Artigo

A boa quarentena literária maranhense

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

VIEIRA NO MARANHÃO, de Ronaldo Costa Fernandes

Neste romance de ficção histórica, Ronaldo se afasta dos temas habituais, em seus contos e romances, para construir uma homenagem à sua terra, o Maranhão – e que homenagem! Para tanto buscou um de nossos personagens mais ricos e emblemáticos, o padre Antonio Vieira.

Vieira, no romance, paira, por assim dizer, como um farol, iluminando a ocorrência dos fatos, mas sem participação no desenlace dos mesmos. Mantendo-o equidistante de sua criação imaginativa, Ronaldo edificou um significativo registro de uma época, da qual até os maranhenses mais letrados sabem pouco. Aos poucos, o leitor vai percebendo que, com suas palavras, o autor traçou um denso painel em que suas frases substituíram registros documentais, desenhos e mapas de uma fase embrionária da nossa formação como povo . É um romance cujo fascínio não está no mistério da trama, não linear e quase inexistente, mas na composição dos tipos: fortes, devassos, estúpidos e aventureiros, e na descrição dos eventos em torno dos mesmos, o que nos transporta para o passado como se estivéssemos – perdoem o clichê- viajando através do tempo.

Certamente fruto de árdua pesquisa, a abordagem literária a meio caminho entre crônica dos acontecimentos e romance , valoriza sobremaneira o resultado. Uma obra enriquecedora que deveria ser recomendada para leitura em nossas faculdades , especialmente para os formandos em Letras ou História.

ANÔNIMOS, de Lindevania Martins

Os contos de Lindevania Martins possuem o dom de aberturas poderosas, sugestivas e originais. Leva-se algum tempo para constatar isso porque, extasiados, somos motivados a continuar com progressivo interesse, já que o que vem pela frente não se desloca do mistério ou da inquietação prometida. Ao invés, nos conduzem a mais labirintos perfeitamente delineados, sem que se tope com bizarrias que, de algum tempo para cá, se tornaram um caminho fácil para escritores que, sem o mesmo talento, ficam emparedados, no espaço curto de um conto, descambando para a conclusão grotesca ou ineficaz.

Assim, em dilacerantes contos como a Língua ou Coisa sem nome, para citar apenas estes, Lindevânia Martins consolida a narrativa de seus contos em um todo monolítico, fazendo com que o start-up impactante perdure até o final, para deleite do leitor.

LITTERAE SEMPRE, De Alexandre Lago

Este segundo livro de Alexandre Lago sobre a mesma temática , pode ser considerado , dada a linguagem accessível e dinâmica, tanto como livro de iniciação à boa literatura , como de aprimoramento, para os mais versados .

Mesmo aquele que já tenha viajado literariamente por “ mares nunca antes navegados” há de encontrar aqui o tesouro da ilha que julgava perdida , e dotará sua navegação ( a leitura é uma viagem ) com um fértil manancial de obras sutilmente postas à disposição do leitor através de uma arquitetura de compartilhamento em que o autor concede, além do resumo da obra, sua abalizada opinião.

Mais um utilíssimo livro que deveria enriquecer o acervo de nossas escolas. Desta feita para estudantes do segundo e terceiro grau.

ewerton.neto@hotmail.com


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