Artigo

Manuel Dias

Lino Raposo Moreira, PhD, Economista. Da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

“Quando há dias fui enterrar o meu querido Serra, vi que naquele féretro ia também uma parte da minha juventude”.

Acima o início de crônica de Machado de Assis publicada em 5 e novembro de 1888, na “Gazeta de Notícias”, do Rio de Janeiro, quando da morte de seu amigo maranhense Joaquim Serra. Foi esse meu sentimento, de perda, quando tive notícia da morte de Manuel Dias: uma parte de minha juventude, com seus sonhos e esperanças, foi com ele, como sempre vai com os amigos.

Nos conhecemos em 1970 na terceira turma do curso de Economia a se formar pela então recém-criada Faculdade de Economia do Maranhão, mais tarde incorporada à Universidade Federal. Quando estávamos no segundo ano de quatro (o curso era feito na ocasião por ano letivo, e não num sistema seriado em semestres como agora) fomos selecionados, juntamente com Pedro Alexandre Oliveira, meu colega no colégio dos irmãos Maristas e depois no Banco de Desenvolvimento, e Gastão Vieira, este da área do Direito, com o fim de fazer em Manaus o conceituado curso sobre problemas de desenvolvimento na América Latina, promovido pela CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina, órgão da ONU. Lá passamos quatro meses, tendo sido ele um dos destaques do curso.

Faço uma pausa a fim de falar sobre uma aparente coincidência, que a mim sempre pareceu uma conspiração das esferas celestiais dos astrônomos medievais. Dona Maria Thereza, mãe de Manuel, foi professora, em Cajapió, de minha mãe, Maria. Vem daí, sem dúvida alguma, o carinho especial dela por Manuel. Mas eu não soube logo disso. Somente mais tarde, conversando com ela sobre os colegas do curso de Economia, acabei sabendo da relação entre as duas.

Eu vi, logo no início do curso, a presença entre nós de um homem incomum, uma personalidade capaz de sempre despertar simpatias nas pessoas com quem convivia, de fazer amigos com facilidade. A agilidade e vivacidade de seu raciocínio eram notáveis e sua personalidade um tanto irreverente faziam a presença dele em qualquer ambiente social não passar despercebida. Tinha o raro talento de aliar o entendimento dos mais complexos assuntos teóricos da Economia à objetividade do homem prático na lida profissional e à realidade do mundo dos negócios. Quando lecionou na UFMA tornou-se querido por seus alunos a ponto de ter seu nome seu nome dado a algumas de suas turmas.

Quando retornei dos Estados Unidos, onde estudava economia, ele esteve presente a uma pequena recepção que minha família havia preparado para mim, num gesto, do qual jamais me esquecerei, de amigo verdadeiro, daqueles de se guardar na mente e no coração. Ele era daqueles de ter genuína alegria ao ver os bons passos dados pelos amigos em suas carreiras.

Era um pai amoroso o quanto um pai pode ser. A prova está no belo texto de sua filha Manuela sobre ele e subscrito pelos outros filhos, Cláudia, Karla, Rafael e Pedro, e por sua esposa, Maysa, que proclama a certa altura: Foste “o filho que beija a foto de sua mãe a cada passagem por sua imagem presa na parede, aquele que senta na varanda da casa, para com o vento sentir o cheiro de jasmim que trazia a doce recordação de tua mãe”. Que beleza, que amor!

Manuel fertilizou com amor e carinho a vida das pessoas próximas dele e além. Agora, a fertilização será interminável, pois ele agora poderá tocar uma quantidade infinita de pessoas.

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