas coisas sairão do Maranhão, que, em troca, receberá o petróleo barato e o gás, que baixou de preço. “Hoje, compramos óleo caro, mas o gás será a nova fonte de energia do planeta. Está muito barato e vai continuar assim, porque os EUA fizeram o movimento do gás não convencional. O preço caiu para um terço do valor que era há 10 anos. No lugar de comprar óleo diesel, vai comprar gás. Isso virá pelo porto maranhense e não pelo de Santos”, ressaltou o autor do artigo.

Educação a distância
Segundo o professor da UFMA, o cenário vai fortalecer, também, a educação a distância, pois muitas escolas e universidades suspenderam, temporariamente, as aulas, em virtude da pandemia, uma vez que aglomerações favorecem o contágio. Ele disse que muitos estabelecimentos de ensino, mesmo nessa situação caótica provocada pela Covid-19, tentaram reabrir, mas não deu certo. Em alguns locais, como nos EUA, alguns só terão aulas presenciais no próximo ano.

Isso, de certo modo, será possível por meio dos avanços na internet, que deverá ser mais sofisticada por conta da demanda. “A internet 5.0 vai mudar a estrutura do planeta completamente. Em relação a outra análise, existe uma migração do mundo do petróleo. Passou de um mundo concreto para um mundo da informação, que é mais abstrato, mais fluido, por assim dizer. Sai do mundo dominado há 10 anos pelo petróleo e volta para o mundo da informação”, assinalou o professor Allan Kardec.

Conforme o docente, o Maranhão, novamente, poderá crescer, pois o mundo precisará se comunicar mais ainda e precisará de coisas concretas para isso. Então, os satélites terão papel fundamental nesse processo. “Os nanossatélites podem e devem ser lançados do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), com o relançamento do Programa Espacial Brasileiro. A internet 5.0 está vinculada aos interesses maranhenses nesse sentido. Nesse ‘novo mundo’, a questão é quem vai lançar esses satélites e de onde”, expressou o professor da UFMA.

Mundo pós-pandemia
No artigo, os professores Allan Kardec e Ronaldo Gomes, de Geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), citam sete tendências de ruptura, que serão registradas no mundo pós-pandemia. Esses itens são: o surgimento de uma Era de incertezas quanto a quem será a potência que hegemonizará o sistema de nações; a intensificação da transição energética (para uma economia de baixo carbono); a experiência global do Home Office obrigará a implantação da internet 5.0; e o papel do Brasil como provedor de alimentos e proteína ao mundo se intensificará, assim como o procedimento contra nossa condição de potência do agronegócio.

As outras tendências são: a pandemia mostrou que o sistema de saúde do planeta é sofrível (a tecnologia resolveu o problema de comunicação, mas o problema criado não mudou); logo após a desaceleração forçada do mercado, os países investirão fortemente em infraestrutura e logística (a Rota da Seda é o maior exemplo); por fim, haverá uma ruptura na tendência anterior de globalização econômica, em especial, quanto às Cadeias Globais de Valor. Nesse caso, sobretudo em insumos, bens e serviços estratégicos, isto é, dos quais não se pode depender do exterior em casos extremos, haverá que criar capacidade nacional.

“O Brasil, pois, terá de desenhar imediatamente uma política industrial ativa e inteligente, submetida a avaliações e metas, vinculada ao desenvolvimento de uma base industrial de alta complexidade tecnológica. Não poderá se resignar em ser um grande exportador de commodities; ao contrário, estas servem à estruturação de uma economia do conhecimento. Que deve ser apoiada na formação de recursos humanos em setores de logística, portos, engenharia de informação e aeroespacial, dentre outros. Em meio ao caos atual, salvemos vidas e a atividade produtiva, mas igualmente dediquemo-nos a pensar o “day after’”, concluem os autores do artigo.

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