Pandemia

Adiamento do Enem divide opiniões de professores e inscritos na Grande Ilha

Há posicionamentos diferentes sobre o adiamento do Exame Nacional; para alguns é necessário, mas para outros, pode comprometer total de vagas

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
O Estado entrevistou docentes e candidatos, para saber a opinião sobre a suspensão do Enem
O Estado entrevistou docentes e candidatos, para saber a opinião sobre a suspensão do Enem (Estudantes)

São Luís - A quantidade de inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio 2020 (Enem) já passa de 3 milhões no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC). As provas estão marcadas para serem realizadas em novembro deste ano, mas, devido à pandemia da Covid-19, o adiamento está sendo solicitado. Na região metropolitana de São Luís, muitos professores e candidatos dividem opiniões sobre essa possibilidade.

O Jornal O Estado entrevistou alguns docentes e candidatos, para saber a opinião sobre a suspensão do Enem 2020 por conta do novo coronavírus. A pedagoga Ana Maria Maria Melo Costa, formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), disse que é favor do adiamento devido às diferenças nas condições de ensino entre as redes pública e privada. Professora de escola municipal e particular na capital maranhense, ela argumentou que os alunos do ensino público já estavam sendo prejudicados antes da pandemia, em virtude do atraso no calendário letivo.

“Com a pandemia, a situação se agravou. Muitos alunos não têm condições de acompanhar os cursos on-line, as aulas virtuais, os reforços e as revisões. Ou seja, essa preparação toda para o Enem. Por quê? Porque muitos não têm ferramentas adequadas em casa, não têm recursos tecnológicos, um celular, muito menos acesso à internet. Devemos levar em conta que muitas famílias são carentes”, pontuou a professora. Conforme Ana Maria, vários estudantes da rede pública não tem o acompanhamento familiar necessário, e, nesse momento de pandemia, alguns pais desses jovens estão desempregados.

“Pedagogicamente e psicologicamente, esses jovens estão afetados pelo momento delicado. O lado emocional deles está bastante fragilizado. Muitos não querem fazer o Enem porque não se sentem preparados. O local preparatório específico para a prova, que é a escola, está fechada, pois as aulas presenciais estão suspensas. O cenário hoje é de desigualdade, nessa realidade digital, das plataformas virtuais”, comentou a docente. Também a favor do adiamento do Exame, o professor universitário Paulo Vidigal defendeu que a realidade virtual é um campo ao qual muitos alunos não têm acesso ou encontram dificuldade.

Docente do curso de Direito da UFMA, em São Luís, ele pontuou que vários estudantes estão ainda se adaptando ao cenário digital. “É outro estilo de vida no ensino, que não é tão produtivo quanto uma aula presencial. Em razão disso, defendo que o Enem deve ser suspenso para este ano, até porque uma parte do conteúdo está prejudicada”, declarou Paulo Vidigal. Da mesma opinião compartilha a professora Angélica Diniz, da rede municipal e estadual em São Luís.

Para ela, o adiamento é necessário levando-se em consideração a atual situação que o Brasil enfrenta, devido à pandemia, que modificou a forma de como as aulas estão sendo ministradas. “E a grande maioria dos estudantes do nosso País não têm acesso à internet para visualizar as aulas on-line. O estudante até sabe navegar, mas não tem uma estrutura tecnológica ou nem tem nada que o possibilite acompanhar essas aulas nesse novo formato”, disse Angélica Diniz.

Comprometer as vagas

Outros docentes, no entanto, são contra a suspensão do Exame. É o caso do professor de Filosofia Dídimo Matos, da rede estadual e municipal em São Luís. Segundo ele, o adiamento do Enem vai apenas comprometer o número de vagas que já foram abertas para este ano. “Ano que vem, vai abrir uma quantidade que pode ser um pouco superior à de 2020, mas as vagas deste ano estarão perdidas para sempre. Então, vão adiar para o próximo ano a formação de médicos, engenheiros, odontólogos, enfim. Isso vai comprometer um semestre ou um ano de formação”, assinalou o educador.

Para Dídimo Matos, os alunos, mesmo da rede pública, estão experimentando vários modos educacionais nesse período marcado pelo novo coronavírus. Ele declarou que quem está matriculado está usufruindo das mais diversas maneiras de aprendizado. “A mesma coisa está acontecendo no Ensino Médio. De alguma forma, o processo educacional está sendo oferecido. Na escola estadual onde leciono, estamos fazendo planos de estudos, recomendando aulas por meio de aplicativos propícios para a transmissão do conteúdo”, esclareceu o professor.

Dídimo Matos comentou que, naquela escola, estão sendo aplicados simulados para as turmas do Terceiro Ano, o que dá continuidade ao processo de ensino, apesar das limitações. Ele disse que é contra o adiamento, a não ser que ocorra uma evolução drástica da pandemia no Brasil, sem que houvesse nenhuma possibilidade de realizar a prova do Enem. “Nas atuais condições, o MEC tem planejado um sistema que vai diminuir o número de alunos por sala, aumentando o número de salas que serão utilizadas”, expressou o docente.

Candidatos preocupados

Entre os inscritos no Enem 2020, também existe uma preocupação, especialmente para quem já tem um sonho em seguir uma profissão. Em qualquer um dos casos, as pessoas estão se preparando de acordo com suas rotinas de estudo, que pode ser leve ou rígida, dependendo da disposição e tempo. Em São Luís, não é diferente. Izadora Trajano, que tem o objetivo de ingressar no curso de Medicina, declarou que é a favor do adiamento da prova.

A jovem frisou que a sua realidade permite que tenha acesso às plataformas remotas de ensino, que podem ajudar nesse momento crítico. No entanto, ela deixou claro que, infelizmente, outros candidatos não possuem essa estrutura para o ensino a distância. “Milhares de brasileiros não possuem acesso à internet e dependem do conteúdo que é dado em aulas presenciais, que, no atual contexto, não estamos tendo. O Enem é um dos vestibulares que mais cobra assuntos. Se com acesso a fontes alternativas de ensino tenho dificuldades em alguns momentos, imagine só aqueles que não estão conseguindo nem mesmo acompanhar aulas on-line”, enfatizou Izadora Trajano.

Segundo a candidata, essas aulas on-line, geralmente, exigem uma internet com boa qualidade, mas não é tão barata como muitos pensam, levando-se em consideração que muitos brasileiros sobrevivem de um salário-mínimo. “Fora isso, existem também os problemas de ansiedade, que afetam muitos estudantes nessa quarentena. E ainda têm aqueles que precisam administrar uma casa, como os alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos), principalmente”, comentou a inscrita no Enem.

“Por fim, o Enem é uma prova que causa aglomeração em salas, geralmente fechadas. E exige que alunos se locomovam dentro de ônibus lotados. No atual momento, existe um risco sanitário que vai persistir por tempo indeterminado”, observou Izadora Trajano. Outro candidato que se manifestou ao Jornal O Estado é Valdenilson Rabelo de Sousa Filho, que reside em Raposa e pretende cursar Jornalismo. Na opinião dele, a suspensão do Enem neste ano é viável, tendo em vista que, segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 67% da população brasileira possui acesso à internet no Brasil.

“E, em meio a uma pandemia como essa, a grande maioria dos estudantes da escola pública que irão fazer o Enem este ano não estão tendo aula por razões óbvias, e nem possuem acesso à internet para que possam estudar on line por meio das plataformas digitais, ou seja, estes estudantes não estão preparados para prestar um vestibular este ano e nem têm uma estrutura adequada para que possam dar prosseguimento nos estudos em casa”, opinou o jovem.

Saiba Mais

Pedido de suspensão

Devido à pandemia da Covid-19, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou, no último dia 14, uma nota pedindo a suspensão das datas do Exame Nacional do Ensino Médio deste ano. De acordo com os reitores universitários, não há condições sanitárias que garantam a realização segura da prova.

Em nota da Andifes, os reitores afirmam que o Enem é um instrumento importante para o direito à educação no País e que, por este motivo, para se ter uma execução adequada, deve apresentar situações sanitárias viáveis e também meios que garantam condições razoáveis de isonomia de concorrência aos candidatos.

Fique por Dentro

Nota de Esclarecimento

Sobre os diversos movimentos em face de um possível adiamento das datas de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, em suas versões impressa e digital, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) esclarecem:

Por meio dos Editais 25 e 27, de 30 de março de 2020, foi lançado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) constando o cronograma com as datas para a solicitação de isenção e a justificativa pela ausência no Enem 2019, de 06 a 17 de abril de 2020, o período das inscrições entre 11 e 22 de maio de 2020, e a aplicação das provas impressas nos dias 1º e 8 de novembro e as provas digitais nos dias 11 e 18 de outubro de 2020.

Posteriormente, mesmo o índice de solicitação de isenção e de justificativa tendo sido altos, alcançando 3.423.835 registros, o Inep, a fim de que nenhum participante ficasse prejudicado, decidiu, administrativamente, que todos aqueles que têm direito à isenção nos termos do Edital terão seu pedido concedido, de ofício, no momento da inscrição, no período de 11 a 22 de maio de 2020. Além disso, alterou-se a data de aplicação da prova digital para os dias 22 e 29 de novembro. Tais ações ensejaram o lançamento dos Editais 33 e 34, de 22 de abril de 2020.

Por meio da Portaria 329, de 11 de março de 2020, foi instituído o Comitê Operativo de Emergência, com o objetivo de debater e definir medidas de combate à disseminação do novo coronavírus em instituições de ensino, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde, com ampla participação de diversos dirigentes e autoridades responsáveis pela área educacional de todo o país: Ministério da Educação (MEC); Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh); Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed); União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime); Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Conif); e Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Foram destaques das discussões, no âmbito desse Comitê, as tratativas empreendidas a respeito do cronograma do Enem 2020, ocasião em que já se demonstrou abertura para nova alteração da data de aplicação das provas, tão logo o cenário fique mais definido, o que se reafirma na presente Nota.

Assim, reitera-se, a ação de divulgação das datas atuais baseou-se na importância de a sociedade ter conhecimento e segurança sobre a realização do Enem, além de possibilitar a superação de diversas fases preparatórias à efetiva aplicação do exame. A fixação de uma data não a torna imutável, ainda mais no atual momento. Ocorre que os diversos fatores que influenciarão na potencial alteração do calendário originalmente estabelecido ainda continuam incertos, em imprevisibilidade que obsta qualquer modificação neste momento, já que, como é de conhecimento geral, ainda estamos enfrentando a situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da COVID-19.

Frisa-se que para se chegar à execução do Enem é preciso cumprir com as diversas etapas que antecedem a data de aplicação do Exame, tornando fundamental a publicação dos editais do Enem 2020 de modo a garantir à sociedade que o seu direito ao acesso ao Exame anualmente seja preservado e para que seja dado início, pelo Inep, à preparação e viabilidade de execução desta edição do Enem, uma vez superado o atual cenário.

O MEC e o Inep entendem que o Enem é uma das políticas públicas de educação mais importantes, motivo pelo qual está buscando garantir a execução adequada, não apenas para cumprir com seu dever institucional, mas, principalmente, para não prejudicar mais ainda a sociedade brasileira.

Assim, o MEC e o Inep reforçam possuir um diálogo sempre aberto junto às mais diversas entidades e à sociedade em geral, destacando que todas as sugestões e críticas apresentadas são importantes para o aprimoramento de suas atividades e que cada uma delas será avaliada e discutida, sempre buscando o que seja melhor para a educação brasileira.

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