Coronavírus

Pessoas em situação de rua se recusam a receber assistência em abrigo

No Mercado Central, há vários grupos espalhados, cada um com 3 a 4 pessoas em situação de rua; aglomeração favorece o contágio pelo coronavírus; Prefeitura recebe este público em Centro de Acolhimento Temporário, no Estádio Castelão

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Pessoas em situação de rua preparam seu alimento; muitos não querem ir para abrigo
Pessoas em situação de rua preparam seu alimento; muitos não querem ir para abrigo (moradores de rua)

O novo coronavírus causou 58 mortes no Brasil, nas últimas 24 horas, segundo novo boletim do Ministério da Saúde (MS), até o fechamento desta edição. A pandemia continua avançando de forma avassaladora no país. Um grupo vulnerável à doença, devido às condições de sobrevivência, é o de quem está em situação de rua. Em São Luís, essas pessoas estão sendo acolhidas no Estádio Castelão. Porém, muitas estão resistindo, como verificou O Estado nos bairros da capital maranhense, especialmente, no Mercado Central.

Nas avenidas e outras vias de São Luís, muitas pessoas em situação de rua foram encontradas facilmente, expostas. Na calçada do Banco do Brasil (BB), no Complexo da Deodoro, região central da cidade, por exemplo, uma dessas, que se apresentou como Fernando Lucas, de 56 anos, foi abordado quando estava sentado em cima de uma caixa de papelão úmida. Fumando cigarro, ele falou com dificuldade, pois estava tossindo bastante.

Indagado sobre o porquê continuava ali, ele argumentou que “morava” na rua há 16 anos, sempre naquele trecho da Praça Deodoro. Para Fernando Lucas, não é vantagem receber a assistência do Estado porque é mais confortável ficar naquela condição, exposto ao sol e à chuva, além de vulnerável ao coronavírus e outras doenças, como dengue, por exemplo. “Eu fico aqui na minha. Se estou tossindo, é uma ‘gripezinha’. Já já eu vou me curar. Eu não me preocupo com isso. Sobrevivi esse tempo todo na rua, não vai ser agora que sofrerei”, alegou.

Fernando Lucas informou que, quando não está deitado em frente ao banco, fica rodando pelas ruas da região, em busca de comida e um pouco de água. No Mercado Central, há vários grupos de pessoas em situação de rua. Um desses foi flagrado fazendo churrasco ao ar livre. A fumaça quase os tornava imperceptíveis. De acordo com João Lino, 39, nas ruas eles conseguem, apesar das dificuldades, o que querem, incluindo alimentação e roupas, principalmente, que são doadas por quem sente compaixão.

“Nós não somos obrigados a sair daqui, até onde sei. Então, vamos superar isso, com a graça de Deus. Eu ainda acredito em Deus. Eu vejo solução”, declarou ele. Também no Mercado Central, outro grupo estava perto do antigo prédio do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge). Lá, quatro pessoas da população de rua estavam reunidas em uma calçada. Uma delas cortava pedaços de carne, que seria utilizado para o almoço dos companheiros.

Essas pessoas disseram a O Estado que estão recebendo auxílio de um delegado de Polícia Civil, que sempre leva pão e suco ao grupo. Mário Almeida, de 47 anos, que está nas ruas há 2 anos, frisou que sobrevive de ajuda. “Eu ando aqui e ali, mas sempre encontro um ‘filho de Deus’ que me dá uma comida. Às vezes, comerciantes nos ajudam. Mas tem dia que a gente não consegue”, comentou.

Abrigo no Castelão
Em nota, a Prefeitura de São Luís informou que foi criado um Centro de Acolhimento Temporário, que está instalado no Estádio Castelão, para abrigar pessoas em situação de rua. Foi salientado que todos os que chegam ao local passam por exames clínicos preliminares, como aferição da pressão arterial, além de entrevistas de saúde para coleta de dados sintomáticos e também acerca de histórico de doenças anteriores.

“São feitas avaliações individuais para identificar sintomas, como tosse, dor na garganta, coriza e falta de ar. As pessoas em situação de rua que testarem positivo para a Covid-19 são transferidas para as unidades provisórias de acolhimento que comportem o isolamento”, destacou a Prefeitura. Além disso, passada a avaliação clínica e triagem assistencial nos locais de acolhimento, os moradores de rua recebem kits de higiene pessoal e podem tomar banho, receber refeições e cuidados de equipes de profissionais na área psicossocial e psiquiátrica.

A Prefeitura disse, ainda, que as equipes realizam o trabalho de abordagem constantemente, quando os profissionais da assistência social e da saúde explicam a importância do acolhimento e transferência para o local seguro. “Ressaltando que o acolhimento não é compulsório. Para melhorar o serviço, neste tempo de pandemia, foi criado o call center para atendimento de demandas dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Essas ações fazem parte integrante do plano de contingenciamento implementado pelo Município, que visa à proteção e prevenção de infecções respiratórias como a gripe Influenza/H1N1 e novo coronavírus”, pontuou.

Ainda segundo a Prefeitura de São Luís, outra medita adotada foi a organização da Casa de Apoio, no Centro de Convivência da Vila Luizão, para casos de isolamento social por suspeita de contaminação ou confirmação do coronavírus entre a população de rua.

SAIBA MAIS

Distribuição de kits

No último dia 25 de março, a Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas), Delegacia de Costumes e Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD Estadual) distribuíram kits de higiene a pessoas em situação de rua, na região central da capital maranhense. As equipes entregaram aproximadamente 200 produtos, incluindo máscaras descartáveis, álcool em gel e sabonete líquido. Os grupos também receberam material informativo sobre como evitar a infecção pela Covid-19, cujos sintomas são febre, tosse seca e dificuldade para respirar. A ação se caracterizou como um desmembramento da “Operação Resgate”, que é uma mobilização em benefício das comunidades. “Devido ao uso de drogas, por estarem nas ruas e também pela imunidade reduzida, essas pessoas acabam sendo as mais expostas ao vírus. Além disso, aconselhamos a deixar as ruas, pois o Covid-19 tem contaminação rápida e por eles viverem em grupos, facilitaria a proliferação da doença”, disse o delegado Joviano Furtado, titular do 1º Distrito Policial (DP).

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