Opinião

E o Maranhão se não tivesse Sarney ?

Magno Figueiredo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Aprendi em um seminário sobre técnicas de comunicação há 46 anos na ABI na rua Araújo Porto Alegre, tendo como palestrantes mestres como Armando Nogueira, Vilas Boas Corrêa, dentre outros nomes consagrados, que a titulação de manchetes ou mesmo de artigos nem sempre devem levar interrogação, daí alguém possa estar confuso com esta manchete sobre Sarney.

Pelé mostrou logo a sua insuperável categoria aos 17 anos, fazendo gol de placa e sagrando-se campeão mundial na Suécia. Michelangelo, Da Vinci, fluíram muito jovens a genialidade que transcende séculos.
Resguardando respeitosas proporções e características, Sarney aos 22 anos já era membro da Academia Maranhense de Letras. Aos 24 anos como primeiro suplente de deputado federal teve a oportunidade de dividir a tribuna do Congresso Nacional com Carlos Lacerda, Adauto Lucio Cardoso, Aliomar Balaeiro, Afonso Arinos de Melo Franco, Bilac Pinto, grandes tribunos e intelectuais.


Hoje o nosso Congresso é um misto de bons parlamentares e figuras abjetas e abomináveis, inclusive alguns do nosso estado.

Eleito em 58 e reeleito em 62, Sarney inicia um processo obstinado para chegar aos "Leões". Uma tarefa hercúlea em função da necessidade da montagem de um conjunto harmonioso de forças partidárias, num estado contaminado pela galopante fraude eleitoral envolvendo todos os poderes.
Para enfrentar o vitorinismo instalado e engrenado, há duas décadas, com o estado policialesco, corrupto, impregnado pela fraude, onde pai e filho eram eleitos para o mesmo mandato na Assembleia - não cito os nomes em respeito a memória dos mesmos - exigia-se da oposição uma ação deveras integrada e concatenada principalmente no combate à fraude eleitoral.

Mergulho no tempo, incursiono na minha juventude e vejo o quanto Sarney é singular.
Em 1963 fomos residir na Rua Grande, esquina com a Rua da Mangueira. Nesta rua a duas quadras despachava o doutor Millet, médico, jornalista, deputado federal, líder do PSP - Partido Social Progressista - comandante das oposições coligadas, grande amigo do meu pai.

Habitualmente acompanhava Chiquitinho nas reuniões e ali encontrava Nunes Freire, La Roque, Dr Dino, Cícero Neiva, com seus indefectíveis ternos de linho, sempre em confabulação política.
Rebusco 64 e 65 e vejo o destemido Sarney em busca de consolidar apoios a sua candidatura ao governo em 1965. Persistente e inarredável no seu objetivo sofria rejeição junto as lideranças do PSP que miravam lançar Neiva Moreira.

Com o advento da revolução o jovem deputado federal trabalhava com lideranças nacionais, principalmente da UDN- leia-se Magalhães Pinto - junto ao Presidente Castelo Branco, com vistas a cooptar líderes do estado no reforço a sua empreitada.

Millet e La Roque convocados por Castelo Branco, ratificaram a relutância ao nome de Sarney.
O meu pai Chiquitinho mantinha uma estreita relação pessoal e política com o deputado Clodomir Millet, em função de sua destacada atuação na Baixada contra o vitorinismo e com rigor não permitia a contaminação da fraude nos municípios que elegiam a sua liderança o que lustrava o seu conceito nas hostes do PSP.

Como prefeito nomeado e em seguida eleito de São Vicente Férrer e nesse período tendo recebido em São João Batista, ainda distrito de São Vicente, a visita de Ademar de Barros, Governador de São Paulo, candidato a Presidência da República e maior expressão do PSP. Para tanto construiu uma pista de 1.000 metros à base da socagem dos torrões nos campos bem ressequidos com uma frente de 100 homens. Imaginem o quanto significava prestígio receber naqueles tempos o maior líder politico de São Paulo num pequeno povoado do Maranhão.

Deputado estadual, persuasivo, coube-lhe um papel considerável para a reversão do apoio de Millet e seus liderados à indicação de José Sarney ao governo do estado. Fato que para muitos passa despercebido mas que agora cabe este ressalto.

A consumação dessa aliança foi um fator motivacional para uma campanha engajada em todos os sentidos.

O jovem Sarney surge com oratória eloquente, embalado pelo marketing da melhor qualidade e que daí por diante viraria arma poderosa em todas as grandes campanhas nacionais de forma muito mais profissional.
Contratou Miguel Gustavo - o mesmo autor do hino da Copa de 70 - para produzir o seu jingle central. Trouxe Luiz Vieira com uma entonação marcante para cantarolar o refrão:

"Meu voto é minha lei pra governador José Sarney" coadjuvado pelas cantoras do rádio, que através as ondas média, curta e tropical possantes da rádio Difusora - louve-se os irmãos Bacelar Raimundo e Magno - a campanha alcançou os mais longínquos rincões.

Lembro-me das Kombys padronizadas na cor azul anil, ornadas pelo cartaz em preto e branco e dotadas de potentes alto-falantes rasgando as ruas da ilha e invadindo o interior.

Com discursos bem elaborados, com frases de efeito, Sarney empolgava multidões por onde passava.
A carcomida política vitorinista naufragava sem socorros e ainda mais com a divisão do seu grupo por duas candidaturas ao governo.

Lá se vão mais de 5 décadas e os mais novos maranhenses não sabem reconhecer as profundas transformações do estado a partir da ascensão de Sarney - aqui nem cabe enumerá-las -. Ao contrário nutrem a desconsideração e preconceito, fruto quem sabe da desinformação ou ainda pelo doutrinanento de estudantes a partir das Universidades.

Esse aspecto se faz refletir em São Luís, há 35 anos, tendo como resultado a Prefeitura dominada por seus opositores, sem tréguas e sem grandes realizações mas escorados pela mensagem anti sarneysmo. Paradoxalmente obras bem marcantes em São Luís foram realizadas pelo grupo do Sarney por outras vias administrativas.

Mesmo àqueles que ardilosamente deturpam, distorcem a imagem de Sarney com vistas a galgar projeção regional e nacional, deveriam fazer uma reflexão até para evitar futuros e previsíveis tropeços.
Um maranhense retornar a Presidência por sufrágio de votos acho utópico mormente quando relativos pretendentes desconstroem de forma perversa a imagem do seu próprio estado, talvez por não mensurarem consequências e inconsequências no tabuleiro político mais apurado.

O exercício da Presidência da República no tempo da redemocratização do país com o advento da constituinte, mesmo sem contar erros e acertos leva Sarney a entrar em definitivo para história.
Sua atividade parlamentar longeva sem grandes interregnos, garante-lhe um lugar na galeria de grandes líderes do parlamento brasileiro de todos os tempos.

Com a experiência modesta de quase 50 anos de comunicação sugeriria que fosse produzida com esse líder, uma grande entrevista com som e imagem, elaborada por quem tenha a vivência política nos últimos 60 anos da política regional, nacional e internacional, para que fatos pitorescos, e inusitados sobre nomes da politica que conviveram com José Sarney ao longo de sua trajetória até hoje, além claro, da abordagem sobre a sua rica e farta obra literária de penetração e repercussão Internacional.
Quando completa 90 anos, lúcido, ativo, escrevendo cada vez melhor, não pode receber as devidas e merecidas homenagens, mesmo sem espavento, no seu estado e no Brasil em função dessa pandemia que assola a humanidade.

O doutor Sarney é o maranhense mais importante dos últimos 100 anos e merece, pois, todos os aplausos.
Parabéns pelos seus gloriosos 90 anos.

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