Reflexos da Covid-19

Sonhos frustrados pela pandemia que assola o mundo

Pessoas entrevistadas nos últimos dias por O Estado relatam remanejamentos pessoais causados por medidas necessárias de segurança devido a Covid-19

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Fotos  do pré-weeding de Ana Paula e Pablo, que seria neste fim de semana, mas foi adiado
Fotos do pré-weeding de Ana Paula e Pablo, que seria neste fim de semana, mas foi adiado (Ana Paula e Pablo)

Em tempo de pandemia que assola o mundo neste século XXI, o mais importante – apontam médicos e especialistas de saúde – é “ficar em casa”. As medidas de isolamento social são defendidas por peritos no assunto para evitar a disseminação mais célere do coronavírus e, desta forma, dar tempo e suporte para que as autoridades públicas preparem minimamente a estrutura pública de saúde.

O foco neste momento do mundo é contabilizar o mínimo de danos. Preservar grupos de risco e minimizar a velocidade de circulação do causador da Covid-19 é a principal meta da humanidade. Porém, O Estado nesta semana se dedica a contar histórias de pessoas que tiveram prioridades modificadas ou adiadas por causa das consequências das ações de incentivo à permanência dos cidadãos no ambiente domiciliar.

O fechamento de fronteiras e a promulgação de decretos governamentais que limitam drasticamente a sociabilização das pessoas em locais de relativa aglomeração em dias comuns frustraram viajantes e, em especial, mulheres que sonhavam em adentrar no salão ou na igreja com um belo vestido de noiva ao som da marcha nupcial.

O objetivo desta reportagem é mostrar que Covid-19 traz consequências no cotidiano e nos planos pessoais dos indivíduos. Atletas que sonhavam com a competição tão almejada foram obrigados a rever seus planejamentos físicos e logísticos, pensando no bem-estar comum de permanecer isolado, até que esta terrível pandemia passe.

Outra meta, é esclarecer de que forma o consumidor pode se precaver ou pedir seus direitos, já que no caso das viagens e dos casamentos, várias relações comerciais são geradas (com agências de turismo, empresas aéreas, empreendimentos organizadores de eventos sociais, dentre outros negócios).

De acordo com a legislação vigente, é possível sim renegociar devoluções dos valores já quitados ou concessões de linhas futuras de crédito para que, tanto o consumidor quanto a empresa não saiam perdendo e sigam juntos diante desta crise epidemiológica.

E aqui também não se trata de questionar a importância dada pelas pessoas aos seus eventos cancelados devido às medidas de isolamento. E sim, contar o quanto estes indivíduos pensaram e planejaram seus sonhos e suas ações e, por uma razão de força maior, precisaram rever tudo de forma súbita.

A jovem que se casaria neste fim de semana e viu tudo mudar
Era uma tarde de 12 de março quando a jovem fisioterapeuta Ana Paula Bogéa, acompanhada por seu noivo, Pablo Sales, se deslocou até a Praia Grande para a produção das fotos chamadas de “Save The Date”, ou uma espécie de pré-álbum do casamento. Planejado com todo o cuidado por mais de um ano, a noiva se casaria neste sábado (18) e era somente alegria.

Tudo mudou neste intervalo de pouco mais de um mês, com a disseminação mais maciça dos casos de coronavírus no Brasil e em outros países do mundo. A profissional – em acordo mais do que sensato com o seu noivo e familiares – precisou adiar o seu sonho (e o sonho de quase todas as mulheres, de adentrar trajando seu belo vestido de noiva).


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Para mudar tudo, a tecnologia foi fundamental. Os convites já entregues para convidados tiveram a data modificada via WhatsApp. “É um recurso facilitador, foi fundamental neste processo”, disse a fisioterapeuta a O Estado.
Inicialmente, a jovem mudou a data do casamento para o mês de junho. No entanto, diante ainda do quadro grave pandêmico no planeta, ela já pensa em novo prazo. “Pensamos neste primeiro prazo, mas como estou vendo que a situação não se resolverá agora, então vou mudar novamente para uma outra data”, afirmou.

A jovem entende a importância clara da modificação da data, no entanto, o sentimento de frustração é considerado “à parte”. E neste caso, para ela, compreensível. “Claro que a gente pensa no outro e lógico que era obrigatória nossa mudança de data. Mas frustra sim, até porque tudo fora planejado com muita antecedência e uma alteração em tudo assim, por uma questão de força maior, eu realmente não esperava”, afirmou.

Providências
Para equacionar a contratação da estrutura do casamento (que envolve vestuário, buffet e outros negócios), a fisioterapeuta recorreu à renegociação. Por enquanto, alguns serviços ainda dependem de alguns fatores para fechamento de questão. No entanto, para a jovem, é questão de tempo. “Parti para o caminho de renegociar com as empresas e também com os prestadores de serviços. Creio que seja a melhor solução, até porque, como foi por um motivo extraordinário, é melhor seguir por este caminho”, afirmou.

Dupla frustração
Além de ver o sonho do casamento temporariamente adiado, outro motivo de frustração foi a mudança definitiva com o noivo para a Europa. A jovem, que trabalhava no setor público da cidade de São Luís, seria moradora no continente.

Com o fechamento das fronteiras pela União Europeia, por tempo indeterminado, a profissional precisou rever o prazo. “Assim que nos casássemos, iriamos morar por lá. Era também um sonho antigo nosso e que decidimos rever. É possível que no ano que vem”, afirmou.

Números

150 bilhões de dólares é o valor movimentado pelo segmento de turismo e viagens no país sem crises ou cenário negativo
50% é o percentual máximo na queda de voos domésticos e internacionais pós Covid-19
200 mil estabelecimentos do gênero alimentício poderão fechar as portas
4,4% é a queda estimada do PIB nacional este ano
10% dos hotéis poderão decretar falência
84% foi a queda na receita do turismo em março, em relação ao mesmo período do ano passado

Fontes: Conselho Mundial de Viagens e Turismo e Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear)

ADIAMENTO

No caso das viagens aéreas, a preferência no mercado ludovicense, por enquanto, é pelo adiamento dos pacotes adquiridos. De acordo com empresários do setor, até o momento, o percentual de perdas ainda é insignificante já que, no caso das viagens internacionais, a renegociação gera mudança de data, tanto que com a agência especializada quanto com a companhia aérea.

Já para os pacotes nacionais, estimativas apontam perdas maiores, pois nestes casos os consumidores optam mais pelo cancelamento do serviço. “As pessoas seguem viajando no território nacional para questões pessoais menores. Com a diminuição clara no quantitativo de voos, as viagens que chamamos de rotina caíram. No entanto, como trabalhamos mais com viagens longas, com os chamados pacotes, poucas pessoas por enquanto decidiram cancelar tudo. No meu caso, ainda a preferência é pelo adiamento”, disse Jansen Santos, proprietário de uma agência de viagens no bairro São Francisco, em São Luís.

QUEDA

Apesar de certo otimismo no mercado local, dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo apontam que o mercado de viagens – normalmente responsável por gerar uma receita de aproximadamente 150 bilhões de dólares – calcula um impacto inicial de 30 a 50% no quantitativo de voos domésticos e internacionais. Percentual semelhante representaria o dano negativo causado pela Covid-19 na cadeia turística e relacionada ao segmento de viagens, como redes hoteleiras, serviços de transporte e guia, dentre outros.

Levantamento divulgado na semana passada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 deverá sofrer uma retração de 4,4%, sendo a maior registrada no país em mais de cinco décadas.

De acordo com a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, pelo menos 10% dos hotéis deverão em breve no país decretar falência em virtude da crise do coronavírus e da ausência de hóspedes. Segundo a Confederação Nacional do Turismo (CNTur), pelo menos 30% dos restaurantes e similares em toda a rede brasileira também poderão partir pelo mesmo caminho, apesar da adoção de medidas, como a entrega delivery de alimentos e outros benefícios.

No total, ainda de acordo com a CNTur, são mais de 200 mil estabelecimentos do gênero que, a curto e médio prazo, poderão fechar as portas, caso a crise não cesse nas próximas semanas. Somente em março deste ano, início dos impactos da crise pandêmica no país, foram R$ 11,9 bilhões em perdas de receita no turismo, uma queda brusca de 84% no índice, em relação ao mesmo período do ano passado.

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