Entrevista

"Indústria do entretenimento é uma das que mais sofrem com a crise"

Evandro Junior / O Estado MA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
O empresário Marcelo Aragão (4º à direita) com a equipe da 4Mãos: Eryck, Hygor, Adriana, Kellinha, Kerly, Shirmene, Thiago e o sócio, Roberto Gurgel
O empresário Marcelo Aragão (4º à direita) com a equipe da 4Mãos: Eryck, Hygor, Adriana, Kellinha, Kerly, Shirmene, Thiago e o sócio, Roberto Gurgel (Marcelo Aragão)

O setor do entretenimento é um dos mais afetados pela crise decorrente da pandemia. No Maranhão, o cenário não é dos melhores, desde que o governo, seguindo recomendações, proibiu a realização de eventos culturais. Nesta entrevista, o empresário Marcelo Aragão, sócio-proprietário da 4Mãos Entretenimento, fala sobre os impactos sofridos pelos profissionais que compõem a cadeia.

A crise sanitária chegou sem avisar e os impactos têm sido enormes em todas as áreas. Como você avalia os reflexos da pandemia no setor do entretenimento?

Ninguém no mundo podia prever a dimensão e os efeitos dessa pandemia, sejam governos, empresas, organizações, a ciência, todos nós. E esclareço que o “todos” é numa escala mundial. Os reflexos para o nosso segmento são devastadores. Fomos praticamente o primeiro setor da atividade econômica a ser paralisado em suas atividades e, certamente, seremos os últimos a voltar com a sua dinâmica completa quando tudo passar.

O que veio a sua cabeça assim que as autoridades baixaram decreto suspendendo todos os eventos no Maranhão? Qual foi a reação da sua equipe?

Já imaginávamos que nossa atividade seria atingida por decretos municipais e estaduais. Era a atitude a ser tomada, visto que a forma mais objetiva e eficaz para combater a propagação do vírus é justamente a adoção de medidas que promovam o isolamento social. Nós nos preparamos para uma interrupção mais breve. Logo, naquele momento, o impacto psicológico na equipe foi muito focado em “contribuirmos com a coletividade, por um propósito maior”, no qual também estamos inseridos, para uma causa que é plenamente justificada para nossa paralisação. Mas, confesso que não imaginávamos que seria por tanto tempo e tão pouco para tantas consequências negativas.

Trata-se de uma crise sem precedentes no mundo e o Maranhão está sentindo bastante. Em sua opinião, os empresários maranhenses do setor de entretenimento conseguirão se reerguer rapidamente quando tudo isso passar ou ainda levará um tempo?

Realmente, não temos a real dimensão dos efeitos dessa crise para nosso setor. Milhares de postos de trabalho, formais ou informais, desapareceram. O sistema em nosso segmento entrou em colapso e nossa cadeia produtiva inteira está sem nenhuma alternativa de sustento. São mais de 70 ramos de atividade diretamente afetados. Muitos desapareceram e outros não suportarão mais do que dois meses. Uma realidade muito triste, que nos afeta tanto no campo econômico quanto no social, nos trazendo uma carga de impacto psicológico que exigirá maturidade e equilíbrio.

Como você avalia as ações dos artistas nesse período para ajudar aos que mais precisam?

Se há um setor no Brasil proativo no quesito empatia de forma efetiva é o setor de entretenimento. A partir da primeira live do Gusttavo Lima, todos os artistas do Brasil, sem exceção, de quaisquer segmentos musicais, do sertanejo ao forró, do samba ao axé, da MPB ao eletrônico, colocaram-se como vetores de diversão e solidariedade para fazer chegar as que precisam um alento para diminuir a fome e o desespero de famílias sem nenhuma perspectiva, promovendo, em outro lado da sociedade, menos impactada, alegria e contentamento e, ainda, estimulando ações solidárias. Nosso segmento sempre foi muito marginalizado. Mostramos, mais uma vez, que precisamos ser vistos de outra forma. É hora de, definitivamente, sermos vistos de forma diferente tanto pela sociedade quanto pelos entes públicos.


A 4Mãos fez alguma doação de alimentos/produtos neste período?

Não estamos passando por um período fácil, mas não nos furtamos a contribuir de alguma forma para diminuir a dor daqueles que mais sofrem. Já fizemos inúmeras ações solidárias. A primeira, voltada para nossos colaboradores e equipes operacionais do bar, que perderam 100% do seu sustento. Doamos, em parceria com nossos patrocinadores (Pernod Ricard e ShowSystem) 250 cestas básicas. Fizemos cinco ações de distribuição de mais de mil latas de leite em pó para o Instituto Amor Incondicional, Projeto Lar de Maria e Projeto Eu Faço o Bem, e contribuímos com a doação de 2,5 toneladas de alimentos (arroz, feijão, flocão de milho, latas de leite) na live da cantora Marília Mendonça, que faremos chegar à ONG Solidariedade e Paz, Instituto Sollis, Apae, Instituto Antônio Bruno e, também, a colaboradores do nosso segmento. Viabilizamos a doação de um caminhão de produtos de higiene e limpeza por parte do Grupo FC Oliveira para a Casa de Apoio ao idoso São Pio, em Codó, e, por fim, mais de 500 quilos de alimentos na live do artista Avine Vinny, que ainda não definimos o destino. Importante salientar que todas as doações são para beneficiar pessoas, comunidades e instituições, dentro da nossa cidade e no Maranhão.

Quais dicas você daria para os profissionais ligados ao setor do entretenimento para quando essa tempestade passar?

Tenham fé, esperança e paciência. Os que possuem alguma forma de renda alternativa, o que é a minoria, que aproveitem o tempo para se reciclar. Para todos os outros, que estejamos juntos, nos reinventando, orando para que a ciência nos coloque diante de uma solução, o mais breve possível, para que possamos voltar com segurança a divertir, emocionar e surpreender.

A empresa está prospectando eventos/projetos/novidades para depois da crise?

Nosso foco está em reprogramar eventos já lançados e adiados por força de decretos e, ainda, reposicionar os outros que já estavam marcados em nosso calendário até janeiro de 2021, para outras datas, mas ainda com uma insegurança e dificuldade muito grande, em virtude do quadro de incertezas.

Como ficou a nova data do “Bloquinho do Bell”?

Remarcado para 30 de maio. Porém, estamos observando os acontecimentos e os reflexos da crise em nosso país, atentos às orientações das autoridades quanto à possibilidade de realizar nessa data ou não. Caso não seja possível, assim como “O Encontro”, marcado para 2 de maio, já temos datas alternativas para o segundo semestre.

Que lição você tira de tudo isso?

Depois de tudo, seremos seres humanos melhores. Estamos tendo oportunidades de refletir sobre tudo: nossos valores, princípios e escolhas. Outro ponto que fica é que somos muito frágeis e muito iguais, sem distinção de raça, gênero, situação social, política ou religiosa, quando o inimigo é comum. Todos nós somos afetados de forma devastadora e indiscriminada. Isso talvez provoque uma nova relação de respeito e compreensão coletiva. Quem sabe, a partir de agora, ou quando tudo isso passar, nosso olhar ao outro seja mais humano, compreensivo e fraterno. Estamos aprendendo a dar valor a coisas simples que estavam esquecidas: abraços, olhares, apertos de mão, “bom dias”. Tenho fé que seremos menos robôs e mais pessoas, menos fotos e imagens e muito mais sentimento. Seremos mais disciplinados em nossas decisões, comprometidos com o que decidirmos fazer, como fazer e por que fazer. Me pego nessa esperança, para deixar esses tempos tão difíceis mais leves e fáceis de suportar.

Quais suas considerações finais?
Sempre disse que a maior virtude do ser humano é a humildade. Hoje, coloco a paciência, a empatia, a solidariedade, o equilíbrio e a maturidade nesse pacote. Que consigamos atravessar essa tempestade, que é diferente para cada um de nós, com afinco. Que não percamos a esperança, a fé e a união. Que consigamos ter disposição e saúde para enfrentar ainda um período de turbulência, mas que ao final compreendamos o sentido de tudo isso. Não é a primeira, nem será a última peste, praga ou pandemia da humanidade. Resistimos a problemas maiores, num período onde a Medicina e a ciência eram incipientes. Então, tenho uma certeza: sairemos mais fortes e melhores.

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