Artigo

Pequeno Dicionário da Pandemia (2)

José Ewerton Neto, autor de Autor de O ABC bem humorado de São Luís

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Pico. Até fins do ano passado a palavra pico, que significa o cume de um monte, só era adotada, além disso, em referência a agulhadas ou coceiras.

Depois do início da pandemia só se fala em Pico na sua versão matemática, significando, aqui, o ponto em que a curva de progressão da epidemia do Covid-19 vai atingir sua maior intensidade. Torna-se assim, o esperançado dia após o qual a mortandade tende a diminuir. O pico da pandemia, portanto, está mais ansiado nessa quarentena do que o orgasmo, para mulheres sem homens e vice-versa.

O problema é que, ao contrário do pico geográfico, o tal de Pico da Pandemia, está mais difícil de ser alcançado do que o das montanhas porque esses, pelo menos, a gente sabe onde estão.

Acontece que o desgraçado do Pico parece que se move no tempo e no espaço como se fosse um cometa. Desde o começo da epidemia basta que os especialistas o vislumbrem para que ele dê um salto à frente. Primeiro disseram que ele surgiria nos meados de março, depois ficou para o fim do mês, depois meados de abril, agora juram que só surgirá em junho.

De tanto avançar já existem especialistas jurando que ele só vai aparecer no fim do ano, vésperas do réveillon. O que, pensando bem, será o único jeito de pegar o fujão porque se ele não aparecer de verdade, ministros, governadores e cientistas acharão um jeito de darem um sumiço nele para poderem cair na folia, já que ninguém é de ferro. Esta ação, principalmente no Brasil, parece ser a única maneira de fazê-lo desaparecer do mapa.

Mais ou menos como foi feito antes do Carnaval deste ano, quando todos fizeram de conta que não o estavam enxergando.

Lock-Down. Palavra do idioma inglês que significa trancado em casa, ou seja, trata-se de um eufemismo, desta vez importado, para o significado, real, de encarcerado. “Quanto mais irremediável a doença, mais bonito precisa ser o nome do remédio, diz a sabedoria popular”.

Quando dom João VI veio com sua corte de Portugal para o Brasil os cariocas receberam um aviso em suas casas com as iniciais P.R que queria significar Príncipe Regente, mas que os cariocas interpretaram em sua real finalidade como Ponha-se na Rua, já que era um aviso para doarem suas casas aos portugueses e buscarem abrigo na rua.

Hoje lock- down significa ao invés de ‘ponha-se na rua’ feche-se dentro de casa, indicando que o tempo passa, as razões mudam, mas quem pode continua mandando, e os eufemismos permanecem na ordem do dia.

Como prova disso já tem gente querendo apelidar seu próximo filho de Lóquedaun, comprovando que nome bonito faz mesmo muita diferença. No Brasil, então, nem se fala!

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com


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