Artigo

Má qualidade

Lino Raposo Moreira, PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal - STF e presidente do inquérito que investiga a denúncia de Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, de interferência indevida na direção e atividades da Polícia Federal, levantou o sigilo de um vídeo de reunião ministerial indicado por Moro como prova de sua acusação. O vídeo, segundo ele, mostra com clareza a determinação do presidente de intervir ilegalmente na PF. Mas a prova se revelou tão rica em palavrões, tinha e tem um evidente feitio daquelas cenas de filmes onde se veem feiras comunitárias da Idade Média, com pessoas falando ao mesmo tempo em voz alta e tudo mais de anárquico que acompanha acontecimentos desse caráter que cheguei a pensar numa falha da pessoa encarregada de operar a projeção das imagens corretas. Estão projetando o material errado, pensei. Infelizmente, porém, não era assim. Aquilo tudo tinha acontecido.

Fernando Gabeira chamou aquela confusão de pajelança. O tema formal daquele ritual era a discussão de um programa de governo, o PRÓ-BRASIL, sobre o qual foram pronunciadas meia dúzia de palavras no início, mas foi só. Nunca mais dele se ouviu falar depois desse encontro.

Ouviram-se, sim, tópicos como passagem de boiadas pelas porteiras da ilegalidade, armamento do povo, cocô petrificado, palhaçada do STF e prisão de seus membros, uso de quinze armas pelo presidente da Caixa para “matar ou morrer”, caso a polícia tivessem a ousadia de fazer seus parentes cumprirem as leis de “lockdown” ou outras de proteção às pessoas. Houve sinais de megalomania no ambiente, quando esse mesmo valente classificou um programa do governo operado pela Caixa, como o maior do mundo. Nessa hora, pensei que a plateia ia levantar-se e aplaudir de pé, como na ópera ou no circo.

O fanatismo bolsonariano fanático (só o fanático) defende o uso compulsivo dos palavrões. “É o jeito dele” Nada tenho contra o uso de palavrões. A questão não é essa. Imaginemos o seguinte. Um grupo de amigos vai pela primeira vez tomar cervejas num bar, após a pandemia. Um deles deseja, ansioso, fazer um pedido. Pergunta pelo garçom. Outro da mesa diz: Chamá-lo-ei com perene prazer, como Temer. A coisa soa estranha. O grupo vai no dia seguinte à solenidade de posse dos parlamentares da nova legislatura. O presidente da Câmara, ou do Senado, faz o discurso de praxe, enfeitado, porém, com melodiosos palavrões. Ele seria preso como louco ou beberrão . Eu quero dizer isto: o palavrão tem hora e lugar certos. Seria de bom decoro o presidente fazer uma DR com “seu jeito”. Em uma reunião desse tipo não cabe um palavrão a cada três minutos. Nem palavrão algum.

Contudo, em meio a vários crimes cometidos no decorrer da reunião e que serão investigados pela PGR, o pior foi a indiferença de todo o governo com a pandemia capaz de matar milhares de brasileiros. Afora algumas palavras do então ministro da Saúde, Nelson Teich, ninguém, fez uma única referência ao assunto. Todos as matérias foram tratadas, menos a da pandemia e o do Projeto PRÓ-BRASIL. Uma anarquia. O presidente já demonstrou várias vezes sua ausência de empatia com as pessoas. Ele não se importa com o sofrimento alheio, característica de sociopatas. Daí vem o seu “E daí?” A paranoia é outro aspecto perigoso de sua personalidade. Só os filhos não são inimigos em potencial. Agora toda a imprensa internacional é esquerdista e o persegue.

É essa a má qualidade da gente hoje no comando do país.

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