Opinião

Carlos Castello Branco e José Sarney

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Sarney e Castelinho, assim chamado, também, caminharam juntos na estrada da literatura, que o conduziram à Academia Brasileira de Letras. Benedito Buzar

No livro do jornalista Carlos Marchi, intitulado “Todo aquele imenso mar de liberdade”, publicado pela Editora Record, sobre a vida de um dos maiores jornalistas do Brasil, Carlos Castello Branco, nascido em Teresina-Piauí, dois maranhenses têm presença marcante: Neiva Moreira e José Sarney.

Neiva Moreira é evocado porque os dois foram colegas de infância e de juventude, quando começaram a escrever em jornais colegiais de Teresina, de onde partiram para o Rio de Janeiro e deram continuidade à atividade jornalística, em periódicos que marcaram época na então capital da República.

O segundo, José Sarney, conheceu Castello Branco no Rio de Janeiro, com o qual firmou uma fraterna amizade, consolidada em Brasília, onde o jornalista escrevia com brilhantismo uma coluna no Jornal do Brasil, e o político maranhense brilhava como deputado federal, senador e no exercício da Presidência da República. Sarney e Castelinho, assim chamado, também, caminharam juntos na estrada da literatura, que o conduziram à Academia Brasileira de Letras.

A atuação de José Sarney, no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, mereceu do jornalista piauiense, comentários que se encontram registrados na obra de Carlos Marchi, onde o político maranhense figura em mais de cinquenta páginas das quinhentas impressas. Vejamos.

Origem da amizade

“Sarney conheceu Castelinho quando chegou ao Rio de Janeiro, deputado federal de primeiro mandato, em 1954. Ele ia muito à casa de seu conterrâneo Odylo Costa Filho, que era o ponto de encontro de políticos e intelectuais, sede de permanentes saraus literários, onde também muito se falava de política. Lá, o dono da casa recebia talentos como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Josué Montello, Afonso Arinos e Milton Campos. Ali foi forjada a amizade de Odylo com Castelinho e Sarney, que era político, mas tinha fortes veleidades literárias. Foi dali que ele (Sarney) passou a ser fonte informativa de Castelinho.”

Amizade retemperada

“A aproximação de Castelinho com Sarney cresceu porque ele era um dos integrantes mais ativos do grupo bossa-nova da UDN, de cunho nacionalista e com a preocupação com o social. Em Brasília, a amizade retemperou-se com os encontros em casas e restaurantes e, nesses lugares, a conversava invariavelmente acabava derivando para a vida pessoal e brotavam com os filhos de ambos com idades parecidas.”

Convite para Ministro

“O que pouca gente sabe é que, antes de Sarney convidar José Aparecido para ser ministro da Cultura, convidou Castelinho para o ministério, que não aceitou a missão porque não desejava exercer nenhum cargo público, concessão que fizera no governo Jânio Quadros, porque José Aparecido o levou algemado para o Palácio do Planalto. Antes de convidar Castelinho, Sarney convidara a atriz Fernanda Montenegro, que também recusou.”

Sarney Presidente

“Sarney nunca pensou em ser presidente da República. Ele pensou em ser governador do Maranhão e senador, depois entrar na Academia Brasileira de Letras. Ser presidente, foi um acidente na vida dele.”

Sarney e o Jornal do Brasil

“Nascimento Brito, dono do Jornal do Brasil, não gostava que Castelinho citasse muito Sarney na sua coluna, porque ele era amigo de Roberto Marinho, proprietário de O Globo, e da condessa Pereira Carneiro, Maurina Dunshee de Abranches Carneiro, nascida em Niterói, mas filha de João Dunshee de Abranches de Moura, um pesquisador da História do Maranhão. Essa vinculação às origens maranhenses fez com que ela escolhesse Odylo Costa Filho para comandar a grande reforma do JB, na década de 1950. A partir daí, Brito, seu genro, teria criado ojeriza por Odylo, que mais tarde terminou demitido e por todos os amigos dela. Por essa via torta, Brito se aproximou de Renato Archer, adversário ferrenho de Sarney no Maranhão”.

Posse na Presidência

“ Muito tempos depois de ter deixado a Presidência da República, Sarney encontrou o ex-ministro Leitão de Abreu num jantar na casa de Castelinho, onde, finalmente, deu a Sarney, de viva voz, a interpretação que definiu a posse do então vice-presidente, após a internação de Tancredo Neves, em 15 de março de 1985: - Eu sabia que o texto constitucional era claro. Mas o presidente Figueiredo, em nenhuma hipótese, queria passar o governo a você, pelos ressentimentos por sua saída do PDS. Então eu disse que Figueiredo não lhe passaria a faixa porque entendia que, pela Constituição, era o Ulysses quem teria de assumir. Eu não iria divergir do presidente, sob pena de ser acusado de deslealdade no último dia de governo.”

Eleição na ABL

“Em 1972, Castelinho disputou uma vaga na Academia Brasileira de Letras e não conseguiu eleger-se. Aos amigos, confidenciou que não mais se candidataria porque ficara traumatizado com a derrota e mais ainda com os que prometeram votar nele e não votaram.

“Mas, em 1982, José Sarney e José Aparecido articularam o lançamento de seu nome. Sarney, que já era acadêmico, depois de muita conversa, convenceu Castelinho a concorrer a uma vaga na ABL, porque era uma tradição da Casa de Machado de Assis ter como membro um jornalista de fato. E que naquele momento esse jornalista era ele, a maior expressão do jornalismo brasileiro contemporâneo com o seu estilo inconfundível e preciso nas palavras.

No dia 4 de novembro de 1982, Castelinho foi eleito para a cadeira que pertencia a Raimundo Magalhães Junior. O discurso de recepção, feito pelo fraternal amigo José Sarney, aconteceu na posse ocorrida a 25 de maio de 1983.”

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