Entrevista/Anna Torres

"Compus duas músicas que falam sobre a pandemia"

Cantora Anna Torres fala como está lidando com as mudanças na França por causa da pandemia

Evandro Júnior/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Anna Torres fala sobre a rotina na pandemia
Anna Torres fala sobre a rotina na pandemia (anna torres)

SÃO LUÍS-Radicada há 20 anos na França, a cantora maranhense Anna Torres segue em isolamento social em Paris, onde mora com o marido. Ela conta que a situação naquele país continua complicada e que aguarda, com ansiedade, o término do confinamento social, que deverá ocorrer de forma paulatina. A artista aproveita o tempo para compor e traçar metas para colocar em prática depois que a pandemia passar. Além disso, já fez lives e segue, ao lado do marido francês, Mario, cuidando também da filha, Marianna Scodinu, de 10 anos e que é autista. Nesta entrevista exclusiva a O Estado, a cantora revela também a sua preocupação com a situação delicada enfrentada pelos brasileiros e aproveita para mandar um recado.

Como está a situação na França, atualmente, com relação ao isolamento social?
Infelizmente, o número de mortes é alarmante. São mais de 21 mil perdas. Ainda que a França esteja obedecendo às regras de confinamento, prorrogadas até 11 de maio, a situação é preocupante. Imagina se não tivéssemos respeitado o isolamento social!

Há previsão de relaxamento das medidas governamentais?
O fim do confinamento aqui na França acontecerá de maneira progressiva. Primeiro o comércio, algumas as escolas, de maneira bem organizada, ou seja, apenas as prioridades, como aquelas crianças cujos pais precisarão trabalhar. Há muitas crianças que recebem ajuda das escolas no que diz respeito à alimentação. Há ainda aquelas que não têm acesso à internet e precisam retornar às aulas presenciais. No caso da minha filha, que frequenta uma escola para pessoas autistas, o retorno não acontecerá ainda, pois crianças especiais continuarão confinadas. Os bares e restaurantes apenas abrirão em meados de julho. Todos os festivais de verão foram cancelados, bem como os jogos de futebol, shows, a programação dos cinemas, entre outros.

Nesse período de confinamento, você tem pensado em algo, em termos musicais, para apresentar após essa fase?
Tenho sim! Já compus duas músicas falando sobre essa pandemia ("Fique em Casa" e "Vírus do Amor"), sendo uma delas para conscientizar sobre a importância do “ficar em casa” e outras que espero gravar em breve. Independente da pandemia, eu tenho o trabalho da “Cigarra Autista”, que continua avançando, de casa mesmo, porque são as versões do projeto em espanhol e em Inglês. Mas não tenho previsão ainda de entrar em estúdio para dar continuidade ao projeto. Penso que isto possa acontecer em setembro, mas ainda não sei como estará a nossa situação aqui na França até lá. Até que encontrem uma vacina e medicamentos para curar a doença, fico receosa, pois quando vou para o estúdio, eu passo o dia inteiro trabalhando.

Você chegou a fazer alguma live durante o isolamento?
Sim. Eu fiz duas lives, sendo uma para a Rádio Mirante FM, do Grupo Mirante, do Maranhão, e outra para a Rádio Latina, aqui de Paris. Foi uma experiência muito enriquecedora e importante para mim.

Você tem tido contato com seus parceiros musicais nesta fase? Vocês aproveitaram para prospectar mais parcerias?
Sim. Dois desses meus parceiros foram contaminados e fiquei muito apreensiva. Um deles está fora de perigo. O outro, além de ter caído e quebrado a clavícula, estava com todos os sintomas de coronavírus. Além disso, ele é um pouquinho mais de idade. Ligo todos os dias para ele e estou muito preocupada. Aqui na França, faleceu um artista que eu havia entrevistado no início do ano, o Manu Dibango, quando estava concluindo o projeto da “Cigarra Autista”. Ele era um grande compositor, que se tornou mundialmente conhecido depois que Michael Jackson plagiou uma música dele. Faleceu ainda o cantor Christophe, compositor da música “Aline”, que eu interpretei em um show em São Luís, em homenagem à música francesa, no Teatro Arthur Azevedo.

Como tem sido esse período para a sua filha, já que ela é autista?
Tem sido extremamente difícil. O retorno às aulas não tem previsão, mas mesmo que aconteça no mês de junho, prefiro não levá-la e segurar até setembro e olhe lá. Mesmo tendo criado uma nova rotina, não tem sido fácil. Ela chora muito e exige certa atenção e nem sempre podemos estar 100% ao lado dela, porque há os afazeres domésticos, as composições, entre outras coisas. E ela tem feito muita bobagem, como quebrar o armário e a cama dela. Enfim, exige realmente muita atenção, mas prefiro passar por tudo isso e garantir a saúde dela do que levá-la à escola e colocar sua saúde em risco.

Baseado na experiência da França, qual mensagem você enviaria para os seus conterrâneos maranhenses?
Eu sei que a pandemia começou a se revelar agora no Brasil, de forma mais agressiva, e no início é sempre assim. As pessoas ficam naquela dúvida em relação ao que vai acontecer, embora a imprensa brasileira tenha falado bastante no assunto. O Brasil teve a possibilidade de observar o comportamento de alguns países com antecedência e acredito que isso tenha ajudado um pouco. A França, em pouco tempo, foi tomando atitudes mais severas. No caso de uma pandemia, os dias contam muito, não é questão de meses. É preciso tomar decisões com muita antecipação e acho que o Brasil demorou muito. O fato de o presidente Jair Bolsonaro não ter se manifestado com prudência, atrapalhou bastante, em minha opinião. Por isso, acredito que as conseqüências serão enormes. Enquanto o mundo está voltado para a pandemia, o Brasil, por seu turno, está lutando contra a crise sanitária, mas também contra as divergências de opiniões. E deverá ser penalizado por isso, ou seja, por essa perda de tempo. A gente sabe que não é uma questão de ficar confinado pelo resto da vida, mas por apenas alguns meses, no intuito de frear a contaminação. É realmente muito triste e vejo, realmente, um futuro muito sombrio no Brasil.

Que lição você tira de tudo isso?
A lição que tiro é que é possível preservar o meio ambiente, consumir menos, se deslocar menos. Acho que este momento é um grande divisor de águas. As pessoas repensarão o seu modo de vida. O home office, por exemplo, é bom, para que as pessoas convivam mais com as famílias e se desloquem menos, se estressem menos indo ao trabalho. Acho que o isolamento social veio para reforçar que nós dependemos muito uns dos outros, não somente com relação à amizade, mas com relação à sobrevivência mesmo. Todos nós somos muito importantes.

Quais suas considerações finais?

Gostaria de fazer um pedido a todos os meus conterrâneos: que realmente levem a sério essa pandemia. O mundo parou por causa desse vírus e peço que fiquem atentos, mesmo depois da volta ao trabalho, que precisará ser muito planejada, para que a segurança das pessoas seja prioridade, pois não sabemos como o corpo da gente reagirá ao vírus. l

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