Pandemia

Impacto mercadológico nas micro e pequenas empresas com a Covid-19

Levantamento feito pelo Sebrae e apresentado a O Estado aponta que, de cada 10 negócios do gênero no estado, 9 tiveram queda no faturamento; um terço já demitiu funcionários

Thiago Bastos / O Estado MA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Lojas da Rua Grande estão de portas fechadas por tempo indeterminado, para evitar aglomeração
Lojas da Rua Grande estão de portas fechadas por tempo indeterminado, para evitar aglomeração

Desde o dia 21 do mês passado, data em que o Governo do Maranhão expediu o primeiro decreto que suspendia (até então por 15 dias) as atividades e os serviços não essenciais (tais como academias, shoppings centers, cinemas, bares, restaurantes, lanchonetes, centros comerciais, lojas e similares), os negócios em geral foram atingidos diretamente com quedas na arrecadação e perdas de receitas fundamentais para a quitação dos vencimentos com fornecedores.

Empreendimentos em diversas partes da cidade tiveram redução nos lucros em virtude da crise financeira causada no país pela situação de pandemia do coronavírus. Um reflexo disso na cidade é visto diariamente na Rua Grande, considerado o principal centro comercial da capital. No local, por determinação governamental, lojas não podem abrir as portas.

Alguns empreendimentos começam a expor as consequências dos danos financeiros. Marcas estampadas na via comercial da cidade deram início a demissões. Outros negócios decidiram renegociar os vencimentos salariais.

Uma medida governamental implantada na quinta-feira (30 de abril) agravará o cenário no setor terciário. Por determinação do Governo do Maranhão, a Rua Grande foi isolada, para evitar cenas de aglomeração social. Além da Rua Grande, em bairros da capital cujos nichos e concentrações de lojas e empreendimentos são marcantes, o cenário também é preocupante.

No São Francisco, ao longo da Avenida Marechal Castelo Branco. Vários empreendimentos, antes mesmo da pandemia, fecharam as portas e os poucos restantes calculam as perdas.

Empreendedores promovem ações, como rifas, para ajudar os colaboradores com cestas básicas
Empreendedores promovem ações, como rifas, para ajudar os colaboradores com cestas básicas

Pequenas e microempresas atingidas

Dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apontam que nove de cada 10 empresas do Maranhão deste gênero tiveram queda no faturamento nos meses de março e abril deste ano. Segundo o levantamento, são empreendimentos que faturam até R$ 30 mil mensais em períodos fora de crises.

Em março deste ano, período que antecedeu ao crescimento do número de casos de coronavírus na capital maranhense e em todo o Estado, o índice de empreendimentos do gênero com redução arrecadatória já era considerado alto (em torno de 89,2%). À época, apenas 2,5% dos pequenos e microempreendimentos em serviços específicos, tiveram elevação nos rendimentos.

Em contrapartida, no quarto mês do ano, em que se intensificou o rigor nas fiscalizações governamentais de circulação de pessoas, o índice de empresas com queda no faturamento passou para 90,91%.

Outros 20% dos negócios entre R$ 7 e R$ 15 mil também tiveram redução nos lucros em abril e ainda 3% dos empreendimentos cujos valores de arrecadação entre R$ 16 e R$ 230 mil mensais também entraram na conta dos que apresentaram reduções em seus balancetes.

Dos pequenos e microempreendimentos, praticamente um terço apontaram como medida paliativa - para contar a “sangria” financeira - a demissão de pessoal. Englobando esses tipos de negócios, 17,2% optaram por, em curto prazo, não demitir. Mais da metade dos negócios de menor porte do Estado disse não ter colaboradores e, até o momento, são mantidos pelos próprios responsáveis dos empreendimentos.

Por quanto tempo?

Ainda de acordo com o levantamento do Sebrae, apenas 20% dos empreendimentos de menor porte acreditam ser possível manter os negócios em funcionamento (pleno ou parcial) por até seis meses, considerando medidas de restrição social. Um terço dos negócios revela capacidade para manutenção ativa por até um mês. Ao todo, 28% dos responsáveis apontaram não saber avaliar quando a circulação social deve retornar para evitar falência ou fechamento dos empreendimentos.

Dívidas e pagamento de pessoal pesando

As empresas maranhenses consultadas revelaram ainda, de acordo com o Sebrae, que os custos que mais afetam seus negócios neste momento são obrigações com empréstimos e dívidas (45% dos negócios consultados). Outros 44% apontam ser mais difíceis manter os custos de pessoal.

Outras despesas também são apontadas neste momento como fatores de empecilho dos negócios. Matérias-primas, por exemplo, além de aluguéis e impostos foram apontados como preponderantes para um cenário de contas apertadas, considerando os gastos dos negócios.

De acordo com o diretor-técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho, é necessário neste momento atípico uma junção de forças das instituições e um esforço do poder público. “Esses dados impõem aos agentes econômicos, às instituições públicas e privadas, às entidades de classe, aos agentes de crédito, a união de esforços e o compromisso de se voltarem para os pequenos negócios, para que possam atravessar a crise em condições de superar os obstáculos, e de olhar para o futuro. A serenidade é necessária para se identificar oportunidades em um eventual cenário de retomada da economia”, afirmou.

Novos empreendedores surgem em meio à crise

No caso dos MEIs (Microempreendedores Individuais), denominação que se refere aos trabalhadores autônomos como vendedores, doceiros, manicures, cabeleireiros, eletricistas, dentre outros, atualmente 118 mil estão cadastrados oficialmente nos órgãos de controle. A maior concentração está em São Luís com 39,5 mil MEIs registrados. Em Imperatriz, são 10 mil MEIs registrados.

Apesar da crise, a capital maranhense registrou crescimento no número de MEIs criadas. De acordo com os dados do Governo Federal, contidos no Portal do Empreendedor, nos primeiros 45 dias de isolamento social, foram registrados 2782 novos MEIs no estado, o que representa quase 40% de todas empresas deste porte abertas em 2020.

Para dar assistência a este público, instituições como o Sebrae executam consultorias online prestadas de forma gratuita e individual. Para esta modalidade de atendimento online, os empresários interessados deverão entrar em contato com a Central de Relacionamento do Sebrae por telefone (0800 5700800 ou 9991-2335) e agendar o seu horário. Os atendimentos acontecerão das 8h às 12h e das 14h ás 18h, de segunda à sexta-feira.

Ainda sobre o MEI

Podem aderir ao programa os negócios que faturam até R$ 81 mil por ano (ou R$ 6,7 mil por mês) e têm no máximo um funcionário. Com a criação dessa figura jurídica, profissionais que trabalhavam de forma autônoma e informal puderam regularizar sua situação e passaram a ter um novo status no mercado.

Mensuração do mercado

A O Estado, o superintendente da Fecomércio no Maranhão, Max de Medeiros, disse que, apesar do levantamento divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) que prevê perdas de R$ 1,18 bilhão no segmento varejista após a pandemia, não é possível ainda para a instituição mensurar, com exatidão, as perdas no mercado com a crise.

Para o gestor, ainda é prematura essa análise do déficit no setor. “É cedo para avaliar o alcance dos prejuízos, uma vez que ainda não sabemos até quando vai durar as restrições às atividades comerciais. A dinâmica econômica será fortemente impactada por um desaquecimento generalizado do consumo, forçado por uma redução da renda das famílias e elevação do desemprego. No entanto, o alcance desses prejuízos só poderá ser conhecido quando conseguirmos estancar a evolução da crise de saúde pública”, afirmou o superintendente.

Para o dirigente, a crise é superior a outras vividas, como a de 2008. “No entanto, por se tratar de uma crise de saúde pública, e não somente uma crise econômica, seguimos em compasso de espera das soluções primordiais no controle e tratamento da doença”, disse Medeiros.

Abrindo o jogo - Mauro Borralho (Sebrae)

“O comportamento do consumidor não será mais o mesmo depois da pandemia”

O diretor técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho, disse a O Estado que o “comportamento” do consumidor não será mais o mesmo pós-pandemia. Para o dirigente, o comprador do produto ou adquiridor do serviço elevará o grau de exigência, o que obrigará a incrementos nos negócios.

Ainda segundo o gestor, o Sebrae oferece de forma online consultorias para donos de projetos comerciais que estejam com dificuldades. Para Mauro Borralho, algumas atividades comerciais estão na frente de outras por “encontrarem soluções” para enfrentar a crise.

Houve redução na procura por consultoria pelos responsáveis dos negócios? E houve queda na procura por abertura de novas empresas?

Não nos dois casos, pois foram implantadas uma série de medidas para oferecer consultorias via web, como palestras e cursos online [no total, são 400 cursos online no portal Sebrae], além de e-books gratuitos sobre assuntos diversos como finanças e empreendedorismo rural, debates online e outros conteúdos. Desenvolvemos novas ferramentas para atender aos nossos clientes já fidelizados e aos que nos procuraram pela primeira vez durante a crise. Posso citar aqui uma das novas ferramentas lançadas pelo Sebrae durante o período de isolamento social, que são as consultorias online, prestadas de forma gratuita e individual, cujo objetivo é orientar os empreendedores no período de crise. Nas salas online de consultoria, os empreendedores maranhenses têm acesso a consultorias nos temas finanças, marketing e vendas, dúvidas trabalhistas e dicas para inovação. Para esta modalidade de atendimento online, os empresários interessados deverão entrar em contato com a Central de Relacionamento do Sebrae por telefone (0800-5700800 ou 98 9991-2335) e agendar o seu horário. Os atendimentos acontecerão das 8h às 12h e das 14h às 18h.

É possível mensurar qual o ramo neste momento do pequeno e médio negócio mais atingido com a crise do coronavírus? Se sim, quais razões?
Todos os ramos estão sofrendo com a pandemia. O que posso dizer é que alguns segmentos de mercado entenderam o momento e tiveram velocidade para fazer a transformação necessária estão sofrendo menos. Um bom exemplo são os pequenos negócios que aplicaram o delivery para este momento. Aqueles que reviram sua cadeia de fornecimento, seus custos operacionais e enxugaram o que era possível estão sofrendo menos.
Pessoas que possuem pequenos negócios, como fazer para evitar a falência? Redução de preços? Promoções? Fidelização do cliente?

Adaptação é a palavra chave para a sobrevivência dos pequenos negócios. As empresas precisam aprender a ter uma presença digital mais forte para conectar seu negócio com o seu público. É importante avisar a seus clientes que o empreendedor está de portas fechadas e que permanece em funcionamento pela internet. Uma boa dica é utilizar as redes sociais para divulgar a forma de como os seus serviços estão funcionando, quais são horários de atendimento, as promoções e quais são os canais de atendimento alternativos.
Para “atrás do balcão”, o empresário precisa rever sua cadeia e fornecimento, negociar com seus fornecedores e enxugar seus custos. É importante ainda ter um controle maior das suas contas. O Sebrae tem consultorias e ferramentas para ajudar o empreendedor a avançar neste sentido.

Qual será o impacto na economia local após a crise? É possível mensurar?

O comportamento do consumidor não será mais o mesmo, o empresário tem que ter uma postura ativa, mais digital e, de acordo com o seu negócio, criar alternativas criativas para fortalecer sua marca. Também orientamos os empreendedores que novas formas de relações de trabalhos se estabelecerão, assim como novos modelos de negócios. Desta forma, o que podemos dizer aos MEIs [microempreendedores] e empresários é que se se preparem, invistam em conhecimento para remodelarem suas empresas para que estas marcas estejam presentes no mundo que surgirá após a pandemia.

Números

9 de cada 10 empresas locais que faturam até R$ 30 mil mensais tiveram queda em suas arrecadações nos períodos

2782 novos MEIs no estado foram registrados nos primeiros 45 dias de isolamento social

20% dos negócios entre R$ 7 e R$ 15 mil também tiveram redução nos lucros no estado

Fonte: Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)

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