Pandemia

Agentes de saúde e limpeza: o ''sacrifício'' de trabalhadores pela população de São Luís

Categorias fundamentais precisam diminuir os contatos com pessoas próximas, mediante recomendação, para evitar riscos de contaminação; profissionais são fundamentais

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Além da qualificação profissional, todo membro do sistema de saúde é ciente de que a função exige responsabilidades e, principalmente, sacrifícios. A distância dos familiares, pelo longo tempo em que passam nos locais de trabalho e, principalmente, pela exposição excessiva à vírus e outras enfermidades os obrigam a manter distância dos familiares.

A categoria da saúde não é a única a recorrer a sacrifícios e distanciamento sociais. Os agentes de limpeza, que muitas vezes são personagens a passar despercebidos pelo cotidiano das grandes cidades, são profissionais imprescindíveis no período de sacrifício e isolamento social. São eles quem garantem a higienização e limpeza dos locais públicos e estão mantendo a rotina normal, por se enquadrarem nos chamados “serviços considerados essenciais”.

Profissionais de saúde e agentes de limpeza merecem todas as homenagens possíveis da população. Na quarta-feira, 1º,), funcionários do serviço responsável pela limpeza na cidade foram recebidos com pompa na 4ª Travessa Dagmar Desterro, no Bairro de Fátima. Moradores aguardaram os profissionais com balões brancos, aplausos e ofereceram um café da manhã a eles.

O assunto viralizou nas redes sociais e foi considerado um sinal claro do reconhecimento da população a quem merece todas as reverências. Mas antes disso, é importante entender o que se passa em suas vidas.

Família em casa e população à frente
Se já são considerados importantes em fases rotineiras da vida, em tempo de pandemia, os profissionais de saúde e agentes de limpeza são mais necessários. Somente será possível derrotar o inimigo tão feroz, com as políticas de restrição social e, principalmente, com a ação imediata e eficaz destas categorias.

Para além de entender suas funções no cenário complexo do sistema de atendimento e prestação de serviços à população em geral, O Estado também se debruçou acerca das rotinas destes profissionais. Seus atos diários e, principalmente, suas angústias são externadas para o entendimento do que é necessário, em termos de sacrifício, para estar no exercício da função.

A técnica de enfermagem Elizabeth Mendes é um grande exemplo de zelo pela função. Com 46 anos de idade e a metade da vida dedicada à função na saúde, a profissional chega cedo todos os dias no local em que está lotada, o Centro de Saúde do Bairro de Fátima. Moradora da Cidade Operária, a funcionária acorda cedo e, se despede de maneira amável dos familiares antes de sair. “Em tempos assim, é importante aproveitar todo o tempo necessário quando se está com quem se ama. A minha função é atender a população e, enquanto estamos aqui, temos de estar de corpo e alma”, afirmou.

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Ela conta que, devido à rotina, aumentou o tempo de permanência no local de trabalho. Além disso, evita contatos mais diretos com familiares. “Quando chego em casa, vou me assear rapidamente. Mesmo depois de um banho completo, evito entrar em contato mais direto com as pessoas que convivem comigo. Tudo para colocá-los em segurança, já que estou no grupo de risco. É um sacrifício a mais em prol da saúde”, afirmou.

A profissional, durante o exercício da função no CS Fátima, toma todas as precauções devidas. Além de máscaras e álcool em gel, a técnica de enfermagem evita usar repetidamente o jaleco e calça jeans. “É uma forma de evitar a concentração e propagação do vírus, não somente comigo, mas com meus familiares”, afirmou.

Os “guerreiros” dos Socorrões I e II
Profissionais dos hospitais Djalma Marques (Socorrão I) e Clementino Moura (Socorrão II), também estão na “linha de frente” dos atendimentos na rede pública municipal. Apesar de não estar incluída na estrutura de recebimento de pacientes considerados graves da doença (que deverão ser encaminhados, de acordo com fluxo de atendimento da Semus, ao Hospital da Mulher), a unidade recebe diariamente um quantitativo considerável de pessoas suspeitas da doença.

Questionada, a Semus não detalhou o número de pacientes com este perfil na unidade. Além das preocupações com o controle de possíveis casos da Covid-19, profissionais ouvidos por O Estado, destas unidades, relatam o cuidado com outras infecções menos graves, porém nocivas ao organismo e causadas por fungos e vírus.

A coordenadora do setor de Enfermagem do Socorrão I, Sílvia Helena Cardoso, disse que os cuidados com outras enfermidades são obrigatórios, em especial, para quem trabalha na rede pública de saúde. “É necessário sempre rever a nossa prática diária, desde o acolhimento do paciente, ao encaminhamento ao setor específico, inclusão de diagnóstico e aplicação do tratamento. São nestas fases que possíveis enfermidades externas e internas podem circular. Independentemente de circulação do coronavírus, estes cuidados são sempre redobrados para quem está na saúde pública, em especial”, afirmou.

Sobre os sacrifícios feitos por ela, como profissional, o distanciamento dos familiares é imprescindível. Ela conta que, neste caso, toda medida preventiva para evitar o contato mais direto é fundamental. “São medidas preconizadas com as autoridades públicas de saúde e necessárias. No meu caso, por exemplo, tomo cuidados com familiares para evitar o contato mais direto, para não levar possíveis enfermidades a eles”, afirmou.

Outros profissionais também relatam a rotina diária da unidade, tendo que lidar algumas vezes com ausência de materiais e excesso de pacientes. Para isso, toda a ajuda aos heróis e heroínas é bem-vinda.

Amparo psicológico aos profissionais de saúde
Mesmo heróis, os profissionais de saúde também carregam suas angústias e precisam de um suporte. Pensando nisso, a administração municipal passou a ofertar, desde segunda-feira (30 de março) um serviço gratuito de assistência psicológica a quem estiver na assistência diária de possíveis casos da Covid-19 e aos servidores que estão afastados, por medida preventiva.

O atendimento, organizado pelo Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) é feito, por orientação sanitária à distância, sendo disponibilizado o telefone (98) 98298-0797. “Nosso trabalho é constituído por duas frentes. Uma é priorizar a proteção imunológica do servidor, estimulando medidas de limpeza, higiene e proporcionando a ele toda a estrutura necessária. Em seguida, parte-se para o suporte psicológico”, disse a O Estado o secretário de Saúde de São Luís, Lula Fylho.

A linha – que não recebe mensagens via WhatsApp – é exclusiva para o serviço e está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h. Durante o atendimento, o profissional designado pela Semus ouvirá o paciente acerca das possíveis aflições psicológicas e danos causados pelo estresse, gerados pela carga de trabalho.

Outro serviço disponibilizado ao servidor público da saúde é a avaliação médica do servidor do grupo de risco (gestantes, idosos acima de 60 anos de outros perfis) que necessite de afastamento excepcional por exposição direta com pacientes suspeitos ou confirmados com a Covid-19. A avaliação também se estende ao servidor que necessitar de atestados em caso de síndrome respiratória. Ou ainda para o profissional de saúde que desejar a homologação de atestados.

De despercebidos a essenciais: os fundamentais profissionais da limpeza
Para o controle sanitário do coronavírus, além de investir em equipamentos de proteção e propagar medidas de propagação de higiene, a administração pública também deve investir na inclusão de equipes de saúde e, principalmente, de limpeza. Em São Luís, os agentes são fundamentais para este trabalho.

Dados da Prefeitura de São Luís mostram que atualmente a cidade conta com 1,3 mil agentes em seu quadro de funcionários. Divididos por setores e com base nas necessidades da população, abandonando filhos, maridos e mulheres, os agentes que não foram afastados fazem seu trabalho diário e silencioso com afinco e perseverança.

Apesar do desserviço e falta de educação de usuários, os agentes não desanimam. Alguns ainda desconhecem os efeitos e peculiaridades do coronavírus. Mas estão cientes do mais importante: com limpeza e bons modos de higiene, é possível espantar esta e outras enfermidades e eventuais malefícios ao organismo.

No Centro, um dos locais que ainda registra concentração razoável de comerciantes que revisam seus produtos e outros profissionais, como taxistas e outras categorias, equipes se concentram e, após receberem as orientações dos superiores, saem para mais um dia de trabalho.

Cada agente de limpeza recebeu, do poder público, um frasco de álcool em gel para a montagem da barreira imunológica e evitar os riscos de infecções. Antes mesmo da passagem do produto, profissionais dão o bom exemplo e passam água e sabão nas mãos. Para especialistas, a “dupla” é ainda mais eficaz do que o álcool via gel.

Ordem recebida e limpeza prévia feita, chega o momento da saída. Cada rua e avenida é limpa como se fosse a residência de cada agente. Para João Diniz, de 25 anos, profissional do serviço de limpeza há um ano e meio, a função é de suma importância. Questionado sobre a Covid-19 e a importância da higienização das vias públicas, o funcionário é sucinto. “Rapaz, só sei que se eu fizer a minha parte, a gente se livra disso mais cedo”, afirmou.

ABRINDO O JOGO

[e-s001]“No momento de crise, todos os profissionais são importantes”

A O Estado, o prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior ressaltou a importância de todos os profissionais das áreas da saúde, limpeza e outros serviços para que a capital maranhense supere esta pandemia. Para isso, além de amparos sociais, medidas de prevenção foram necessárias para garantir a segurança daqueles cujos serviços são essenciais.

Qual a importância do agente de limpeza e de outras funções para este quadro de pandemia na cidade?
A limpeza urbana, assim como os serviços de saúde, trânsito e transportes, segurança entre outros, é um serviço essencial à população e não pode parar, mesmo neste período de pandemia, pois garantem o funcionamento e organização da cidade, e o atendimento às necessidades da população. Neste momento de crise sanitária mundial causada pelo novo coronavírus, estes profissionais ganham ainda um papel ainda mais estratégico e fundamental, contribuindo para o controle da proliferação da doença.

Quais os cuidados repassados aos agentes de limpeza no manuseio dos resíduos sólidos e no contato do dia a dia entre eles para evitar infecções?
A Prefeitura de São Luís tem fornecido álcool em gel a 70% e disponibilizou água e sabão para que eles possam manter as mãos sempre higienizadas. Os equipamentos bem como os veículos utilizados para o transporte destes profissionais diariamente também são higienizados para diminuir o risco de contaminação.

E em relação ao serviço de limpeza, que medidas foram tomadas para garantir a segurança dos cidadãos em geral?
No caso da limpeza, estão sendo fortalecidas todas as ações desde a coleta domiciliar até o trabalho de higienização dos pontos de aglomeração de pessoas para manter a cidade limpa, protegendo nossa população, inclusive, de outras doenças.

Houve redução do número de agentes de limpeza em virtude da Covid-19?
Sim, os agentes de limpeza urbana que fazem parte do grupo de risco para a Covid-19, como idosos e pessoas com comorbidades, foram afastados de suas funções, conforme orientam as autoridades médicas e determina o Decreto Municipal Nº 54.890, editado por mim, com reforço das medidas para prevenção ao novo coronavírus. O número de agentes afastados não compromete a execução dos serviços de limpeza urbana.

Por fim, qual a mensagem que o senhor deseja passar para os trabalhadores dos serviços essenciais?
A minha mensagem aos agentes de limpeza urbana, assim como a todos os profissionais que exercem atividades essenciais é de agradecimento. Os agentes de limpeza urbana, os agentes de trânsito, guardas municipais, os profissionais da nossa rede de saúde entre tantos outros, são pais de famílias, filhos, homens e mulheres que se colocam na frente desta batalha todos os dias, somando esforço com seu trabalho diário, para que possamos vencer esta crise.

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