Opinião

Sarney, na curva dos noventa

Senador Roberto Rocha

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
José Sarney em sua biblioteca
José Sarney em sua biblioteca (José Sarney)

Não foram 90 anos quaisquer. Foi a mais impressionante carreira política do Brasil contemporâneo, atravessando com protagonismo as diferentes etapas da vida pública.

No Senado, ao longo de 36 anos, superaste no tempo até o nosso patrono, Rui Barbosa. Uma façanha que não está ao alcance do devaneio dos sonhadores.

De tal modo conduziste os meandros do complicado processo legislativo que te tornaste um guia político para todas as correntes da Casa. Especialmente na travessia das crises, tão frequentes em nossa História.

Tiveste bons e maus momentos, atravessaste tempestades e bonanças. Mas, acima de tudo, deixas o legado de quem sempre buscou o entendimento mais alto, o caminho mais seguro, feito da matéria diáfana da palavra e do diálogo entre os contrários.

Eu mesmo sou testemunha, pela trajetória do meu pai, de como as amizades políticas não são feitas apenas de fidelidades pessoais, mas sim de lealdades a ideias e projetos, visões de mundo convergentes.

Quando meu pai, um sertanejo vindo do interior, tornou-se líder estudantil e vereador na Capital, ele lhe deu apoio em sua caminhada a governador, que viria a ser a mais marcante experiência de gestão pública da história do Maranhão. Chega a ser difícil acreditar que em apenas quatro anos e com precariedades estruturais incontornáveis, você traçou o plano que iria marcar os rumos do Maranhão pelas décadas seguintes.

E o fez não por uma capacidade sobre-humana, mas pelo dom de juntar equipes e saber injetar os melhores e mais nobres sentimentos de realização e conquista num grupo de jovens entusiastas.

Meu pai viu o ânimo que cresceu e tomou conta das mentes mais brilhantes da época e que juntas deram ao Maranhão esperanças de tempos melhores.

Foste tu que viste na fibra daquele sertanejo o olhar de quem enxergava novos rumos que iriam se abrir a partir dos campos do Sul, para transformar o Maranhão tantos anos depois.

Não tiveste vida fácil quando o destino te colocou no mais alto posto da nação. Foste do céu da popularidade até o inferno do estigma. Daí veio tua maior lição, ao segurar com as unhas as ameaças que cercavam o projeto constitucional recém nascido, que desde então tem sido o promotório que garante a estabilidade de nossa democracia.

São noventa anos, mas não devemos contar a vida pela duração cronológica. Muito mais que noventa anos, parabenizamos aqui e honramos uma vida bem vivida, que deixou a marca de uma saga política reconhecida por todos.

Creio que falo em nome da memória de meu velho pai e de tantos que já não estão entre nós, para dar o testemunho às novas gerações de tudo o que conquistaste no percurso penoso e muitas vezes ingrato da política.

Sim, valeu a pena, porque tua alma nāo foi pequena.

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