Tradição

Criatividade: malhação de Judas na onda de Covid-19

Tradição de confeccionar um boneco de Judas no Sábado de Aleluia foi mantido e não faltou brincadeiras para criticar a pandemia do coronavírus no mundo

Ismael Araújo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Na cabeceira da Ponte do São Francisco, três Judas foram colocados e moradores fizeram a festa
Na cabeceira da Ponte do São Francisco, três Judas foram colocados e moradores fizeram a festa (judas)

No Sábado de Aleluia, acontece a vigília da Igreja Católica, que antecede o retorno de Jesus Cristo, que ressuscita no Domingo de Páscoa. Mas, também é o dia de malhar o Judas. Uma tradição vigente em várias comunidades católicas, introduzida na América Latina pelos portugueses e espanhóis. E na Grande Ilha não é diferente. Neste ano, além de expor de forma pública o boneco Judas, as pessoas ainda aproveitaram para fazer referência à pandemia de Covid-19, o coronavírus, que está fazendo milhares de vítimas no mundo todo.

Quem passou na tarde de sábado, 11, pela Avenida Beira-Mar, no Centro, encontrou quatro Judas, na cabeceira da ponte José Sarney (ponte do São Francisco), e ainda três homens pedindo dinheiro, principalmente, para as pessoas que paravam o veículo no sinal de trânsito. O mecânico Antônio Carlos Araújo, de 52 anos, disse que há 30 anos confecciona o boneco, no Sábado de Aleluia, sendo expostos naquele local, sempre tratando sobre uma determinada temática em evidência.

Ele ainda frisou que, no ano passado, o Judas representava os políticos do Congresso e do Senado Federal, mas, neste ano, resolveu fazer uma crítica sobre Covid-19 e, para isso, fez quatro bonecos. Um deles está representando o presidente da República, Jair Bolsonaro.

O boneco, que representa o presidente, estava de terno e calça pretos, sapato branco, faixa presidencial, sem máscara, e uma maleta preta. “Como o presidente se diz atleta, então, não contrai o vírus e muito menos precisa de máscara para ficar no local onde a doença prolifera”, explicou Antônio Carlos de Araújo.

Ele ainda contou que os dois bonecos, que estão deitados e enrolados em um saco de plástico preto, representavam os chineses mortos. O quarto boneco, que estava fardado, era o segurança do presidente. “Esse Judas fardado está de pé, ou seja, de prontidão e sem máscara”, frisou.

Ainda havia um outro Judas, na esquina entre a Avenida Luiz Rocha e a Rua Mata Roma, no Monte Castelo. O boneco estava sentado em uma cadeira, de máscara, havia uma televisão, o álcool em gel e uma placa com a mensagem para ficar em casa. “Aproveitamos a tradição para alertar os nossos vizinhos para ficarem em casa durante este momento de pandemia”, disse a moradora Ana Karla Moreira, de 34 anos.

Na Via Expressa, ainda durante a manhã de ontem, 12, era possível olhar dois Judas pendurados em um poste. Um deles estava vestido como cobrador de coletivo, enquanto, o outro de camisa manga comprida e máscara .

Largo do Caroçudo
No Largo do Caroçudo, na Madre Deus, conhecido como um dos bairros mais festeiros da cidade, havia dois bonecos. Um deles de camisa xadrez, calça jeans, sapato tênis e sentado com as pernas encruzadas, denominado de “Estiloso”.
Rodrigo Ribeiro, de 41 anos, contou que todos os anos confecciona Judas e, neste ano, o boneco foi chamado de estiloso, enquanto, no ano passado, trouxe o feminicídio como tema. “O Estiloso está sentando no meio público e sem usar máscara, porque, sabe que vai morrer. Sua pena é a morte”, afirmou o morador.

O outro boneco do Largo do Caroçudo estava com uma placa de papelão com os dizeres “Não me toque”. O morador Sílvio Martins, de 45 anos, disse que o boneco foi feito pelos moradores e, no final do dia de sábado, seria malhado. “É uma tradição a comunidade fazer o Judas e as crianças se divertem no momento da malhação”, contou.

SAIBA MAIS

A malhação ou queima de Judas é uma tradição vigente em diversas comunidades católicas e ortodoxas sempre no Sábado de Aleluia, simbolizando a morte de Judas Iscariotes, que foi um dos 12 apóstolos e traiu Jesus Cristo por 30 moedas de prata para os romanos. Essa tradição consiste em surrar um boneco do tamanho de um homem, forrado de serragem, trapos ou jornal, pelas ruas de um bairro e atear fogo a ele, normalmente ao meio-dia ou no final da tarde.

Judas na onda do Covid-19

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