Homenagem

Mãe solo? Mãe super! mulheres que criam os filhos sozinhas

Segundo dados do IBGE, em 2015, ano da última atualização, o Brasil tinha 11,6 milhões de famílias chefiadas por mulheres

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Olhar para o passado e ter a sensação de alívio, de dever cumprido, após todos os desafios superados e dificuldades enfrentadas, mas sem nunca perder a esperança de cumprir a missão: ser mãe, educar os filhos e, tudo isso, sem a figura paterna ao lado. Houve medo, insegurança e, durante a separação, muitas foram as mágoas. Mas, nada impediu a assistente social e professora universitária Anne Gabriela Veiga, de lutar, ainda que sozinha, para cuidar dos filhos Gabriel Veiga e Daniela Veiga.

“Para mim, era muito doloroso ter que deixar meus filhos, abdicar do tempo com eles, para trabalhar e garantir o sustento deles. A maternidade é o exercício vivo, todas as projeções giram em torno dos filhos. Na época, eles eram bem pequenos, eu estava fazendo mestrado, dava aula, já era professora universitária e ocupava outro cargo. Então, tinha que me dividir como mãe e profissional e dar conta dessas atribuições, e não fazer alienação parental, dizer que tem um pai e garantir o bem-estar emocional deles. Quando estava em casa, dava todo amor e atenção, mas também, trabalhava muito, pois tudo o que conquistava era pensando neles”, lembra com orgulho a professora que hoje coordena o curso de Serviço Social no Centro Universitário Estácio São Luís.

Para Anne Gabriela Veiga, a maternidade é algo inerente à sua própria existência. “Posso dizer que a maternidade é um pedaço de mim. Saber que você gerou uma vida, que você vai cuidar daquele bebezinho e dar toda uma construção em cada etapa da vida para ser um grande homem ou uma grande mulher. Isso é algo fantástico! A maternidade é algo lindo e tem um amor imensurável, sou totalmente realizada como mulher, profissional e como mãe”, celebra.

Milhões de super heroínas
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2005, o Brasil tinha 10,5 milhões de famílias de mulheres sem cônjuge e com filhos, morando ou não com outros parentes. Os dados de 2015 – ano da última atualização - mostram que esse quantitativo acabou subindo para 11,6 milhões de famílias com mulheres na dianteira, como únicas responsáveis pelo sustento e pela educação dos filhos.

A psicóloga Celiane Lopes, do Hapvida Saúde, lembra que há vários motivos para que uma mãe crie os filhos sozinhas, mas que em todos eles é exigido da mulher uma responsabilidade ainda maior dentro de casa. “A mulher pode querer formar uma família de forma independente, por meio da inseminação artificial ou da adoção, pode ficar viúva, acabar se divorciando do parceiro ou ser abandonada pelo pai da criança. O que nós percebemos, socialmente falando, é que a maioria das mães precisa criar os filhos sozinhas e, em contrapartida, lidar também com a rejeição. Esse é um grave defeito da sociedade e precisamos trabalhar para que pessoas não sofram com isso”, atesta.

Independentemente do motivo que a mulher teve para criar os filhos, sozinha, a psicóloga ressalta que a mãe precisa criar a consciência da responsabilidade que significa criar um filho. “Muitas mães criam seus filhos sozinhas com maestria. Elas trabalham, estudam, cuidam das crianças, da casa e fazem isso muito bem. É quase instintivo da mulher ter essa personalidade mais decisiva. Porém, uma mãe que cria seus filhos sozinha precisa ter em mente que ela será o dobro do amor e o dobro da lei dentro de casa. Uma função que seria dividida com o pai recai sobre ela com o dobro de peso, aí se torna a mãe, que também é pai”, afirma.

[e-s001]Esse é exatamente o peso sentido em dobro por Kércia Massete, assistente administrativa que hoje atua na área de Recursos Humanos do Grupo Mateus. Ela afirma com orgulho que, ser mãe é um dom divino e a maior inspiração dela vem de casa, da própria mãe, considerada por Kércia Massete o seu próprio espelho. “Tudo que aprendi com minha mãe, que recebi de amor, carinho, caráter e educação, eu passo para meu filho”, derrete-se a mãe de Douglas Massete (5).

Kércia Massete lembra, ainda, da importância que ela tem na educação e na formação do caráter do pequeno Douglas, para que na vida adulta seja um homem respeitador e responsável. “Eu também sou o pai, então entrei no universo masculino, aprendi a jogar bola com ele, a empinar pipa, brincadeiras que o Douglas gosta, brinco com ele e para mim é pura diversão. Faço tudo por ele, é minha prioridade, e o amor é em dobro!”, alegra-se.

Apoio familiar
Sem o pai da criança ao lado, muitas mães tendem a se sentir esgotadas e algumas até podem desenvolver depressão. Por isso, a família dessa mulher também deve acolhê-la, de modo que apoie a criação da criança, mas sem tirar a autoridade da mãe. “O que eu percebo bastante são as mães-irmãs. Algumas meninas se tornam mães muito jovens e os pais delas, no caso os avós da criança, tornam-se os ‘avós-pais’, que retiram a autoridade da mãe. Aí ela passa a ser uma ‘irmã mais velha’. Isso pode prejudicar a criança no futuro, que se sentirá confusa quanto ao papel real da mãe na vida dela”, alerta a psicóloga Celiane Lopes.

Outro ponto é não esconder a história verdadeira da criança, para que não gere nela uma revolta, se vier a descobrir a verdade. “A criança precisa saber quem é o pai dela, mesmo que a figura dele não esteja presente. É importante entender que o pai também é parte da história”, aconselha.

Fato é que, independentemente de ter ou não a companhia do pai dos filhos, as mães são mulheres que nascem dotadas de uma força cuja fonte é tão inesgotável quanto o eterna: o amor. E não existe "amor-solo", porque, se é amor, tem mais gente envolvida. Nenhuma mãe é solo... Mas toda mãe é terra fértil para a semente frutífera que é uma vida humana.

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