Entrevista

"Estamos trabalhando na perspectiva de manter o festival", diz Luciana Simões

Ao lado do parceiro Alê Muniz, com o qual forma a dupla Criolina, responsável pela realização do Festival BR 135, a cantora fala sobre os planos para o evento, carreira e perspectivas diante da pandemia

Carla Melo/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Luciana Simões analisa os cenários culturais diante da pandemia
Luciana Simões analisa os cenários culturais diante da pandemia (luciana br)

SÃO LUIS- Sob o comando da dupla Criolina, formada por Alê Muniz e Luciana Simões, o Festival BR 135, celebrou oito anos ano passado e tem se consolidado como um importante propagador da música independente do país. Este ano, diante da crise sanitária que assola o mundo, os organizadores preveem mudanças, mas trabalham com a perspectiva de que o festival seja mantido. Em entrevista exclusiva a O Estado, a cantora Luciana Simões falou sobre o momento atual, o impacto da crise na classe artística e também sobre o planejamento do evento.

Como estava o planejamento do Festival BR-135 antes da crise de saúde pública?

Nesse início de ano estávamos ativando o Conecta Música, etapa formativa do festival, que foi contemplado no Prêmio Natura com o projeto de uma incubadora de artistas locais, que terá mentoria de produtores musicais e artistas da cena nacional. Nosso plano é lançar o edital do Conecta em maio.

Já há uma posição definida sobre a realização do festival este ano? fale sobre isto.

Com a crise da saúde, que afeta todos os mercados, nós ainda não temos definição para dizer agora como será, ninguém tem, né? Mas estamos trabalhando na perspectiva de manter o festival, que já é parte importante do calendário cultural do Maranhão e da cena da música independente do país. Estamos pensando, junto com a nossa equipe, maneiras de realizar o evento, de acordo com possíveis cenários.

A classe artística foi uma das grandes atingidas pela crise do coronavírus. Como você analisa a situação?

Na verdade essa é uma crise que atinge todos os segmentos e com a arte não foi diferente. Mas como acontece historicamente em todas as grandes crises, esse setor se reinventa. O mercado da música, em que atuamos, é um exemplo claro: vivemos inúmeras revoluções desde a era do rádio e hoje estamos nas plataformas digitais. A pandemia de Covid-19 tem nos levado para as lives e continuamos resistindo. Ninguém sabe dizer como será depois que tudo isso passar – e vai passar – mas tenho certeza de que a música, a arte, sobreviverá porque é alimento essencial para manter a nossa alma viva.

Muitos artistas têm se lançado em ações na internet. É possível se reinventar a partir desta experiência também para além da rede? Como?

Estou em contato com muita gente nesse mercado, produtores de festivais, artistas, todo mundo discutindo, buscando caminhos e saídas. Embora afastados em respeito ao isolamento social tão necessário para conter o avanço dessa doença, estamos juntos nessa tarefa de reinvenção, dentro e fora da rede. Penso que esse ‘como’ passa justamente pela colaboração, pelo fazer coletivo, o sentido do grupo como força motora e criadora.

Como a dupla Criolina está atravessando a pandemia? Teremos live ou algo do gênero?

Já fizemos algumas lives e a resposta do público é sempre uma alegria pra nós. Estamos produzindo música em casa, nos cuidando e dialogando muito com a rede de artistas e produtores. E também pensando estratégias para criar uma rede solidária para apoiar os profissionais da cadeia produtiva da música nesse momento.

O BR 135 também foca na formação, no processo de profissionalização. Qual a importância de fortalecer este lado neste momento?

Para nós o BR 135 só faz sentido quando o que apresentamos no palco dialoga com uma proposta formativa, que o Conecta traz, além da ativação de cadeias produtivas. Isso gera transformação por meio da arte e nesse momento é ainda mais importante porque o mundo está sendo resetado e precisaremos pensar sobre novas bases.

O que você tem ouvido por parte dos artistas do Maranhão? Há um sentimento em comum? o que se pode destacar de bom e de ruim neste cenário local?

Vejo medo e também muito espírito de união e colaboração ... E precisamos lembrar que além do artista, intérpretes e músicos, há toda uma cadeia de profissionais que estão sendo duramente atingidos com a paralisação de eventos, roadies, produtores, técnicos de som etc. Profissionais invisibilizados, que trabalham atrás do palco, no backstage, nas redes sociais etc. Estamos trabalhando também para conectar redes de auxílio nesse momento tão difícil. Vamos aproveitar o momento para criar em casa, produzir, compartilhar um conteúdo de qualidade para desenvolver a carreira dos artistas online, pensar em alternativas para viver de música. Acima de tudo, estamos pensando em primeiro lugar na segurança das pessoas, em buscar o necessário para que a nossa cadeia resista à crise, as pessoas têm necessidades diferentes, estão em lugares diferentes na cadeia, os mais vulneráveis estão necessitando de alimento. Tudo isso está fazendo parte das nossas prioridades quando pensamos em resistência e sobrevivência na música. Os artistas sempre caminharam na contramão, sem condições adequadas para existir e se reinventando. Acreditamos nas mentes criativas para encontrar mais uma vez um caminho para resistir e existir.

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