Covid-19

Kit de fármacos deve ajudar pacientes com sintomas leves do coronavírus

Novo protocolo da SES foi publicado em um período no qual as estatísticas de contaminados e mortes pelo novo coronavírus estão elevadas no Maranhão; até ontem, 13.238 casos da doença haviam sido confirmados no estado

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Medicação deve ser distribuída gratuitamente nas Unidades de Pronto Atendimento
Medicação deve ser distribuída gratuitamente nas Unidades de Pronto Atendimento (kit Covid-19)

São Luís - O Maranhão já se aproxima de mil mortes causadas pelo novo coronavírus. O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) na noite de domingo, 17, mostra que o número de infectados é de 13.238. As estatísticas de contaminados e óbitos apenas aumentam a cada dia. Devido a essa situação, um novo protocolo de medicamentos para o tratamento da Covid-19 foi lançado, mas para pacientes com sintomas leves. Dentre os fármacos, está a hidroxicloroquina, cuja eficácia ainda é motivo de polêmica no mundo, devido aos efeitos colaterais.

O novo protocolo da SES tem como foco as pessoas que já possuem outras enfermidades, com exceção de doenças cardíacas, no período de 1º até o 5º dia de infecção pelo novo coronavírus. A medida consiste em um kit de fármacos, que combinam hidroxicloroquina, azitromicina, corticoide e vitaminas C e D. Esses micronutrientes estão relacionados à imunidade. Também inclui remédios já conhecidos para febre e dores, como paracetamol e dipirona.

De acordo com o Governo do Estado, o Ambulatório de Covid-19 do Hospital Doutor Carlos Macieira, na capital, utiliza o protocolo desde o último dia 12 de maio. O paciente, antes de receber o kit de fármacos, passa por uma avaliação médica criteriosa, incluindo exame de eletrocardiograma. Isso está sendo feito porque, segundo estudos da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos da América (EUA), o uso da hidroxicloroquina pode gerar efeitos colaterais, como problemas de ritmo cardíaco, que foram observados em ensaios clínicos.

Conforme o diretor do Hospital Carlos Macieira, Edilson Medeiros, o ambulatório já recebeu cerca de 150 pacientes que foram encaminhados pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), em São Luís, por meio de vans próprias para essa assistência. O Governo do Estado informou que a SES recomendou o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento dos pacientes com Covid-19 desde o início do atendimento aos casos na rede pública estadual.

“Apesar de já ser usada há bastante tempo para tratamento de malária e outras doenças reumatológicas, por exemplo, a hidroxicloroquina possui efeitos colaterais como qualquer outra medicação”, destaca o Governo do Estado. Importante dizer que o novo protocolo da Secretaria de Estado da Saúde foi elaborado a partir de uma recomendação do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM/MA), Associação Médica do Maranhão e Sindicato dos Médicos do Estado do Maranhão.

A recomendação prevê a distribuição gratuita em UPAs do kit de fármacos. Ademais, no dia 23 de abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) permitiu o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, com a ressalva de que o médico tenha o consentimento do paciente.

Permissão do CFM
Por meio do Parecer nº 04/2020, o CFM estabeleceu critérios e condições para a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19. Porém, a entidade ressaltou que não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito comprovado na prevenção e tratamento da doença, como mostram estudos científicos publicados em vários países. Mas, como o contexto é de pandemia, três situações foram elencadas pela autarquia para prescrição dos medicamentos.

A primeira situação tem relação com casos de pacientes com sintomas leves, em início de quadro clínico, quando tenham sido descartadas outras viroses, como H1N1, e existe diagnóstico confirmado da Covid-19. A segunda possibilidade se refere às pessoas com sintomas importantes, mas ainda sem necessidade de cuidados intensivos, com ou sem recomendação de internação.

E, por fim, a terceira situação diz respeito aos pacientes críticos, que recebem cuidados intensivos, incluindo ventilação mecânica. Mas o Conselho Federal de Medicina ressalta, no Parecer, que é difícil imaginar que em infectados com lesão pulmonar grave estabelecida e, na maioria das vezes, com resposta inflamatória sistêmica e outras insuficiências orgânicas, a hidroxicloroquina ou a cloroquina possam ter um efeito clinicamente importante. Em todas as três condições, o princípio que, obrigatoriamente, deve nortear o tratamento é o da autonomia do médico, assim como a valorização da relação entre o profissional e o paciente.

O parecer também diz que o profissional fica obrigado a explicar ao doente que não existe, até o momento, nenhum trabalho científico, com ensaio clínico adequado, feito por pesquisadores reconhecidos e publicado em revistas científicas de alto nível, que comprove qualquer benefício do uso das drogas para o tratamento da Covid-19. Além disso, o médico deverá explicar os efeitos colaterais possíveis, obtendo o Consentimento Livre e Esclarecido do paciente ou dos familiares, quando for o caso.

Por este motivo, ao observar esses aspectos, o médico que utilizar os medicamentos em pacientes portadores do novo coronavírus não cometerá infração ética. “Essas considerações que serviram de base para as decisões do CFM basearam-se nos conhecimentos atuais, podendo ser modificadas a qualquer tempo pelo Conselho Federal de Medicina à medida que resultados de novas pesquisas de qualidade forem divulgados na literatura”, destaca o documento do CFM.

Recomendações do CRM/MA
De acordo Protocolo de Atendimento emitido pelo Conselho Regional de Medicina no Maranhão, o ideal é que o tratamento para pacientes infectados pelo novo coronavírus seja iniciado o mais precocemente possível, ainda na fase infecciosa, uma vez que, na fase inflamatória, a condição do paciente se deteriora rapidamente. O objetivo é evitar que o Sistema de Saúde Pública e Suplementar fique sobrecarregado, pois a demanda por leitos aumenta em Hospitais de Referência e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A entidade frisa que, caso a unidade de saúde não atenda somente pacientes com suspeita do novo coronavírus, deve ser providenciado acesso exclusivo para quem apresenta síndrome gripal, com equipes de profissionais usando os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, recomenda-se a disponibilidade de oxímetro digital para que a equipe médica estabeleça em qual fase da doença os pacientes se encontram. Para a Fase 1 da Covid-19, as medicações recomendadas são hidroxicloroquina, azitromicina e zinco. A posologia para a primeira substância é a seguinte: no 1º dia, 400mg via oral de 12 horas em 12 horas. Do 2º ao 7º dia, 400mg via oral ao dia.

Otempo de uso pode variar segundo avaliação médica, podendo durar de 5 até 10 dias, conforme o caso, de acordo com o protocolo do Conselho Regional de Medicina no Maranhão. Com relação a azitromicina, devem ser administrados 500mg via oral, em dose única diária poro 5 dias. Nessa situação, o esquema pode ser somente de 3 dias nos casos leves. No que tange ao zinco, a posologia é a ingestão de 66mg do sulfato diariamente após a refeição, que pode ser o almoço ou jantar, durante 14 dias. A população-alvo, segundo o CRM/MA, são todas as pessoas idosas ou portadoras de doenças crônicas que apresentem sintomas gripais.

A entidade pontua que os melhores resultados ocorrem com tratamento o mais precoce possível, bem como qualquer paciente, em qualquer faixa etária, que esteja sintomático.

Fases da Covid-19
No protocolo, o Conselho destaca que na Fase 1, denominada Replicação Viral ou Infecciosa, começa no contágio e vai até o 10º dia. Os sintomas frequentes são tosse seca, febre, cefaleia persistente, desconforto na garganta, sensação de “bolo” ao engolir, dor torácica, náuseas, vômitos, diarreia, perda do olfato (anosmia) e perda do paladar (ageusia), além de astenia, termo médico para ausência de força ou vigor e sensação de fadiga e fraqueza corporal.

“Além da cefaleia persistente, anosmia e ageusia, outros sintomas menos frequentes foram relatados, como tontura, sonolência, comprometimento da consciência, neuropatia periférica, epilepsia, entre outros”, observa o Conselho. De acordo com a entidade, os sintomas da fase de replicação viral são ausentes ou autolimitados em cerca de 85% dos casos, e quando sintomáticos, desaparecem entre 7 a 10 dias, momento em que o paciente entra na fase da inflamação, que ocorre em 15% dos contaminados e requer atenção redobrada.

Nesta segunda fase, ainda pode ocorrer a replicação viral, mas já acontece a inflamação pulmonar. Também são notadas alterações clínicas como piora da tosse. A terceira fase é chamada de Tempestade de Citocinas, que são substâncias naturalmente produzidas pelas células do sistema imunológico para favorecer a reação inflamatória, que é uma resposta de defesa de um organismo acometido por uma agressão. Os sinais de alerta são dificuldades para respirar, sensação de ter os pulmões esmagados e lábios azulados.

“De um modo geral, os pacientes idosos e portadores de doenças crônicas como obesidade, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus são considerados grupos de risco para evoluir para as fases 2 e 3, mas deve-se estar atento para quaisquer pacientes que permaneçam sintomáticos por mais de 7 dias”, esclareceu o Conselho Regional de Medicina.l

SAIBA MAIS

Coronavírus no Maranhão

O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde na noite de domingo, 17, mostra a confirmação de 13.238 casos do novo coronavírus no Maranhão. Desse total, 8.514 estão em isolamento domiciliar, 892 em internação em enfermaria e 375 em internação em UTI. Já aconteceram 576 mortes decorrentes da doença. O órgão declarou que o número de profissionais de saúde contaminados é de 803, mas 702 já estão recuperados, com registro de 12 óbitos.

Atualmente, de acordo com a SES, 195 municípios do estado têm casos confirmados da Covid-19. São Luís é o epicentro da doença no Maranhão com 5.995 contaminados.

Hidroxicloroquina

A hidroxicloroquina é usada em tratamento contra malária. Também é indicada para pessoas que tenham doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus eritematoso. Ela é muito confundida com a cloroquina, embora os benefícios clínicos sejam parecidos. Por outro lado, os efeitos adversos no organismo dos pacientes são distintos. A hidroxicloroquina, segundo alguns estudos científicos, é considerada um pouco mais segura, com menos efeitos colaterais.

As pesquisas mostram que os dois medicamentos podem causar problemas como distúrbios de visão, irritação gastrointestinal, alterações cardiovasculares e neurológicas, cefaleia, fadiga ou nervosismo. A hidroxicloroquina, que foi determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como produto controlado, possui contraindicações, como para pacientes que tenham menos de 6 anos e alérgico a cloroquina.

Devido aos efeitos colaterais, um hospital da França interrompeu o tratamento experimental usando hidroxicloroquina para pacientes com coronavírus. Foi verificado que o eletrocardiograma dos pacientes analisados apresentou anomalias, o que comprova a conclusão de alguns estudos no mundo que mostram que o medicamento tem potencial para levar uma pessoa à morte súbita cardíaca em determinados infectados.

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