Artigo

Recluso, mas não isolado

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante e recluso

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Nunca tive problema com idade, sempre convivi bem com a passagem do tempo. Entrei para o grupo dos idosos, acima dos sessenta anos, relativamente bem, com as coisas funcionando satisfatoriamente. Brinco que ainda não sou idoso, mas semi-novo.

Hábito normal e corriqueiro, pego as chaves do carro, me dirijo à porta de saída, e sou abordado pelo meu segundo filho, Frederico, “Aonde você vai?”, ao supermercado, respondi. “Não vai, não, idosos são os mais vulneráveis nessa confusão toda de coronavírus, deixa que eu vou “. Espantado, entrego as chaves e finalmente a ficha cai, tenho que ficar em reclusão total, e o pior, estou no grupo de maior risco. Sou idoso, além de hipertenso, presa fácil para o Covid-19. Perder o controle da própria vida e dos passos, é coisa que ai nda n&at ilde;o estou preparado, mas não tenho mais idade para ficar brigando com a realidade.

Aos poucos, dia após dia, a vida vai mudando seu ritmo. A volúpia não é mais a mesma.

Em uma mistura de resignação e obediência as pessoas ainda perplexas, vão dando o braço a torcer, entendendo que o inimigo invisível é o pior de todos, além de estar por toda parte, ele tem a petulância de se aproximar daqueles que mais amamos, isso me ofende, choca, e me deixa precavido com quem nunca tive; chega a ser uma traição. Nós brasileiros, sempre calorosos, não sabemos lidar com isso.

Beijar filhos e netos com distanciamento, deixar de abraçar a mulher ao chegar em casa, cumprimentar amigos com cotovelos, é algo impensável até dias atrás. Ainda mais pra mim, que gosto de abraços afetuosos, já participei de campanhas Free Hugs(abraços grátis), e recebi abraços em Sidnei, Londres e Hong Kong.

Meus dogs: Fiona, Duke e Brucinho, que são imunes a tudo isso, tornam-se meu bálsamo.

Ficar isolado, é a necessidade do momento, para se salvar e salvar o mundo. Pela primeira vez na história, você e eu podemos salvar a humanidade, sentados em casa. Hora para adotar o modo de vida dos felinos: caseiros, dorminhocos, e vivem se higienizando.

A tudo isso junta-se às falsas notícias, o desabastecimento nos supermercados, o abuso dos preços, a violência urbana, a falta de solidariedade, o querer levar vantagem em tudo, o aumento do desemprego, a quebradeira geral, a falta de saneamento, a má distruibuição de renda, onde poucos têm muito, e muitos têm pouco. E para piorar, temos um presidente da república animador de torcida, despreparado para o cargo, que se apequenou diante da crise. Um sujeito que deseduca o povo com seu mau exemplo, contrariando seu excelente ministro da Saúde e equipe.

Mas como tudo tem os dois lados, o positivo é que com a desaceleração da economia, com a diminuição de circulação de pessoas na região de Wuhan, na China, onde tudo começou, a poluição do ar diminuiu drasticamente, e em Veneza, na Itália, com a diminuição do fluxo de turista na cidade, os canais estão mais limpos, transparentes, e já se vê peixinhos.

A pandemia do Coronavírus evidenciou nossas deficiências, o mundo está carente de líderes, os chamados estadistas, alguém que tenha a firmeza em nos conduzir em meio à tormenta.

Nenhum país do mundo está preparado para combater o vírus, e nem estrutura para lidar com tantos enfermos.

Itália e Espanha, países ricos, estão mostrando ao mundo suas fragilidades diante da pandemia.

Ficar em casa, seja por necessidade, é a oportunidade de um convívio mais próximo com cônjuges e filhos. A tecnologia que temos às mãos facilita nossa comunicação com o mundo, acompanharmos em tempo real o que está acontecendo nos quatro cantos do mundo.

Temos nas mãos a verdadeira escolha de Sofia:

—Isolar-se ou infectar-se? Isolar-se é desapegar-se: de si, para pensar nos outros; das agendas programadas, para descobrir o ócio criativo; e de hábitos crônicos, para se reinventar!

Franklin D. Roosevelt(1882-1945), assumiu a presidência dos EUA, em meio a uma crise sem precedente, disse no seu discurso de posse uma frase que marcou a época: “A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo”.

Não sei como sairemos dessa, se melhor ou pior, mas com certeza, diferentes. Após a pandemia, oxalá um mundo menos desigual, mais humano, menos acelerado.

Que possamos, depois de tudo, nos enxergar melhor.....

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