Artigo

Fatos novos

Joaquim Haickel, Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Sobre a imensa profusão de fatos novos que assolam a política nacional, todos os dias:

Em que pese eu ter iniciado formalmente na política, como assessor parlamentar, em 1978, já convivia com ela desde 1966, pois quando criança não desgrudava de meu pai e ouvia as conversas dele com seus amigos. Eu agia como uma verdadeira esponja, absorvendo tudo naquele ambiente, armazenando e sintetizando como material de aprendizagem daquilo que gostaria de ser quando crescesse: deputado.

Depois de morar por dois anos em Brasília, voltei para São Luís em 1980. Os motivos não foram políticos, foram sentimentais. Apaixonado, não queria ficar longe da namorada da época. Pela manhã trabalhava como chefe de gabinete do governador João Castelo, pela tarde frequentava o efervescente Campus Universitário da UFMA, onde cursava direito, e pela noite namorava com Cristina, sobrinha do ex-governador Pedro Neiva de Santana, filha do ex-prefeito Haroldo Tavares. Meus ambientes estavam impregnados de política.

Das 8 às 12 cursava política com o mestre José Burnet e outros; das 14 às 18 tentava aprender um pouco sobre as leis, com professores como Alberto Tavares, além de conviver com colegas que chegariam bem longe nas carreiras que escolheram, como Candido Ribeiro, Nicolau Dino e Reinaldo Soares, entre outros; das 19 às 21, além de namorar, conversava com Pedro Neiva e Haroldo Tavares sobre os acontecimentos.

Em 1983 assumi meu primeiro mandato de deputado estadual. Convivi com os maiores expoentes da última geração de bons políticos de nosso estado.

Em uma das reuniões político-gastronômicas que realizava em nossa casa, meu pai comentou que estava tudo muito parado, que precisava acontecer um fato novo, que isso era ruim, que estavam precisando de um solavanco de arrumação para encaixar algumas coisas que estavam fora do lugar, ao que o velho e sábio deputado Bento Neves, que naquela altura, além de meu colega deputado era pai de Virgínia, minha namorada de então, disse que meu pai tinha razão, que algumas coisas precisavam realmente se arrumar, e nada melhor para isso que um fato novo.

O problema, segundo ele, era saber se o tal fato novo não iria piorar ainda mais aquela situação, uma vez que controlar os fatos é a parte mais delicada da política, pois existem muitos fatores e atores envolvidos, o que torna o controle disso tudo em uma tarefa digna de um gênio!

Lembro que naquela mesma noite, outro assunto abordado, num grupo em que estavam meu pai e meus colegas deputados, Zé Bento, Baima Serra, Zé Elouf e Celso Coutinho, que infelizmente nos deixou na semana passada, era sobre quais eram as coisas mais importantes na política: bons propósitos, correção nas atitudes, coerência nas ideias, inteligência e sabedoria nos posicionamentos, e é claro, uma pitadinha de sorte.

São os fatos novos que fazem a máquina da política se movimentar, mas é o controle deles, com o implemento daqueles insumos citados acima que garantem a um político, a supremacia.

Tive a sorte de aprender com os melhores mestres as coisas mais importantes para o caminho que desejava seguir e a jornada que iria trilhar.

Neste momento temos uma enorme quantidade de fatos novos, produzidos voluntária ou involuntariamente por um sujeito que não tem a menor capacidade de controlá-los, que nem sempre age com correção e coerência. Alguém que não é nem inteligente nem sábio, para quem a sorte sorriu apenas por um instante, uma sorte que na verdade é apenas o reflexo da ira que as pessoas sentiam para com seus adversários... Isso pode acabar fugindo completamente do controle!...

O presidente não consegue entender que fatos novos são ótimos para a imprensa e para seus adversários, pois a tridimensionalidade deles dificulta seu controle, precisando, como bem disse Bento Neves, da capacidade e da habilidade de um gênio, um quase Deus para controlá-los!

Bolsonaro vive gerando fatos novos, logo, fornece cada vez mais combustível para quem o utiliza para queimar a ele e ao Brasil.

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