Artigo

Nosso primeiro romancista

José Neres, Professor. Membro da AML e da Sobrames

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Muitos são os talentosos escritores maranhenses que se dedicaram à criação de obras de ficção no formato estrutural de romance. Autores como Maria Firmina dos Reis, Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Lucy Teixeira, João Mohana, Josué Montello, Conceição Aboud, Arlete Nogueira e José Louzeiro consolidaram seus nomes não apenas na província natal, mas também em todo o território brasileiro, alguns alcançando inclusive fama internacional.

No entanto, mesmo havendo um número relativamente grande de romancistas, ainda são raros os estudos acerca dessa produção intelectual. De certa forma, as letras maranhenses ainda podem ser vistas com um fértil terreno para as pesquisas em seus mais diversos matizes. Diversos são os narradores maranhenses que estão no esquecimento e cujas obras clamam por um estudo mais aprofundado.

Em termos cronológicos, o primeiro romance escrito por um maranhense seria o livro “Memórias de Agapito Goiaba”, de autoria de Gonçalves Dias, nos inícios dos anos de 1840, porém, por conta de uma possível censura, já que o livro traria revelações acerca de pessoas que ainda estavam vivas na época, o poeta recuou e deu fim aos originais, havendo circulado apenas alguns capítulos esparsos pela capital maranhense, como informou o biográfico Antônio Henriques Leal.

Provavelmente, então, dada a desistência de Gonçalves Dias de trazer à luz seu romance autobiográfico, cabe a João Clímaco Lobato o posto de haver sido (até se prove o contrário) o autor do primeiro romance escrito e publicado em terras maranhenses, pois em 1856, com apenas vinte e sete anos de idade, ele trouxe a público o romance intitulado “O Diabo”, ambientado no período da Balaiada e que trata das superstições e medos impostos às crianças com relação à figura do demônio, que tem o nome usado pela personagem Carlos, como forma de aterrorizar seus desafetos. Como se trata de uma obra de cunho romântico, o par formado por Carlos e Josina, remete a um final feliz. Segundo consta na tese da professora Antônio Pereira de Sousa, o livro foi bem recebido em Pernambuco, porém praticamente ignorado em terras maranhenses.

Figura hoje bastante ignorada até mesmo pelos pesquisadores da literatura maranhense, João Clímaco Lobato nasceu no dia 06 de agosto de 1829. Homem voltado para as leis e para as letras, ele foi, além de prosador, advogado, juiz municipal, jornalista, professor, procurador fiscal e teatrólogo. Além do supracitado romance, João Clímaco Lobato publicou também “A virgem da tapera”, “O rancho de Pai Tomé”, “O Cego de Ipujucã”, “e “Mistérios da Vila de São Bento”.

Nitidamente inspirado no livro “A cabana do “Pai Tomas”, publicado na década anterior por Harriet Beecher Stowe, o escritor maranhense publicou em forma de folhetins capítulos de seu “O rancho de Pai Tomé ou a escravatura no Brasil”, no qual ressaltava as condições precárias em que viviam os negros escravizados e cogitava um levante sangrento dos oprimidos contra os opressores. A ideia não foi bem vista pela sociedade da época e a publicação acabo sendo interrompida.

Como teatrólogo, o autor deixou peças como “Maria, a doida ou justiça de Deus”, “A neta do pescador”, “Mãe d’água”, “Paranguira” “O diabinho em meu quarto” e “Duas fadas”, além de haver adaptado seu romance de estreia para os palcos.

Alguns estudos ainda inconclusos apontam que possivelmente o pioneirismo desse autor (falecido em 1897, aos 68 anos) nas searas da prosa tenha tido início anos antes da publicação de “O Diabo”, quando ele teria publicado “A Cigarra Brasileira”. Mas de qualquer forma trata-se de um nome que mereceria ser mais explorado pelos pesquisadores.

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