Barbárie

Mais um líder indígena é vítima de assassinato no interior do Maranhão

Último caso ocorreu na terça-feira, 31, na cidade de Arame e a vítima desta vez foi Zezico Guajajara; um total de 14 índios foram mortos, no interior do Maranhão, de janeiro de 2016 até o mês de março deste ano

Ismael Araújo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Zezico Rodrigues Guajajara foi assassinado no interior do Maranhão
Zezico Rodrigues Guajajara foi assassinado no interior do Maranhão (INDIGENA ASSASSINADO )

SÃO LUÍS - Mais um chefe indígena foi assassinado no Maranhão. A vítima desta vez foi o diretor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru e líder indígena da Terra Araribóia, Zezico Rodrigues Guajajara. Segundo a polícia, o corpo do indígena foi encontrado com marcas de tiros no começo da tarde desta terça-feira, 31, na estrada da Matinha, nas proximidades da aldeia Zutiua, na cidade de Arame. Desde janeiro de 2016 até o mês de março deste ano, um total de 14 índios foram mortos em decorrência do conflito com madeireiros no estado.

O Superintendente da Polícia Civil do Interior (SPCI), delegado Guilherme Campelo, informou que o corpo foi encontrado por populares e havia marcas de tiros. Ainda ontem, havia sido encaminhados para o local do crime o delegado regional de Barra do Corda, Márcio Coutinho, e os peritos do Instituto de Criminalística de Imperatriz.

Ainda segundo o delegado, o corpo do indígena deve ser levado para o Instituto Médico Legal de Imperatriz para ser autopsiado e, logo após, liberado para os familiares. O resultado dos exames periciais serão encaminhados para a Polícia Civil e as testemunhas devem ser ouvidas na delegacia durante esta semana. “As investigações já começaram e estamos tentando identificar os acusados”, disse o delegado.

O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, declarou em entrevista à Rádio Mirante AM que as equipes da secretaria já estão na cidade de Arame para fazer os levantamentos do crime. “As nossas equipes já foram enviadas para o local onde ocorreu o crime”, afirmou Portela.
O secretário de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão, Francisco Gonçalves, informou, por meio de nota, que já acionou, através da Secretaria de Segurança Pública, a Força Tarefa de Proteção a Vida Indigena, a FT-Vida, para acompanhar o caso.

Ele ainda disse que o assassinato do indígena pode está ligado há duas hipóteses. Uma delas é de que a liderança teria sido vítima de madeireiros, pois existe a informação que ele vinha sendo ameaçado por madeireiros e vinha evitando andar sozinho pela região. A outra hipótese é de que ele tenha sido vítima de conflitos internos.

Massacre

A Ordem dos Advogados do Brasil da Seccional do Maranhão (OAB-MA) afirmou ontem, por meio de nota, que está em curso um verdadeiro massacre de índios no Maranhão. Os povos indígenas, em especial os Guajajara, estão sendo vítimas de assassinatos sucessivos no Estado. Tais crimes não podem mais ser vistos como casos isolados. Há uma guerra produzindo uma rede de violência que precisa ser enfrentada, desvendada e punida com rigor pelos sistemas de segurança pública em conjunto.

Ainda segundo a nota, a Polícia Federal, ao lado da Secretaria do Estado de Segurança Pública, precisa agir de forma exemplar. Não é mais possível que as investigações não observem as peculiaridades das ameaças históricas e as invasões aos territórios indígenas como um cenário em que tais situações ocorrem. Caso não haja mudança de padrão no combate à criminalidade que envolve os povos indígenas no MA, o Estado Brasileiro estará omisso diante de suas responsabilidades constitucionais de proteção e diante da comunidade internacional.

Guardião da floresta

No dia primeiro de novembro do ano passado ocorreu o assassinato do líder indígena e guardião da floresta, Paulo Paulino Guajajara, o Lobo Mau; e do madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira, como também a tentativa de homicídio sofrida por Laércio Sousa Silva, o Laércio Guajajara. O ato bárbaro ocorreu na terra indígena Araribóia, entre as cidades de Amarante do Maranhão e Bom Jesus das Selvas.

No estado do Maranhão há, pelo menos, 20 índios de diferentes etnias, que vivem, sob a proteção do Estado, por motivos de segurança. Inclusive, Paulo Paulino estava inserido no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Os Guardiões da Floresta atuam em várias localidades do Maranhão, principalmente, na terra Araribóia, onde vivem cerca de 12 mil índios. Eles possuem a missão de identificar e vigiar as trilhas abertas pelos madeireiros ilegais como também atuam no combate às queimadas.

Saiba mais

Assalto

Ontem, um assaltante foi morto e o seu cúmplice de crime ficou baleado. A polícia informou que eles foram assaltar uma van, em Bacabeira, e um policial, que estava no veículo reagiu ao assalto. Dois bandidos conseguiram fugir e a Polícia Civil vai investigar o caso.

Fique sabendo

Assassinatos de indígenas ocorridos de janeiro de 2016 até o mês de março deste ano no estado

José Dias de Oliveira Lopes: morto com sinais de estrangulamento, no ano de 2016, na terra indígena Bacurizinho, em Grajaú

Hugo Pompeu Guajajara: corpo encontrado com sinais de mutilações, no ano de 2016, na terra indígena Cana Brava, em Barra do Corda

Aponuyre Guajajara: morto a tiros, no ano de 2016, na terra Araribóia, na cidade de Amarante

Genésio Guajajara: assassinato a tiros e pauladas, no ano de 2016, terra Araribóia, em Amarante

Isaías Guajajara: assassinado a golpes de faca, no ano de 2016, terra Araribóia, em Amarante

Assis Guajajara: morto a pauladas, no ano de 2016, terra Araribóia, em Amarante

José Queirpos Guajajara: corpo apresentava queimaduras, no ano de 2016, terra de Bacurizinho, em Grajaú

Divino Guajajara: assassinado a golpes de faca, no ano de 2016, terra de Bacurizinho, em Grajaú

Lopes de Sousa Guajajara: corpo mutilado, no ano de 2016, terra Morro Branco, Grajaú

José Colírio Oliveira Guajajara: assassinado a tiros, no ano de 2016, terra Cana Brava, Barra do Corda

Fernando Gamela: morto a tiros, no ano de 2016, terra Gamela, em Viana

Sayrah Ka’apor: morto a facadas, no ano de 2017, terra Alto do Turiaçu, Centro Novo do Maranhão

Paulo Paulino Guajajara: morto a tiros, no ano de 2019, terra Araribóia, em Bom Jesus das Selvas

Zezico Rodrigues Guajajara: encontrado morto com marca de tiros, no dia 31 de março de 2020, na estrada da Matinha, em Arame.

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