Artigo

Dr. Cloroquina

Lino Raposo Moreira, PhD, Economista. Da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

O assunto da hora é o das denúncias do suplente do senador Flávio Bolsonaro, o empresário Paulo Marinho, cuja casa serviu de quartel general da vitoriosa campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República em 2018. Ele acusa Flávio de ter recebido de um delegado da Polícia Federal informações vazadas de uma ação da policial que, quando realizada, teria impacto negativo sobre o senador e seu pai presidente. O assunto terá muitos desdobramentos e impactos políticos de todo tipo, por sua importância. Tratarei dele na próxima semana, quando teremos mais informações e o quadro estará mais claro, espero. Hoje quero fazer alguns comentários sobre a já famosa cloroquina.

Comecemos pelo começo. A cloroquina foi desenvolvida e depois aprovada com a finalidade de combater a malária, lúpus eritematoso, artrite reumatoide e amebíase hepática. Segundo regras usadas pela ANVISA (Brasil), pela FDA (Estados Unidos) e por outras agências da área de saúde em praticamente todos os países, seu uso ou de qualquer medicamento aprovado com outra finalidade diferente daquela para a qual foi liberado originalmente, implica, com diferenças em poucos detalhes, passar novamente por todas as etapas pelas quais passa um novo, do zero. A fim de citar apenas uma, o número de pacientes nos quais o remédio é testado, já numa das últimas etapas da avaliação, tem de estar na casa dos milhares e ser comparado com um grupo de controle que não tomou a cloroquina ou, se for o caso, outro remédio em estudo. É um processo demorado. Enfatizo. Tais procedimentos se aplicam a todos, sem exceção, todos, repito, os candidatos à liberação pela ANVISA. Portanto, as exigências não se aplicam apenas à cloroquina.

A quase totalidade dos estudos feitos até agora consideram inócuo o uso da cloroquina no combate à covid-19, mas não quanto à saúde do paciente, pois há o risco de ela provocar arritmia cardíaca em 30% dos casos, podendo causar a morte do usuário. Vejam no site da ANVISA: “Os estudos conduzidos até o momento têm um número de pacientes muito reduzido e ainda é arriscado afirmar que vai funcionar no tratamento da Covid-19. Mais dados precisam ser coletados, de maneira adequada, para haver certeza de que vai funcionar. Nós da Anvisa elaboramos uma Nota Técnica com os principais resultados obtidos até o momento para determinar a eficácia desses medicamentos. A Anvisa, da mesma forma que o FDA, não recomenda o uso indiscriminado desse medicamento, sem a confirmação de que realmente funciona”. Destaco duas passagens dessa orientação. 1) Os estudos conduzidos até o momento têm um número de pacientes pequeno; 2) Mais dados precisam ser coletados, de maneira adequada.

A primeira passagem do parágrafo acima é a garantia contra a “ilusão do testemunho”. Alguém testemunha um amigo ou um parente, ou conhece meia dúzia de casos de pessoas que tomaram cloroquina e se curaram, sem a testemunha atentar a outros remédios tomados pelo paciente ao mesmo tempo. Num estudo controlado seria possível fazer a separação dos efeitos da cloroquina e de outros medicamentos. Na segunda, o fato de ter curado 5, se de fato curou, numa amostra de 10, por exemplo, não significa que curaria em dez mil curaria cinco mil. Apenas a primeira amostra era muito pequena.

O assunto foi politizado apenas porque o, presidente, dr. Cloroquina assim o quis.

É preciso, porém, se precaver contra ilusões estatísticas. Tal preocupação não ocorreria ao Dr.

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