Crise

Declarações de Bolsonaro geram ''insegurança'', diz Rodrigo Maia

Ele afirmou que presidente tem o direito de recorrer de decisões do STF, mas precisa fazer pelos caminhos legais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Rodrigo Maia diz que falas do presidente Jair Bolsonaro são “muito ruins” e “gera insegurança”
Rodrigo Maia diz que falas do presidente Jair Bolsonaro são “muito ruins” e “gera insegurança” (rodrigo Maia)

Brasília - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou, ontem, que o presidente Jair Bolsonaro, assim como qualquer cidadão, tem direito de recorrer da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mas deve fazer isso pelos caminhos legais, e não pela forma de tentar "intimidar ou acuar outro poder". Para ele, as declarações de Bolsonaro contra o Supremo, na manhã da quinta-feira, 28, são "muito ruins" e geram "insegurança".

"As declarações de hoje do presidente são muito ruins. Vão no caminho contrário de tudo o que a gente começou a construir, todos os poderes juntos, desde a semana passada", disse Maia em entrevista coletiva na Câmara.

Segundo Maia, as declarações de Bolsonaro não estão alinhadas com as atitudes do governo. Ele destacou que, enquanto o presidente ameaça desrespeitar decisões do Supremo, o Ministério da Justiça entrou com recurso para tentar impedir depoimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub.

O pedido causou estranheza em juristas, no entanto, por não ter partido da Advocacia-Geral da União e foi visto como gesto político.

"As declarações de hoje vão em um caminho que gera insegurança, mas, ao mesmo tempo, há um discurso e uma decisão prática. A decisão prática é que o ministro, não sei se é o ministro adequado, recorreu da decisão pedindo um HC para o ministro da Educação. Isso significa que se respeitou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, quando se recorre pelos caminhos legais", declarou Maia.

E emendou: "O que a gente precisa é compreender que essas divergências de comportamento entre o que faz o governo e o que fala o presidente em relação a outro poder, elas precisam ter convergência e sinalizar para a sociedade que estaremos focados e preocupados no caminho de salvar vidas, empregos e renda."

Defesa

Maia também defendeu que as decisões de outros Poderes "precisam ser respeitadas". "A gente não pode, em um sistema democrático, que só aquilo que nos interessa, nos agrada, é correto quando outro poder toma uma decisão. O que divergimos também precisamos acatar. Tem o direito da crítica e do recurso, existem trâmites legais muitas vezes no Judiciário, mas também no Legislativo. O sistema democrático precisa ser respeitado."

Ele disse, ainda, que ataques ao STF neste momento são "completamente desnecessários e só prejudicam o Brasil durante a crise gerada pela pandemia. "O que acho importante é que governo recorreu oficialmente e cabe ao STF decidir sobre o pleito. Claro que o caminho correto seria o da AGU, mas governo decidiu, não sei embasado em que lei, mas o que me dá algum conforto é que há um pedido formal relacionado à frase mais dura do presidente. O importante é que ficasse no pedido formal e o presidente pedisse pressa para decidir sobre o pleito."

O presidente da Câmara reforçou que "qualquer cidadão pode recorrer de decisão de qualquer ministro do STF, mas tem que ser pelos caminhos legais, não pela forma de tentar intimidar ou acuar outro poder sobre as decisões que toma".

Mais

Ataque

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou nesta quinta-feira, 28, que o governo está sob ataque. De acordo com o deputado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Celso de Mello estariam extrapolando suas atribuições e interferindo em prerrogativas do Executivo e que "pessoas que não conseguem enxergar dentro do STF ou dentro do Congresso Nacional, instrumentos para reverter esse tipo de desarmonia entre os poderes, elas se abraçam no art. 142 da constituição". As afirmações foram feitas no programa do jornalista José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes.

Mourão: golpe está ‘fora de cogitação’

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, afirmou que uma eventual ruptura democrática está "fora de cogitação" e que "não existe espaço no mundo para ações dessa natureza". Mourão também minimizou as falas do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, que falou em "momento de ruptura" em uma live.

"Quem é que vai dar golpe? As Forças Armadas? Que que é isso, estamos no século 19? A turma não entendeu. O que existe hoje é um estresse permanente entre os poderes. Eu não falo pelas Forças Armadas, mas sou general da reserva, conheço as Forças Armadas: não vejo motivo algum para golpe", declarou Mourão.

A fala de Mourão ocorre depois de Bolsonaro adotar um tom de ameaça ao comentar as medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura fake news e tem como alvos aliados bolsonaristas. Bolsonaro disse que não vai admitir "decisões individuais" e que "ordens absurdas não se cumprem". "Acabou, porra!", esbravejou o presidente a jornalistas ontem.

Na quarta-feira, o deputado Eduardo Bolsonaro também criticou a atuação de ministros do STF na investigação sobre a suposta interferência do pai na Polícia Federal e no inquérito das fake news. "Falando bem abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opção de se, mas, sim, de quando isso (ruptura institucional) vai ocorrer", disse em uma transmissão.

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